As universidades de São Paulo são alvo de uma CPId+ “não temos medo, prestamos contas a todos os órgãos de controle”, diz Marcelo Knobel, reitor da Unicamp
É falso o entendimento de que as universidades são um “celeiro” da esquerda, retórica usada pelo governo do presidente Jair Bolsonaro, avalia o reitor da Unicamp, Marcelo Knobel, em entrevista ao jornal Valor Econômico. “Quem frequenta o meio acadêmico sabe que há muita gente de esquerda e também de direita. O que é preciso é respeito às opiniões divergentes e privilegiar a liberdade de expressão”, afirma.
Knobel assumiu este ano a presidência do Conselho de Reitores das Universidades Estaduais Paulistas (Cruesp), que além da Unicamp agrega também a USP e a Unesp. Ao jornal, ele comentou as últimas ações do ministério da Educação, como o corte de recursos imposto às instituições federais de ensino. Ele ressalta que questões ideológicas não deveriam ser usadas como norteadoras da política de educação.
Por contarem com receitas do estado de São Paulo, Unesp, Unicamp e USP não são afetadas pelo contingenciamento de 30% anunciado nesta semana pelo governo. O reitor informou que a Unicamp deve fechar este ano com um déficit de R$ 169 milhões, que pelo terceiro seguido deve ser coberto com as reservas estratégicas da instituição. “Temos hoje o mesmo nível de repasses de 2009 para uma universidade que cresceu e tem outro tamanho”, observa.
Há duas semanas, a Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) criou uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar supostas irregularidades na gestão das universidades públicas paulistas.
“Não temos nenhum medo em relação à CPI. Prestamos contas a todos os órgãos de controle. Me parece que há uma falta de conhecimento sobre o funcionamento das universidades públicas e, às vezes, certas declarações midiáticas que não correspondem à realidade”, afirmou o reitor.
Unesp, Unicamp e USP recebem hoje, conjuntamente, 9,57% da arrecadação do ICMS do estado, o que equivale a R$ 9 bilhões. Esse repasse que foi estabelecido há 30 anos pelo então governador Orestes Quércia, que também estabeleceu total liberdade para as três instituições gerirem os recursos.
Knobel criticou as recentes declarações do ministro da Educação, Abraham Weintraub, de que há um estudo para diminuir recursos dos cursos de filosofia e sociologia em detrimento de faculdades que supostamente gerem mais retorno, como engenharia. “Todos os países que fizeram isso voltaram atrás”, enfatiza.
Outra preocupação do reitor, que pode atingir tanto as universidades federais quanto as estaduais, é a possibilidade de cobrança de mensalidades. Este é, inclusive, uma das ações propostas pela CPI de São Paulo. Na opinião de Knobel, cobrar mensalidades em universidades públicas é uma falsa solução para sanar o déficit nas instituições de ensino. Ele cita o exemplo do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), onde “apenas 10% do orçamento é bancado por mensalidades, o resto é dinheiro público”.
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