Mais de 4 mil cientistas de todo o mundo assinam manifesto de solidariedade à Sociologia no Brasil

As ameaças do governo brasileiro de cortar verbas dos cursos de Sociologia e Filosofia das universidades públicas nacionais geraram indignação entre pesquisadores e intelectuais mundo afora, informa o Jornal da Ciência. Em uma mobilização massiva, e pouco usual, mais de 4 mil cientistas e intelectuais espalhados por todos os continentes assinaram uma carta aberta de solidariedade aos sociólogos do Brasil.

A iniciativa partiu de sociólogos dos Estados Unidos e em menos de uma semana conquistou apoio de milhares de professores, pós-graduandos, pós-doutorandos e outros acadêmicos do mundo todo.

O documento ressalta relevância da disciplina para o desenvolvimento humano e social global e destaca a importância das colaborações entre as instituições e pesquisadores internacionais com o Brasil. Os signatários declaram “apoio inabalável” ao financiamento contínuo de programas de sociologia nas universidades brasileiras.

“A intenção do presidente Bolsonaro de cortar verbas dos programas de sociologia é uma afronta à disciplina, à academia e, de maneira mais ampla, à busca humana do conhecimento. Essa proposta é mal concebida e viola princípios de liberdade acadêmica que devem ser parte integrante de sistemas de educação superior no Brasil, nos Estados Unidos e em todo o mundo. Instamos o governo brasileiro a reconsiderar sua proposta”, atestam na carta.

Para subscrever o documento, publicado em inglês, basta acessar este link e preencher um breve formulário.

Leia abaixo a tradução da carta:

CARTA ABERTA DOS SOCIÓLOGOS DOS EUA E DO MUNDO EM APOIO AOS DEPARTAMENTOS DA SOCIOLOGIA BRASILEIRA

No dia 25 de abril, o presidente brasileiro Jair Bolsonaro, juntamente a seu ministro da educação, Abraham Weintraub, declarou a intenção do governo de “descentralizar investimentos em filosofia e sociologia” nas universidades públicas e transferir o apoio financeiro para “áreas que dão retorno imediato aos contribuintes, como ciência veterinária, engenharia e medicina.”

Como professores, pesquisadores, pós-graduandos, pós-doutorandos e outros acadêmicos em sociologia e disciplinas relacionadas em faculdades e universidades dos Estados Unidos e do mundo todo, escrevemos para declarar nosso apoio inabalável ao financiamento contínuo de programas de sociologia nas universidades brasileiras. Nós nos opomos à tentativa do presidente Bolsonaro de desinvestir na sociologia, ou qualquer outro programa nas ciências humanas ou sociais.

Como sociólogos históricos e contemporâneos, entendemos que a mercantilização de décadas do ensino superior convenceu muitos políticos – no Brasil, nos Estados Unidos e no mundo – de que uma educação universitária é valiosa apenas na medida em que é imediatamente lucrativa. Nós rejeitamos essa premissa.

O objetivo do ensino superior não é produzir “retornos imediatos” sobre os investimentos. O objetivo do ensino superior deve sempre ser o de produzir uma sociedade educada e enriquecida que se beneficie do esforço coletivo para criar o conhecimento humano. O ensino superior é um propósito em si.

Uma educação em todos os espectros de artes e ciências é a pedra angular de uma educação em artes liberais. Isso é tão verdadeiro no Brasil quanto nos Estados Unidos e em qualquer outro país do mundo.

Os departamentos de sociologia brasileiros produzem pensadores socialmente engajados e críticos, tanto no Brasil quanto no mundo. Os sociólogos brasileiros contribuem para a produção global do conhecimento sociológico. Eles são nossos colegas dentro da disciplina e dentro de nossos departamentos compartilhados e instituições. Quando sociólogos do exterior realizam pesquisas ou outros trabalhos acadêmicos no Brasil, somos bem recebidos pelos sociólogos brasileiros e por seus departamentos. Muitos de nossos próprios alunos recebem treinamento de nível internacional em sociologia nas universidades brasileiras.

A intenção do presidente Bolsonaro de cortar verbas dos programas de sociologia é uma afronta à disciplina, à academia e, de maneira mais ampla, à busca humana do conhecimento. Essa proposta é mal concebida e viola princípios de liberdade acadêmica que devem ser parte integrante de sistemas de educação superior no Brasil, nos Estados Unidos e em todo o mundo. Instamos o governo brasileiro a reconsiderar sua proposta.

As informações são do Jornal da Ciência