Ex-presidente do IBGE reitera que os cortes inviabilizam o funcionamento de algumas instituições: “se mantiverem, minimamente, as luzes acesas, vão ter que fechar”
Em entrevista ao jornal O Globo, o professor Nelson Cardoso Amaral, do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Goiás, alertou para a situação crítica vivida pelas universidades federais com o corte de 30% determinado pelo governo.
“As universidades não concluirão o ano sem luz, telefone. Vai ser o caos. E o governo enfrentará uma grande reação, inclusive internacional. O mundo dá importância à nossa produção científica, que é, em boa parte, feita em universidades federais. A sociedade brasileira apoia as universidades federais”, afirmou o professor.
O contingenciamento é uma medida é autoritária, avalia, que não poderia ser realizada sem passar pelo Congresso, o qual já aprovou o orçamento das instituições de ensino superior. “O Executivo quer bloquear e não pode fazer isso sem o aval do Legislativo. Continuando assim, as universidades não conseguirão funcionar até o final do ano. Param em setembro ou outubro. É uma aberração. As universidades federais são um patrimônio da sociedade, não podem ser jogadas no lixo”, critica o professor.
Cortes sem critério
Os cortes do governo na educação estão sendo feitos sem nenhum critério. A avaliação é do ex-presidente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e pesquisador do Instituto de Estudo de Políticas Econômicas Casa das Garças, Simon Schwartzman. Em entrevista ao O Globo, ele criticou os cortes anunciados pelo governo federal.
“Claro que o país está em uma situação de aperto financeiro, mas esses cortes gerais, sem olhar a situação de cada caso, são muito preocupantes. Pode ser que em algumas instituições haja mais gordura do que em outras. Não é uma boa política cortar desse jeito. Se tiver que cortar, isso tem que ser feito com critério, não pode ser uma regra geral. Cortes generalizados nunca são boas políticas”, analisa.
Schwartzman observa que os cortes afetam a verba de custeio das universidades, não atingem os gastos fixos e a parte de pessoal. Os gastos fixos com pessoal correspondem a 90% dos custos, ou seja, “o governo está cortando um terço dos outros 10%, que é o que elas precisam para pagar conta de luz, telefone, entre outras. Isso pode sim inviabilizar o funcionamento de algumas instituições. Se mantiverem, minimamente, as luzes acesas, vão ter que fechar”.
Em contrapartida, ressalta, o governo perdoou dívidas da área rural e reduziu impostos da área da zona franca de Manaus. “Há outras áreas em que o governo está muito mais leniente, seja não cortando gastos ou permitindo que os impostos não sejam pagos. É uma questão de onde está a prioridade do governo”, conclui.