Falta de creche no campus dificulta dia a dia de mães na UFSC

O trânsito engarrafado do entorno da universidade é mais um empecilhod+ problema afeta em diferentes graus professoras, servidoras e estudantes

A falta de uma creche dentro da UFSC que atenda a toda a comunidade universitária, a insuficiência de vagas na rede pública e o trânsito complicado são fatores que dificultam o cotidiano das mães que trabalham e estudam na universidade.

Conseguir uma vaga no Núcleo de Desenvolvimento Infantil (NDI), projeto de ensino, pesquisa e extensão da UFSC, no sorteio aberto ao público, é uma alegria para poucas.

“Tentei todas as vezes e nunca consegui”, conta a professora Clarissa Laus Pereira Oliveira, do departamento de Metodologia de Ensino do CED. Até o final de 2016, ainda havia a opção do Centro de Educação Infantil  (CEI) Flor do Câmpus, onde a filha, Maria Cândida, de sete anos, estudou nos primeiros anos. “Tinha uma estrutura simples mas com um espaço ao ar livre maravilhoso e eu trabalhava ali ao lado, o acesso era rápido”.

O CEI Flor do Câmpus foi desativado em 2016 depois que o Ministério Público constatou situação irregulard+ a escola era uma empresa privada que funcionava, sem qualquer contrato, em local cedido pela UFSC. Nos últimos anos, a escola, que atendia cerca de 80 crianças, a maioria filhos de professores da UFSC, era administrada por uma associação de pais.

Com o fechamento do CEI, a professora Clarissa matriculou a filha em uma escola no Córrego Grande e as idas e vindas para levá-la e buscá-la tornaram-se parte da rotina.  Clarissa vê o problema além da sua situação particular, de professora da UFSC, e sabe que ele afeta todas as mães trabalhadoras e estudantes.

A insuficiência de vagas nas creches na rede pública é uma realidade – em 2016 o déficit já estava em 2 mil vagas,  de acordo com o relatório Sinais Vitais daquele ano, produzido pelo Instituto Comunitário da Grande Florianópolis. “A região da Trindade, principalmente, é carente de vagas nas creches. A própria Prefeitura procurou uma vez o Flor do Câmpus em busca de alguma parceria”, recorda.

Logo que o Flor do Câmpus fechou, Clarissa e outras professoras que também tinham filhos no CEI se uniram para pleitear a criação de uma creche naquele espaço junto à reitoria da UFSC, sem sucesso. É o caso da professora Kalina Salaib Springer, colega dela no CED.

“Reivindicamos a regularização daquele espaço junto às gestões passada e atual da reitoria, conversei com vários pró-reitores. Nunca houve vontade política”, conclui Kalina. Quando o Flor do Câmpus fechou as portas, ela matriculou o filho Lucca, então com um ano de idade, em uma escola no Santa Mônica, mas ele não se adaptou.

Hoje com três anos, ele estuda em uma escola no bairro Pantanal. Tanto Clarissa quanto Kalina recordam com saudade do tempo em que tinham os filhos perto de si, no mesmo ambiente da universidade.

“Era uma facilidade, conseguia amamentar. Qualquer febre, em dois minutos estava lá”, conta Kalina. “Isso tudo interfere na qualidade de vida das mães – servidoras, professoras e estudantes  e reverbera no trabalho”. No caso das estudantes, destaca, a situação é ainda mais crítica: “muitas têm que trancar os cursos porque não podem pagar uma creche”.

Kalina também relata as dificuldades vividas por colegas professoras em cursos noturnos, que dependem da ajuda de parentes e, eventualmente, têm que pagar uma babá para poder trabalhar.  Na opinião de Kalina, a universidade deveria estar atenta a essas especificidades. “Falta um olhar da universidade para aquelas que dão aula à noite”.

Em relação às servidoras, com turno de seis horas, avalia, deveria haver flexibilização do horário para compensar a falta de turno estendido nas escolas. “Assim, as mães poderiam ficar pelo menos um período do dia com os filhos ao invés de colocá-los no turno integral”.

Kalina se solidariza com as alunas que são mães e não têm com quem deixar os filhos e conta que sempre as acolhe na sala de aula junto com as crianças. Cita o exemplo das mães dos cursos de licenciatura intercultural e educação no campo, que intercalam 15 dias na universidade e o mesmo período em suas comunidades e que levam os filhos para a sala de aula por não terem onde deixá-los. “O Flor ficava com essas crianças”.

O grupo de mães que se mobilizou na época do fechamento do CEI se desfez. “O Flor do Câmpus foi um bom tempo, mas acabou, temos que ver o lado positivo da UFSC. A universidade tem muito a nos oferecer”, diz a professora Clarissa. Ela sugere que a UFSC promova palestras sobre temas que interessam às mães.

“Por que não promover um curso de nutrição infantil? Por que a medicina não oferece um curso sobre como reforçar o sistema imunológico? Que tal um curso sobre literatura infantil? Sinto falta disso como mãe. A UFSC tem recursos humanos especializados e poderia organizar esses encontros praticamente sem custos. Ficamos muito limitadas à sala de aula, às nossas pesquisas e não usufruímos da universidade”, diz Clarissa.


L.L.