Em julho, cursos com duas notas 4 consecutivas podem ter benefícios cancelados
A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) estuda novos cortes nas bolsas destinadas a pesquisa no país, segundo informações do jornal O Globo.
Em uma reunião no dia 28 de maio, em Brasília, a diretora de Programas e Bolsas da instituição, Zena Martins, apresentou uma estimativa de cortes para julho de até 30% nos cursos com duas notas 4 consecutivas. As notas variam de 1 a 7, sendo nota 3 o critério mínimo para o credenciamento de um curso.
Oficialmente, porém, a Capes afirmou ao Globo que não há previsão de novos congelamentos e que a apresentação feita por sua diretora era apenas “um estudo de possibilidades, apresentado a representantes de instituições de ensino superior , diante da necessidade de contingenciamento “.
Os cortes anunciados pela agência em 4 de junho, quando bloqueou 2,7 mil bolsas de cursos nota 3 , também estavam previstos no estudo apresentado uma semana antes por Zena Martins no encontro.
A diretora da Capes levantou ainda a possibilidade de “ajuste da cota de bolsas de Pró-reitorias”, o que na prática pode significar o corte de até 532 bolsas que podem ser alocadas em qualquer programa, à escolha das instituições de ensino superior. As bolsas excedentes dessa modalidade na região Norte seriam remanejadas para outros programas “de áreas prioritárias”, que seriam definidas pelo Fórum Nacional de de Pró-reitores de Pesquisa e Pós-graduação (Foprop). Nesse contexto, universidades como a Federal do Pará (UFPA) poderiam perder mais de 200 bolsas.
A Capes prevê ainda “ao longo do ano”, a possibilidade de suspensão do fomento à pós-graduação até 2020, o que impactaria programas como o Programa de Apoio a Eventos no País (Paep), o Doutorado Interinstitucional (Dinter), e o Programa Nacional de Cooperação Acadêmica na Amazônia (PROCAD Amazônia), que é usado para fortalecimento da pós-graduação na Região Norte. O apoio a custeio de Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa também ficaria em risco.
Amazônia Legal
No caso do corte nos cursos nota 4 , seriam afetadas 15% das bolsas pertencentes à região da Amazônia Legal , que abrange territórios de cerca de nove estados, e 30% nas demais regiões do país. Entrariam no corte aqueles que tivessem mantido a nota em duas avaliações, em 2013 e 2017.
A possibilidade de cortes de bolsas desse padrão alarmou a área e algumas universidades já começaram a fazer os cálculos do impacto. NaUniversidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), a nova leva de bloqueios ocasionaria o congelamento de mais 38 bolsas de mestrado e 23 de doutorado, o que, segundo a instituição, gera “apreensão crescente”.
“Os cursos nota 4 não são ruins, têm uma avaliação boa. Em muitas regiões do país os únicos doutorados disponíveis têm nota 4. É uma contradição entender que esses cursos têm condições de manter um doutorado e ao mesmo tempo não merecem manter sua cota de bolsas. Esses são programas que estão lutando para se consolidar, especialmente em regiões menos favorecidas. É importante que a gente preserve”, afirmou o pró-reitor de pesquisa da UFRRJ, Alexandre Fortes.
Segundo a pró-reitora de Pesquisa, Pós-graduação e Inovação da Universidade Federal Fluminense (UFF), Andrea Latge, há um clima de incerteza na universidade em relação à concessão dos benefícios aos cursos de nota 4. “Soubemos que em julho aconteceria o congelamento dos cursos nível 4, mas depois houve uma entrevista do presidente como se não fossem ocorrer novos cortes. Então, estamos sem saber. Caso aconteça, acho que será muito prejudicial. Um curso nota 4 é bem mais estabelecido. O pior é tirar o alento dos estudantes que vão cada vez menos pensar em fazer mestrado e doutorado, porque a situação está cada vez mais crítica”, disse Latge.
Pró-reitora da área na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), Evelyn Dill Orrico afirma que a “comunicação dúbia” da Capes prejudica o planejamento das instituições de ensino. “O planejamento acaba, é preciso se reinventar a cada dia, e no âmbito da pesquisa um planejamento a médio e longo prazo é crucial. Isso para os estudantes e para os pesquisadores é desesperador, e para quem está na gestão é um modus operandi angustiante”, afirmou.
As informações são do jornal O Globo