O Globo entrevistou pesquisadores integrantes da Academia Brasileira de Ciências sobre os efeitos do contingenciamento e dos cortes de bolsas de estudo nas pesquisas do país
Diante do cenário de corte de recursos para a ciência, O Globo decidiu entrevistar dez pesquisadores integrantes da Academia Brasileira de Ciência sobre como é fazer pesquisa no Brasil hoje. Oito anos atrás, quando os pesquisadores brasileiros viviam um “momento de pujança”, colhendo os resultados dos investimentos de décadas, o jornal fez uma enquete com cem pesquisadores da Academia. E agora escolheu dez deles para voltar a entrevistá-los sobre as atuais condições da ciência brasileira.
Com o bloqueio de recursos imposto pelo governo a todas as áreas, o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações foi uma das pasta mais afetadas: 42% do orçamento foi cortado, situação que o ministro Marcos Pontes vem tentando reverter.
Na edição desta segunda-feira (17), o jornal carioca publicou entrevista conjunta com os dez pesquisadores selecionados para a reportagem, perguntando a eles de que forma a ciência brasileira está sendo afetada pelos cortes.
Sete dos dez pesquisadores afirmam que, nos últimos oito anos, a qualidade da produção científica brasileira melhorou. No entanto, para nove deles, a possibilidade de se fazer pesquisa só piorou desde o começo de 2019.
Nos últimos oito anos, “houve um progresso, mas isso se deve a investimentos que já estavam garantidos no passado. Agora, diante dos cortes, é possível que a qualidade seja comprometida”, respondeu Dário Zamboni, professor da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto.
Questionada sobre se a qualidade da pesquisa foi atingida pela crise econômica, Úrsula Matte, professora do Departamento de
Genética da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul
, avalia que sim. “A força de trabalho são os estudantes, que estão extremamente desmotivados com o corte de bolsas. As universidades estão sucateadas, ninguém tem certeza se haverá financiamento para continuar a pesquisa por muito tempo. Além disso, os problemas que tínhamos antes, como a dificuldade para importação de reagentes, não foram resolvidos.
Na hora de citar um ponto fraco da ciência brasileira, Camila Indiani, pesquisadora do Instituto Gonçalo Muniz (Fiocruz /Bahia), afirma que é um erro financiar só as pesquisas aplicadas. “O país tem que incentivar não apenas as áreas que podem gerar produtos, mas todas as que fazem a ciência avançar no conhecimento. Precisamos de gente pensante em geografia, história, letras, filosofia. O que fazer num país onde há apenas químicos, físicos, matemáticos? Nossos problemas são plurais”.
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