O projeto “Viva UFRJ” prevê a construção de redes de hotéis e hospitais, mas o Hospital Universitário Clementino Fraga Filho ficou de fora das contrapartidas, critica o jornalista Elio Gaspari em O Globo
A Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) trabalha com o BNDES e o banco Fator na modelagem de uma licitação para conceder, por até 50 anos, 485 mil metros quadrados de terrenos na ilha do Fundão e na praia Vermelha. Trata-se do projeto imobiliário batizado de “Viva UFRJ”, que prevê a construção de shoppings, redes de hotéis e de hospitais na área concedida da instituição.
O BNDES e a UFRJ garantem que tudo será feito em processo licitatório, com o devido debate, diz o jornalista Elio Gaspari, em sua coluna no jornal O Globo publicada no último domingo (7) com o título: “A privataria ameaça a UFRJ”.
A nova reitora da UFRJ, Denise Pires, que tomou posse no dia 2 de julho, anunciou que pretende obter novas receitas com este projeto. Ela avalia que a iniciativa, prevista em projeto da gestão passada, pode ajudar a compensar a crise porque passa a universidade. A reitora assumiu o cargo com um déficit de 170 milhões no orçamento – apenas a conta de água está atrasada em 24 meses. E a situação foi agravada ainda mais com os cortes no orçamento da instituição.
Segundo a UFRJ, pelo projeto o cessionário disporá dos terrenos de acordo com seus interesses e a “vocação imobiliária” das áreas: “Provavelmente essas vocações estão associadas à ocupação para residências, comércio ou serviço. Há possibilidade de haver centros de compras ou de convenções, supermercados ou hotéis”.
O edital que licitou o pregão que contratou do banco Fator foi mais específico. Em duas ocasiões mencionou a possibilidade de uso dos terrenos para “condomínios corporativos, (…) redes de hotéis, redes de hospitais e redes de ensino”, salienta Gaspari.
O que se prepara é um amplo projeto capaz de captar dinheiro para a Universidade, afetada pelo contingenciamento de verbas pelo governo. Pelo projeto, como contrapartida à cessão dos os terrenos, os parceiros devem construindo prédios, restaurantes e alojamentos na área da universidade. Também estaria em vista a eventual criação de um “Fundo de Investimento Imobiliário” que ficaria encarregado de gerir o conjunto das operações.
A universidade já antecipou, no entanto, que “o Hospital Universitário Clementino Fraga Filho não entrou nas contrapartidas pois estimativas preliminares indicaram que o custo da obra não cabe no projeto”.
“O “Clementino Fraga” é um grande hospital, público, símbolo de uma época em que a UFRJ sonhava grande. Hoje ele é o retrato de uma realidade ruinosa. O doutor Clementino, tio-avô de Armínio Fraga, foi um grande reitor da universidade no ano bicudo de 1968. Ele não merece que seu hospital público seja o que é, enquanto a centenas de metros do seu gabinete da Praia Vermelha, reluza um grande hospital para endinheirados”, critica Gaspari.
Confira: O Globo