Educadores criticam proposta de escolas cívico-militares

O Ministério da Educação planeja construir 108 unidades escolares cívico-militares e melhorar 112 já existentes, investindo R$ 40 milhões nesse modelo nos próximos quatro anos

O Ministério da Educação pretende implementar 108 escolas “cívico-militares” em todos os estados do país até 2023. A meta faz parte do plano para a educação básica apresentado na quinta-feira (11) pela pasta. Além da construção de novas unidades, das 203 escolas já existentes o MEC pretende fortalecer, com recursos, 112 até 2023. No total, serão investidos R$ 40 milhões por ano com as escolas novas e as “fortalecidas”.

Especialistas em educação ouvidos pelo jornal O Globo criticam o fato de o governo priorizar a implementação de escolas cívico-militares em detrimento de outras questões mais urgentes, como a valorização de professores. 

A educadora Cláudia Costin, diretora do Centro de Excelência e Inovação em Política da Fundação Getulio Vargas (Ceip-FGV), questiona a prioridade de investimento definida pelo governo: “Estamos na quarta revolução industrial, vamos competir com robôs e robotizar mais as crianças e os adolescentes. Isso pode parecer interessante no curto prazo, para conseguir disciplina na escola, mas as escolas de tempo integral em Pernambuco estão conseguindo resultados melhores sem fazer isso. Não acho que construir 108 escolas cívico-militares seja um bom uso de um dinheiro já escasso”.

Na avaliação dela, o MEC poderia concentrar esses esforços em valorizar os docentes: “Falta dinheiro para dar um salário mais atrativo ao professor. A atratividade é muito baixa, então acabamos não trazendo talentos para profissão”.

O plano para a educação básica também prevê iniciativas voltadas à expansão do ensino em tempo integral e do ensino técnicod+ a possibilidade de construção de crechesd+ e o investimento em conectividade nas escolas. Para Cláudia Costin, essas são propostas urgentes para a área, mas chegam atrasadas devido a discussões “ideológicas secundárias” na pasta. Ainda assim, afirma, é positivo que o governo tenha apresentado um projeto.

O MEC afirma que o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) é superior nos colégios militares: 6,99, ante 4,94 dos civis. Especialistas dizem que isso acontece devido à concentração de investimentos e à seleção de alunos. A educadora Luciene Tognetta, coordenadora do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Moral (Gepem) da Unesp, acrescenta que a implementação do modelo contraria tendência mundial:

“É preciso a construção da educação para autonomia dos sujeitos e não para obediência e pelos castigos e punições. Pesquisas mostram que esse modelo é menos eficaz do que uma educação pautada pela liberdade. Contradiz inclusive a lei antibullying, que trabalha com cultura da paz, e a cultura da paz não se faz com a militarização, e sim com aprendizagem pela convivência.

Confira: O Globo