Ministro também apresentou custo individual por aluno errado e disse que estudantes que “desistem ao longo do curso são um fracasso”
Em entrevista ao programa Os Pingos nos Is, da Jovem Pan, no último dia 17, o ministro Abraham Weintraub declarou que os professores com dedicação exclusiva das universidades federais recebem um salário equivalente a R$140 mil por mês, já que passam “apenas” 8 horas por semana em sala de aula. É difícil acompanhar o raciocínio matemático do ministro.
A afirmação foi realizada após o ministro comparar o salário dos professores federais com os da rede de ensino básica, indicando que esses últimos passam 20 horas por semana dando aula e recebem remuneração de R$2 mil.
“Um professor de ensino básico que passa 20h por semana dando aula, isso ao longo de uma semana dá 40 ou 44 horas. O professor tem que preparar aula para se atualizar, mas do ensino básico, o professor municipal e estadual tem que ficar dentro da sala de aula 20 horas. Um professor de uma universidade federal, atenção, são 8 horas por semana. Isso é um dia por semana dando aula. Isso as pessoas não sabem. Quanto ganha um professor que está lá segurando na caneta de um aluno para escrever? Ele ganha, na média no Brasil, 2 mil reais. Quanto ganha um professor com dedicação exclusiva de uma federal? Isso é, ele só pode dar aula. Não pode fazer nada. Ele só pode dar aula, fazer pesquisa e dar aula, ele ganha de 15 a 20 mil por mês. Se você normalizar, lembrando que ele tem férias escolares, por tempo de aula que ele fica dentro de uma sala de aula é um salário, para uma pessoa que fica 250 dias úteis trabalhando 8 horas de aula por dia útil, você está falando de um salário em torno de 140 mil reais por mês”.
Para chegar a esse resultado, Weintraub desconsidera o trabalho que os professores têm ao prepararem as aulas e realizarem pesquisa, ambas fundamentais na carreira de docente, e utiliza como base apenas as horas em sala de aula para fazer o cálculo da remuneração que ele afirma ser a equivalente.
Na mesma direção de informações equivocadas, o ministro explicou que os estudantes das universidades federais custam 35 mil reais ao ano, podendo chegar até 70 mil por causa das desistências e declarou que os estudantes que desistem ao longo do curso são um fracasso. “Hoje as universidades simplesmente “ah, perdemos um aluno! “. Então, esse aluno que hoje é 35 mil, na verdade o aluno que se forma é mais que 70 mil porque menos da metade se forma”, disse.
O custo individual por aluno tem sido um dos argumentos para justificar o corte de verbas para a educação e já foi contestado por especialistas. Nas contas do MEC, cada aluno da universidade pública custaria R$ 37.551,20 por ano – quando na realidade esse aluno custa anualmente cerca de R$ 17.800,00, conforme demonstra Bielschowsky, em artigo recente onde analisa o desempenho e os custos da graduação nas IFES.
O erro fundamental, aponta o pesquisador, foi colocar na conta dos alunos todas as despesas da universidade, que vão muito além de ensino: “Ao dividir o custo total das IFES pelo número de alunos de graduação e pós-graduação stricto sensu, comete-se um erro primário, ao agregar aos custos da graduação as atividades de pesquisa científica e as de extensão, como a formação continuada dos professores da educação básica das redes públicas, o atendimento dos hospitais universitários e os colégios de aplicação”, afirma. Leia mais sobre as contestações aqui.
Veja a entrevista na íntegra: Jovem Pan