Crítico ao Future-se, Coletivo em Defesa das Humanas lança nota sobre o programa

Para o grupo, proposta foi feita sem diálogo com comunidade universitária e se fundamenta em lógica empreendedora que não se aplica a todas as áreas de conhecimento​

O Coletivo em Defesa das Humanas se manifestou sobre o Future-se, programa apresentado pelo MEC na semana passada para reestruturar o financiamento das universidades federais no Brasil. Em nota, o grupo afirma que a comunidade universitária não foi ouvida durante a elaboração do projeto e que ele não parte de um diagnóstico preciso da situação atual das IFES. Formado por estudantes e professores da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo (USP), o coletivo propõe espaços de reflexão crítica sobre temas sensíveis à sociedade brasileira.

Na apresentação do programa Future-se o MEC disse ter consultado especialistas da área durante a construção do programa. Entretanto, segundo o presidente da Andifes, Prof. Reinaldo Centoducatte, “não houve participação ou consulta dos gestores e dos membros da comunidade universitária”, algo “sem precedente”, dada a abrangência da proposta. O coletivo também afirma que o prazo estipulado para a consulta pública, 4 semanas, de início, acrescidas de mais 1 semana, é curto devido a complexidade e importância da discussão.

Outro ponto questionado pelo coletivo é o viés empreendedor, que fundamenta o Future-se, e que não é compatível com muitas áreas de conhecimento e instituições Brasil a fora. Para o grupo, o MEC não justifica de que maneira áreas com baixo potencial mercadológico –  humanidades, física teórica, astrofísica, matemática pura-, poderiam garantir sua saúde orçamentária num cenário em que o financiamento das pesquisas estaria praticamente subordinado aos valores concorrenciais do mercado.

Para o coletivo, o MEC também não aborda a causa real da crise orçamentária das universidades: a PEC 55, que prevê o congelamento dos investimentos públicos em saúde e educação por 20 anos. Segundo a nota, para defender o Future-se, o Ministério fala em “má gestão atual, “mas não apresenta provas concretas, apenas sugere que haja irresponsabilidade das instituições com o manejo de seus recursos. O texto destaca, também, a investigação da Polícia Federal que vitimou o ex-reitor da UFSC Luiz Carlos Cancellier e que foi encerrada sem nenhuma prova. 

Por fim, o grupo afirma que, ao propor autonomia financeira através de um programa como o Future-se, o MEC garante justamente o contrário. Ao vincular a captação de recursos ao mercado, aspectos que estão nos alicerces de uma universidade, como a autonomia científica e administrativa, estarão ameaçados. “Os proponentes do Future-se ignoram que a produção e a difusão do conhecimento possuem uma dinâmica própria, em muitos aspectos incompatível com a do mercado”, afirma o texto. “Parecem ignorar também a existência do Plano Nacional de Educação (PNE), que em sua meta 20 estabelece a ampliação gradual do investimento público em educação, prevendo 7% de investimento do PIB até 2019 e 10% do PIB até 2024”, conclui.

Sobre o Coletivo

Formado em abril de 2019, por estudantes de graduação, pós-graduação e professores da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo (USP), o coletivo “Em defesa das humanas” propõe a constituição de espaços de reflexão crítica, aberta e pública sobre temas sensíveis à sociedade brasileira, por meio do compartilhamento de pesquisas em desenvolvimento e do oferecimento de panoramas que auxiliem a população na compreensão de fenômenos complexos que permeiam a vida política, social e cultural do país. (https://www.facebook.com/emdefesadashumanas/ )

Leia mais em: Jornal da Ciência, Em Defesa das Humanas