Até o fim desta semana, o presidente vai assinar Medida Provisória que esvazia a carteirinha de estudante, que garante meia entrada em shows e cinemas e é a principal fonte de renda das entidades estudantis
O presidente Jair Bolsonaro deve assinar no final desta semana uma Medida Provisória que trata da criação de uma carteira de identidade digital para estudantes, informa a Folha de São Paulo. Batizada de MP da liberdade estudantil, a iniciativa tem o objetivo de esvaziar a carteirinha emitida por entidades estudantis, como a UNE (União Nacional dos Estudantes), afirma a Folha.
O governo vem estudando desde o início do mandato criar uma carteira de identificação de estudantes com este fim. Isso porque Bolsonaro e seus aliados são rivais da UNE —controlada há anos pelo PCdoB— e de outras entidades estudantis, observa o jornal. A carteira de estudante, que garante meia entrada em cinemas e espetáculos, é a principal fonte de renda dessas organizações.
Uma lei de 2013, sobre o benefício do pagamento de meia-entrada, garante a emissão apenas à UNE, à Ubes (União Nacional dos Estudantes Secundaristas) e à ANPG (Associação Nacional de Pós-Graduandos).
O trabalho de criação da carteira de estudante digital foi iniciado pelo ex-presidente do Inep, Marcus Vinicius Rodrigues, que elegeu o tema como uma das prioridades dos primeiros 100 dias de governo. A demissão de Marcus Vinicius do instituto em meio à crise que culminou com a saída de Ricardo Vélez Rodríguez —substituído por Abraham Weintraub. O projeto ainda teve atrasos porque o MEC insistiu com a área técnica do Inep para ter acesso aos dados individuais dos estudantes, o que contraria o sigilo das informações coletadas para estatísticas oficiais da educação no país.
Em abril, o secretário de Educação Superior do MEC, Arnaldo Barbosa de Lima Júnior, encaminhou ofício ao Inep em que pediu acesso à base dos Censos da Educação Básica e Superior para a criação da Identidade Estudantil Digital. “É fundamental que o MEC possa acessar os dados identificados”, diz ofício levado ao Inep, e obtido pela Lei de Acesso à Informação pela liderança do PSOL. A diretoria de Estatísticas Educacionais do Inep negou o acesso às bases de dados sob o argumento de que as informações são coletadas para outra finalidade. O acesso poderia abalar a confiança da população no instituto.
O episódio colaborou com a demissão de Elmer Vicenzi, que havia assumido a presidência do Inep em substituição a Marcus Vinicius. Vicenzi teve divergências com a Procuradoria do órgão após tentar obter um parecer que liberasse o acesso às informações. A ideia para a criação da carteirinha como forma de enfraquecer as entidades estudantis havia surgido ainda na transição do governo.
Procurado, o Ministério da Educação não quis dar mais informações sobre a MP. Disse apenas que ela deve ser assinada em uma cerimônia na sexta-feira (6). O tema foi discutido nesta segunda-feira (2) por Bolsonaro e Weintraub. Na quinta-feira (5), Bolsonaro deve assinar um decreto que regulamenta o programa de ampliação do ensino cívico-militar no Brasil.
De acordo com o MEC, o decreto tratará da adesão das redes municipais e estaduais ao plano de implementação de escolas militares no país —uma das bandeiras de Bolsonaro para a educação.
Confira: Folha de São Paulo