O documento pede por mais tolerância e estrutura, como salas de amamentação e trocadores
Brasileiras escreveram uma carta aberta à comunidade científica pedindo que os congressos incluam também profissionais que são mães e seus bebês. O manifesto fez com que as mulheres criassem um grupo, chamado de Observatório Cajuína, que atua no contato com instituições e eventos para a inclusão de mães na ciência. A reportagem da Galileu revela algumas das dificuldades que pesquisadoras que também são mães enfrentam no meio acadêmico, como a falta de estrutura básica nos eventos científicos que garantam o bem estar da mãe e da criança.
O texto argumenta que na nossa cultura “tarefas que envolvem cuidado com os filhos ainda são vistas como essencialmente femininas” e logo, “excluir crianças [dos congressos] é excluir mulheres”, afirma. “É preciso lembrar que existem bebês que ainda mamam, não podem ficar tanto tempo longe da mãe”, diz o documento. “Existem mães solo, existem mães sem rede de apoio, existem crianças que não conseguem ficar com outras pessoas por muito tempo”.
O manifesto reivindica ainda estruturas básicas durante os eventos científicos, como salas de amamentação e trocadores, e pede por “garantia de livre amamentação em todos os locais do evento” e “tolerância à imprevisibilidade que a presença de uma criança gera”.
A ideia de criar a carta aberta partiu, não por acaso, de uma situação discriminatória: Tauane Paula Gehm, psicóloga, mestre e doutora pela Universidade de São Paulo (USP), queria se inscrever em um encontro de psicologia. Mesmo o evento tendo temática feminista, a organização negou a possibilidade dela levar o seu filho pequeno, Emanuel.
A psicóloga clínica Fernanda Libardi, também da USP, conta à GALILEU que ela e suas colegas do observatório saíram em defesa de Gehm e contestaram a organização do evento. “Eles voltaram atrás e permitiram a participação de bebês, mas ficou claro para nós que faltava uma preocupação no meio científico com a inclusão de mães”, relata Libardi.
Exclusão institucionalizada
Ana Torres, mestre e doutora pela USP em neurociências e comportamento, conta que teve seu primeiro filho durante o doutorado – e a partir daí chegou a trabalhar 80 horas semanais e sem noites de sono decentes.
“Era esperado que eu trabalhasse igualzinho como se não tivesse filhos, como se não estivesse grávida”, afirma Torres. “Às vezes parece que você cai da borda da terra quando vira mãe, deixa de existir em diversos sentidos e eu deixei de existir pra comunidade acadêmica da nossa área.”
As mulheres do Observatório Cajuína seguem entrando em contato com instituições científicas para que os congressos incluam mais as mulheres que são mães. Elas têm um canal aberto, por meio do email [email protected], pelo qual mães e pais podem se comunicar para que o grupo inicie uma negociação acerca de determinado evento – o nome da pessoa é mantido em sigilo.
Leia na íntegra: Galileu