Armando Lisboa e Paulo Pinheiro Machado – os dois candidatos a presidente da Apufsc – atuaram juntos na defesa da última greve que tão negativamente afetou a UFSC e ajudou no esvaziamento de nosso sindicato. Aquele desastre elucidou para muitos o quanto o “movimento sindical” estava viciado e precisava mudar. Na eleição passada depositei a cédula na urna reconhecendo a importância do sindicato, mas não dei meu voto ao Armando.
Depois, como diz Drummond, veio a vida e seus maquinismos que sempre produzem surpresas. Ocorreu uma divisão na atual diretoria e, como muitos outros, também saí em defesa do Armando naquele conhecido “abaixo-assinado” destinado a democratizar a Apufsc e impedir a tentativa de golpe que alguns pretendiam forçando a renúncia do presidente. Por duas vezes, em minha casa, juntamente com outro companheiro, bebemos vinho e convencemos Armando a não renunciar quando em uma oportunidade, já tinha inclusive a carta-renúncia em caráter irrevogável, prontinha.
Portanto, como tantos outros, não vacilei em apostar na renovação sindical. Mas não votarei no Armando porque ele simplesmente não representa a renovação sindical. A tentativa de beatificá-lo, por parte de alguns devotos, não pode convencer ninguém, pois também Armando cometeu graves erros no exercício da presidência, mesmo quando atuava orientado por um princípio de bondade.
A “nova linha jurídica” destinada a recuperar a URP é, até agora, um rotundo fracasso e as possibilidades futuras são mesmo muito reduzidas. Ninguém fala mais em extensão administrativa da URP, nem mesmo Armando que, no passado, mostrou certa simpatia pela via local. O lamentável episódio do controle pessoal e familiar do talão de cheques de nossa entidade, o apoio a um candidato a prefeito das eleições na capital, entre outros, revelam que todos podem cometer erros e que a simplificação política que supõe uma escolha entre os “bons” e os “maus”, atualmente dominante, não é boa conselheira.
Por que a chapa Renovação encabeçada pelo Armando não representa a mudança? Há bons companheiros nas duas chapas, indiscutivelmente. Tenho profunda estima e admiração por vários deles (Edgar, Paulo, Vânia – VP – Portanova, Fletes, Nilton – R – entre outros). A decisão não pode ser orientada por fidelidades pessoais e pelas diferenças recentes.
Dois são os motivos que impedem a Chapa Renovação cumprir seu propósito. O primeiro é que Armando, e a maior parte de seus apoiadores mais entusiastas, pretendem que o professor participe do sindicato sem atacar o real motivo da indiferença atual: o estilo de trabalho acadêmico que a maioria pratica e as condições de trabalho a que estamos submetidos. A grande maioria dos professores está confinada em seus projetos lutando para obter condições de trabalho que o MEC e a Reitoria não oferecem. É papel do sindicato lutar por estas causas e indicar outro padrão de trabalho acadêmico que evite a simulação intelectual, a reprodução do eurocentrismo e, principalmente, a lenta e silenciosa transformação empresarial da universidade brasileira e da UFSC.
É verdade que a chapa “Valer a Pena” também parece não dar muita importância para a necessidade de superar o atual padrão de trabalho acadêmico. Também nutre estranho respeito pelo “orgulho Lattes” em um país com reconhecida dependência científica e tecnológica. Mas é verdade também que possui sensibilidade (resistência) para o tema da transformação empresarial da UFSC, cujo momento crítico e revelador foi a intervenção judicial na Feesc.
A necessária mudança do Regimento – e a conseqüente valorização do Conselho de Representantes (CR) – mobilizou mais intensamente aqueles que defendem a transformação empresarial da UFSC e é hegemônica na chapa encabeçada pelo Armando. Escutei muito ruído sobre o CR e o Regimento, mas nunca alimentei ilusões a respeito: passado a entusiasmo inicial, o CR atuará com baixo quorum ou será esvaziado porque simplesmente ninguém dispõe de tempo para “estas coisas”.
O segundo motivo que impede a renovação proposta pela chapa encabeçada pelo Armando é que eles dizem defender a transformação do sindicato, mas não se manifestam sobre algo essencial na luta nacional: a recente criação do Proifes a partir de uma operação de Estado realizada pela CUT – em nome do governo – cujo objetivo é a eliminação do sindicato independente que, a despeito de suas conhecidas limitações, sempre nos foi útil. A idéia absurda de que o Proifes conquistou nosso último reajuste a partir de uma hábil negociação, representa, além de uma falsificação grotesca, uma peça da campanha destinada a legitimar a criação de um sindicato que em décadas passadas não vacilaríamos em chamar de “pelego”.
A crise atual – e a renovada fé na austeridade sobre as demandas públicas que os ministros da área econômica já estão afirmando nos jornais – eliminou para os próximos anos a ilusão do “sindicalismo de resultados” que o Proifes representa. Somente muita luta poderá elevar nossos minguados salários e, para tal, um sindicato nacional independente é a primeira condição. A chapa “Renovação” alega, quando muito, “independência” em relação aos dois sindicatos, mas é bom lembrar que não pode haver “independência” diante desta operação de Estado que pretende criar… dois sindicatos.
O Andes perdeu vitalidade, é verdade. Mas não foi apenas pela reconhecida e desastrosa condução de suas últimas diretorias. Uma força poderosa, que na falta de melhor nome chamo de “transformação empresarial da universidade brasileira”, também cobrou seu preço. Contudo, mesmo com todos seus vícios, o Andes possui uma virtude neste momento decisiva: é um sindicato independente do governo. E nesta eleição, é precisamente a Chapa “Valer a Pena” quem defende este princípio. Por isso, votarei nela. Por isso, não votarei no colega do departamento.