Inicialmente, gostaria de chamar a atenção para o fato de que a construção da sede não deveria ser tratada sobretudo por sua importância como ambiente que melhorará sensivelmente o funcionamento das atividades sindicais, culturais e administrativas, além de contribuir para a qualidade arquitetônica e espacial do campus. O texto da diretoria da Apufsc, que está sendo publicado neste Boletim, assinala que a atual sede sofre há anos com problemas de insalubridade, espaços reduzidos, incompatibilidade de usos, necessidade de reparos constantes, exigindo elevados custos com manutenção. Assim, justifica-se a imediata construção de uma nova sede à altura das necessidades dos associados.
Para entendermos os custos calculados para a construção da nova Sede da Apufsc, ressaltamos algumas das características específicas de sua arquitetura diferenciada e decorrente das diretrizes do Concurso realizado, e que estão expostas e justificadas no “Memorial Descritivo” que acompanha o projeto arquitetônico.
Como requisito do próprio Edital, a localização, situada no eixo principal do campus, junto à Praça da Cidadania, exige uma arquitetura diferenciada na sua concepção arquitetônica que ressalte a fluência pública no uso do nível térreo, o que desafiou os autores do projeto a destacar a obra em termos plásticosd+ ou seja, concebendo os pisos superiores como um conjunto suspenso que se solta do solo para dar maior fluidez às circulações térreas, tal como explicita o item “3) Programa de Necessidades” do Edital.
Este primeiro princípio foi explorado para que se propiciasse leveza à obra, adotando-se um sistema estrutural que respondesse a esta exigência: encontro de pessoas sem obstáculos estruturais (pilares, principalmente) e fluxo contínuo por se tratar de uma área de alta centralidade e deslocamento de pedestres. A estrutura proposta, apesar de ser arrojada, segundo informação da equipe técnica, é extremamente simples e rápida de ser executada, podendo ser construída em aproximadamente 75 dias. Reúne os preceitos estruturais e a liberdade de expressão formal. Neste sentido, o edifício proposto harmoniza possíveis dualidades: compatibiliza o peso do corpo do edifício à leveza dos grandes vãos e das lajes em balanço, a robustez do concreto à esbelteza do aço, o volume compacto à ausência de barreiras visuais.
Apresenta flexibilidade espacial arquitetônica e estrutural no sentido de proporcionar a execução de um layout interno para adequação a todas as necessidades funcionais atuais, mas que permitam futuras mudanças na disposição dos ambientes.
A edificação da sede apresenta uma linguagem expressiva por sua identidade, ousadia de sua volumetria e pela originalidade formal ou construtiva. Destacam-se a leveza, a transparência, a permeabilidade visual e física, conformando áreas de encontro e integração entre os espaços abertos e os construídos. Rompe com as seqüências ortogonais de implantação das edificações do entorno e, ao mesmo tempo, procura harmonizar com a volumetria previamente apresentada e, também, com a permeabilidade restrita pelas exigências de um auditório no segundo piso.
A aplicação dos recursos arquitetônicos e técnicos visa garantir a funcionalidade ambiental, a satisfação nas atividades de trabalho e o conforto dos professores. Com isso, conseguiu-se: amplitude e integração de espaços funcionaisd+ redução máxima de áreas de circulação horizontald+ luminosidade e ampla visualidade com controle da incidência solar e de privacidaded+ facilidade de comunicação e de fluxosd+ controle de acessos e possibilidade de integração entre os serviços de bar e restauranted+ facilidade de manutenção da edificação.
Deu-se atenção especial ao paisagismo e ao espaço público, não só da área delimitada pelo terreno como da área verde da praça no entorno da edificação, como propriedade física importante para estabelecer a referência, a circulação, a permanência e o desenvolvimento de atividades de lazer, culturais e políticas do sindicato e da comunidade universitária.
Atenderam-se às necessidades dos portadores de deficiência física com previsão de sanitários apropriados, elevadores, rampas de acesso, meios de comunicação, etc. Contemplaram-se, também, às exigências de proteção e segurança do trabalho como facilidade de escoamento, escadas de segurança, equipamentos contra incêndio, pisos antiderrapantes, guarda-corpos.
Previu-se a redução de gastos de energia elétrica, através da utilização de energia solar para aquecimento d”águad+ uso privilegiado da iluminação natural através de aberturas verticaisd+ iluminação e ventilação zenital na escada principal e laje da coberturad+ controle térmico, acústico, da luminosidade e de manutenção através do uso do vidro insulado com micro-persiana entrevidros.
É preciso reconhecer a importância político-cultural da Apufsc no contexto sócio-espacial da UFSC. A edificação pode tornar-se uma referência simbólica, espelhando o papel que a entidade sindical dos professores representa no contexto universitário.
Considera-se a oportunidade de torná-la um significativo marco na espacialidade não só do campus da UFSC, mas da cidade. Há muito alguns profissionais, particularmente professores de arquitetura e urbanismo da UFSC, nos quais me incluo, que criticam a baixa qualidade da maior parte da arquitetura do campus universitário. Esta obra vem a contribuir para elevar o patamar de qualidade arquitetônica das construções. Mesmo no âmbito estadual, a arquitetura deixa muito a desejar. Como exemplo, as sedes do SESC em Santa Catarina não se comparam com as sedes construídas em São Paulo, cujas obras, como o SESC Pompéia, são referências da arquitetura nacional e internacional.
O padrão do CUB do campus tem representado muitas vezes uma economia nos custos que acaba sacrificando a própria arquitetura, sem um tratamento mais cuidadoso com relação à articulação com as edificações circundantes, ao espaço interno (ambiente de ensino-aprendizagem, pesquisa e de trabalho) e externo e ao tratamento plástico e conforto térmico, lumínico e acústico. Há edifícios em vários pontos do campus que não dialogam com o seu entorno.
A II Jornada Universitária sobre o Plano Diretor, realizada em junho de 2007 na UFSC, tinha como objetivo, além de refletir e formular propostas para o plano diretor de Florianópolis, pensar a arquitetura e organização paisagística dos espaços abertos do campus. Destacou-se a baixa qualidade urbanística e arquitetônica da UFSC e a urgente necessidade de se apontar soluções que corrijam ainda as atuais edificações (acesso universal, instalações de emergência e melhor manutenção) como discutir e acompanhar o surgimento de novas instalações. Neste sentido, a construção da sede da Apufsc atende a estas exigências e cria uma referência de qualidade para as futuras edificações em nosso campus, à altura da qualidade acadêmica que a comunidade universitária busca para suas atividades de ensino, pesquisa e de extensão.
EM TEMPO: Para aqueles professores que não sabem, participei em 2004 do Concurso para a Sede da Apufsc, na condição de coordenador da equipe que se classificou em segundo lugar. Mesmo assim, reconheço que o projeto da nova sede da Apufsc responderá às exigências demandadas, e mais, os interesses coletivos de construir uma sede de qualidade, estão muito acima de questões pessoais.