Foi com estupefação que ouvi noticias e reportagens de caráter estadual em rede de TV e li matérias em jornais que a nossa Universidade Federal de Santa Catarina está implantando “Cursinhos pré-vestibulares”, não só na sua sede, mas em diversas outras cidades de Santa Catarina. Eu gostaria de entender melhor tudo isso.
Eu sou professor e gosto de estar em sala de aulad+ não vejo problema na sala de aula nem com o número de alunos e muito menos com a interação com estes alunos. Considero e valorizo sobremaneira mo meu diploma de licenciado em Química, que auferi na querida Universidade Federal de Santa Maria. Graduei-me com Licenciatura porque recebi um exemplo de valorização da função de professor de um mestre em Química (mestre na verdadeira acepção da palavra), lá em Santa Maria, era um religioso marista, o Irmão Sigisberto, que nos brindava com a alegria de ser licenciado em Químicad+ graduação que ele fez na PUC de Porto Alegre (RS). Aprendi com ele que se deve entrar na sala de aula conhecendo-se com segurança o conteúdo e prevendo os possíveis questionamentos dos alunos, e que se assim procedendo, preparamos adequadamente os nossos alunos e que se for do desejo deles, poderão enfrentar qualquer vestibular sem a necessidade de “cursinho pré-vestibular”.
Há várias nuances a serem consideradas aqui, mas eu quero me ater ao que eu considero essencial no papel da Universidade como formadora de graduados. Entre os diversos cursos de Graduação da UFSC, estão os cursos de Licenciatura, onde se formam os professores para a Educação Básica. Eu me posiciono como defensor de uma dedicação com maior empenho, no atual momento, aos cursos de Graduaçãod+ parece-me que eles hoje são os patinhos feios nas Universidades, não dão “status”. Sinto no dia-a-dia da Universidade que entrar em sala de aula e acreditar que o aluno é capaz e pode desenvolver seu aprendizado, é coisa de somenos importância e é atividade só de professores menos capazes. Isto é muito patente no teor da medida provisória do governo Lula que desmontou o nosso plano de carreira e criou um engodo chamado “professor associado”. Aguardemos o que vai acontecer quando todos estiverem represados no nível IV. Julgo necessário o esforço de se garantir o aprendizado dos estudantes de graduação (altos índices de reprovação, não são a garantia de qualidade de ensino, mas sim a garantia de exclusão).
Então, quando uma Universidade dá destaque para seu cursinho pré-vestibular ela está apostando no anacronismo e na inadequação do ensino básico, ela está aceitando como consumada a falência do ensino fundamental e médiod+ além de reconhecer que seus licenciados não conseguem resolver o problema do despreparo de alunos egressos das escolas das redes públicas e privadas.
A universidade deve sim dedicar tempo e esforço para preparar bem os seus licenciandos, apostar num modelo de ensino que leve os estudantes a desenvolverem seus estudos com real aprendizado. Apostar em cursinhos é desqualificar milhares e milhares de professores que ela ajudou a formar, que lhes entregou um diploma, que tacitamente afirma: “você é capaz! Ensine”. Fazer apologia de cursinho pré-vestibular, é autoflagelo, é dizer também: “formamos licenciados que não são capazes de ensinar”, isto desautoriza o papel dos Licenciados que formamos com tanto sacrifício.
As camadas mais pobres da população são carentes de um a boa educação formal, ministrada por bons licenciados, que façam sua graduação rica em conteúdo bem ensinado, e que tenham uma boa prática pedagógica.