Alternativa para o Movimento Docente

Este artigo apresenta pontos a serem considerados para um Movimento Docente Inteligente (MDI) coerente e consistente com nossa condição.  O que nos diferencia como Instituição de Ensino Superior Pública (IESP), de outro tipo de instituição de ensino superior, e mesmo de outros níveis?  Dado o ambiente livre que estas IESPs vivenciam, torna-se possível empreender os três pilares da educação de qualidade: estrutura física (prédios), elementos humanos em equilíbrio (professores, administração e alunos) e, o mais diferenciante das demais instituições de ensino que é a filosofia da instituição.  É a filosofia que faz com que tenhamos um referencial de qualidade, apesar do clássico, do intencional, descaso dos governos. Os governos gostam de gastar em prédios, computadores, enfim, em tudo que é despesa, menos nos elementos humanos, e nunca em valorizar a filosofia da “escola”.  Gostam porque o verbo que usam é o gastar e não investir, pois satisfazem aos empreiteiros e seus financiadores de campanha, porque sem investir nas pessoas, e, nem pensar, investir em Filosofia, é mortal para suas intenções dos governos de manter o povo ignorante, portanto, dependente de migalhas, migalhas estas que os perpetuam no poder.

A Filosofia da “escola” faz com que nossos paradigmas de qualidade não sejam os que a administração central tenta impor.  Nossos ideais são os da nossa alma mater, ideais em busca do saber contínuo e seu aprofundamento, sempre alargando horizontes.  Fazendo isto, desrespeitamos regras de horário, de férias, e de toda burocracia ditada pelo nosso regime de “funcionário público” que nos quer manter sob a mira de uma legislação castrativa.  Quem faz pesquisa não tem horário para fazer uma proposta, de controlar seu experimento, de fazer seu relatório, de apresentar seus resultados em eventos.  Está aqui apenas a fração operacional de uma filosofia, a parte visível e tangível da Filosofia, ou, encurtando, o seu efeito.

Quem empreende estas atividades desenvolve o sentimento que as coisas se modificam pelo efeito do conhecimento e não por qualquer outra força, muito menos, impensável, a força física.  Este é o perfil dos professores da filosofia universitária.  A negação destas atividades de produção do conhecimento significa a expressão máxima de força contra nossa natureza: significa negar-se a si mesmo.  É isto que se quer?  Não, apenas em caso extremo.  Portanto, antes de atirarmos nossa genética de ação contra a insensatez governamental, tendo a sociedade (que nos paga) como primeira (talvez única) vítima, é incompreensível e bastante incoerente com a nossa atividade.  Não somos “trabalhadores da educação”, e quem o é? Quem varre as escolas, por exemplo…

Portanto, chamar à greve sem esgotar os recursos inerentes à função produzir a aprofundar conhecimento é inaceitável, a menos que quem a chame nada tenha a ver com as citadas atividades de produção do conhecimento.  Mas, mesmo que estes a chamem, tem o direito de o fazer, mas estaria ferindo quem realmente represente a nossa atividade que não se resume à docência.

A greve significando suspensão de aulas não atinge o governo como, por exemplo, os lixeiros não recolhendo resíduos sólidos, motoristas parando ônibus, por exemplo, ou ainda metalúrgicos parando montadoras.  Estes trabalhadores usam produtos e serviços cuja falta joga a sociedade contra o governo, enquanto que a nossa paralisação atinge a sociedade de dois modos: queda da nossa credibilidade e prejuízo para os alunos.

Não se pode chamar — como um dos boletins de agosto da Apufsc fez — diretamente à greve, pois isto é condução de um processo reinvidicatóriod+ a greve é o último recurso de uma série de tentativas de negociar, depois de ampla mobilização, conscientização, portanto, esta convocação estava equivocada, embora tivesse tido este direito.  Seu efeito foi chamar uma parcela de professores da filosofia universitária à contestação da forma de reinvidicação.

Nosso produto não é lixo nem transporte, nem peças metálicas, e sim produção e disseminação do conhecimento, portanto nosso movimento deve se basear nesta produção intangível, caso contrário a sociedade vai nos achar pura e simplesmente “burros”, pois não sabemos nem formular um processo reinvidicatório coerente com nosso “produto” conhecimento.

Não somos trabalhadores no sentido desta palavra, e sim transformadores sociais, cientistas, ou, de maneira bem explícita, nossas tarefas não se efetuam pelo uso da forçad+ daí se enfatiza que não devemos jamais usar a forçad+ nossas atividades se medem não pela força vezes deslocamento, e sim produção acadêmica tal como titulação, número de “trabalhos” publicados, número de mestres e doutores formados e isto nada tem de braçal.

Não somos também, funcionários públicos no exato sentido desta palavra, pois não estamos—pelo menos grande parte dos professores não está—atrelados ao “bater ponto”d+ para quem discordar fica uma pergunta: quando que se lêem teses e dissertações?  Quando se pode formular uma proposta de pesquisa, um parecer de qualquer uma das várias instâncias da administração, tais como conselhos, colegiados, câmaras, por exemplo?  Caso alguém me interpele pelo que, às vezes, estou fazendo em casa na hora do trabalho, eu tranquilamente direi “o mesmo que faço, as vezes, nos sábados, domingos, feriados, e noites, mesmo nas férias, na minha sala da UFSC”.

Assim sendo, atrevo-me a dar a receita, aliás, repeti-la: tendo uma parcela da sociedade em nossas salas de aula, ao invés de antagonizá-la (indo pra praia durante a greve), transformemo-la em nossa aliada no divulgar os podres do governo (ou outros assuntos mobilizatórios) em parte de nossas aulasd+ como já venho fazendo isto desde o ano passado, considero e repito nas minhas aulas-movimento docente, que se eu não conseguir convencer meus alunos da nossa causa, devo desistir de reinvidicar melhores condições de trabalho, mais verba para pesquisa, menos criminalização do professor por parte dos órgãos de fomento, menos burocracia para pesquisa, contra privatização do HU e outras bandeiras.

Quais seriam “os podres do governo”?  É só ler jornais ou ver televisão, ou olhar ao seu redord+ precisa mais?  Para atualizar e provar que o governo só gasta em prédios e coisas, veja-se as alas do HU que estão inauguradas, mas fechadas, por falta de “gente”.  Quantas pessoas morrem por falta de gente em hospitais?  Nas universidades não “morre gente” e sim, se atrasa a produção do conhecimento que vai significar em prazo variável, mas inexorável, queda da qualidade de vida, perda de competitividade da nossa indústria, avanço de produtos de fora, culminando com o empobrecimento do país.

Como se implementaria este MDI?  O básico seria mobilizar inicialmente os colegas com afirmações do tipo: querem uma greve como “as de sempre” e cair mais no conceito da sociedade?  Ou se parte para um movimento coerente e consistente com o nosso tipo de atividade, baseada no pensar, formar pessoas de alto nível, pesquisar novos produtos, processos, pensares?  Ou nos igualar ao trabalhador braçal? Vamos partir para força ou para inteligência?  Vamos pensar por nós ou ser pensados “pelos outros”? Vamos enfrentar este governo com as armas que ele conhece ou com novas e mais letais ferramentas? Afinal, em que era vivemos: na era do produto ou na era do conhecimento?

Cada Centro deve enviar sua sugestão de ataque ao governo via idéias ao comando de mobilização.  Deste se passariam aos demais de modo a depurá-lad+ depois texto de cada podre de, no máximo, uma página é passado para cada professor a ler na sua sala de aula, ou fazer dele o que mais achar conveniente.  Se pega a retroalimentação das turmas deste documento e se faz uma nova depuração e o enviamos com estas melhorias à imprensa. Cada semana tem um podre e deve-se procurar sugestões de outras ações mobilizatórias, inclusive para as ruas.