Através da Resolução Normativa 008/CUN/ 2007, o Conselho Universitário da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) criou o “Programa de Ações Afirmativas” da Universidade. Assim sendo, 30% das vagas do próximo vestibular foram destinadas a alunos egressos de escolas públicas (20%) e para afrodescendentes (10%). Além disso, cinco vagas suplementares àquelas em disputa no vestibular foram reservadas para indígenas. Uma série de providências complementares, como a preparação para o vestibular, previsão de recuperação de conteúdos, auxílio moradia, bolsa escolar, etc, estão previstas na Resolução.
A UFSC, dessa maneira, integra-se no esforço nacional para oferecer oportunidades a grupos de excluídos sociais e de oferecer novas condições de disputa de vagas no vestibular por egressos de escolas públicas.Uma mudança positiva das normas da Universidade, que certamente terá repercussões nas práticas pedagógicas, didáticas e legais da instituição. Outrossim, os grupos alvo das alterações certamente terão sua auto-estima e sua competência reavaliadas e valorizadas. O mesmo acontecerá com a escola pública que terá de assumir novos comprometimentos com seus estudantes.
Nesse semestre, entretanto, a UFSC tem que investir na preparação das medidas que vão garantir o sucesso da experiência. A trajetória de alunos estrangeiros na Universidade, que obtiveram suas vagas através de convênio, recomenda que as providências para a recepção pós-vestibular dos alunos beneficiados pelo programa comecem agora. Conteúdos, bem como bolsas, vagas para hospedagem e socialização em relação a comunidade universitária terão de ser recuperados e previstos. Para tanto, além da estrutura já definida para os atendimentos específicos, cabe contar com voluntários (professores e alunos de pós-graduação) para dar conta das novas tarefas. Nesse sentido, é estratégico que o grupo de discussão que fundamentou a Resolução continue operando. Ao mesmo tempo, o intercâmbio com outras universidades que já implantaram o sistema é estratégico. Os desafios são grandes, mas a experiência sendo positiva trará grandes conseqüências para a Universidade, em particular o reconhecimento de sua capacidade de enfrentar obstáculos e de assumir posições claras em favor das parcelas discriminadas da sociedade como um todo.
Finalmente, a UFSC terá que aproveitar a oportunidade para rever a organização dos cursos de graduação, em particular no que se refere à evasão e à repetência dos estudantes. Não é possível continuar se admitindo que um aluno repita a mesma disciplina por oito, dez semestres seguidos. Nesses casos não só os alunos têm responsabilidades, como também os professores que costumam adotar a “pedagogia do medo” como prática diária. Os custos financeiros dessas práticas não são pequenos. Quando se fala em ensino antes de tudo tem que se ter um clima para a aprendizagem centrada na motivação tanto de professores, quanto de estudantes. Portanto, não estamos falando somente dos compromissos da UFSC com as minorias oprimidas.Falamos da UFSC enquanto organização que tem compromissos sérios com sua organização interna, visando à formação cada vez mais competente de seus estudantes.