O Boletim nº 598 traz um texto em que os colegas Carlos, Bartira, Magaly e Paulo Pinheiro praticamente pedem que o Armando [Lisboa] renuncie à presidência da Apufsc. Qual o motivo? O Armando fez crítica ao Sindicato. Quem é o alvo da crítica? Os sindicalistas que vêm dirigindo a Apufsc e o Andes como verdadeiros gestores sindicais. Os autores argumentam que deve haver respeito pela história do sindicato. A qual história se referem?
Venho atuando no movimento docente desde que entrei na UFSC, em 1979. Em 1998 participei de uma chapa que foi derrotada porque perdeu na urna dos aposentados, os quais estavam muito bem representados na chapa vencedora (A presidente era aposentada). Lembro que na ocasião foram usados os mais criticáveis métodos eleitorais, entre os quais telefonar para que viessem votar professores há muito tempo aposentados e ferrenhos críticos do “movimento”. O importante era vencer, manter o controle sobre a Apufsc, impedir a renovação.
Anos depois, em outra chapa, vencemos as eleições. Uma das primeiras assembléias, em fevereiro, deveria escolher delegados para um Congresso do Andes. Estávamos presentes os membros da nova diretoria e alguns componentes da diretoria anterior. Propus que enviássemos apenas um delegado para explicar no Congresso o que estava acontecendo na UFSC: simplesmente não havia “base” interessada no assunto. Minha proposta foi derrotada. Foi escolhida uma delegação composta por membros da antiga e da nova Diretoria.
Naquele instante decidi renunciar ao cargo que ocupava, convencido de que o Sindicato havia adquirido vida própria, independente do que acontecesse com a tal “base”. Os gestores sindicais jamais se disporiam a explicitar a real situação de suas entidades. De fato, continuaram os congressos, os encontros, as viagens, as eleições, a elaboração dos famosos planos de luta, as assembléias, enfim, o formalismo democrático e esquerdista que serve, inclusive (principalmente?) para condenar e estigmatizar os críticos deste tipo de sindicalismo. A última greve mostrou isso claramente. Naquela ocasião, os autores do artigo acima mencionado admiravam as idéias do Armando. Um deles, com um texto do atual presidente à mão, disse numa determinada assembléia: “é sempre um prazer ler um artigo do Armando.” De onde vinha o prazer? Da crítica que o Armando fazia a quem dizia que a greve era um erro.
Hoje, o Armando está à frente da Apufsc, passou a conhecer por dentro o sindicalismo e como não tem compromisso com este tipo de sindicato, está propondo mudanças. E ao fazê-lo despertou em grande parte dos associados a esperança de que finalmente havia possibilidade de deslocar as forças que estão controlando o sindicato há décadas e que agora, não podendo negar a necessidade e mesmo a inevitabilidade da transformação, apelam para o argumento sempre usado por quem defende o status quo: mudança só em último caso e mesmo assim, conduzida por nós. Nesta perspectiva, faz pleno sentido exigir “respeito à nossa história”.