Sempre considerei a suspensão do repasse em dezembro/2008 como um erro político, ainda que uma decisão correta não só do ponto de vista jurídico, mas levando em conta que precisávamos dar uma oportunidade aos associados para que eles se manifestassem sobre o que era/é feito de suas contribuições.
Em janeiro/fevereiro estávamos em férias, e, neste período, submetemos um texto de resolução para o Congresso da Andes em Pelotas com o objetivo de garantir a representatividade dos delegados nos congressos da Andes. Isso poderia e ainda pode ser feito simplesmente exigindo um quorum mínimo nas assembleias onde os delegados são eleitos.
Nossa proposta sequer foi apreciada no congresso ainda que tenhamos conseguido o apoio das delegações de Brasília, Viçosa, Federal e Rural de Pernambuco.
A Andes é o que os seus delegados são e, aparentemente, ninguém quer saber de “largar o osso”, isto é, de largar o “aparelho” a que as nossas AD”s estão presentemente reduzidas.
Em fevereiro, solicitamos um segundo parecer, agora ao Luis Fernando. A idéia foi minha na Diretoria, pois suspeitava que o seu parecer seria contrário ao do Nelson. O LF tem ligações profundas com os sindicatos e com a Andes, em particular com o Rizzo. E minha intenção com isto era fazer com que a questão do repasse fosse definitivamente decidida em assembléia.
Em março, apresentamos isto ao CR e a assembléia foi aprovada por unanimidade. Em seguida à decisão “pintou minhoca” na cabeça do Rizzo (de acordo com as suas próprias palavras), pois ele já sabia qual seria o resultado se esta questão fosse decidida em uma AG (de “dois dias” como tinha sido aprovado).
Esta “minhoca” virou “cobra cega”, no sentido de que a oposição fez tudo o que podia (e o que não podia) para que ela não se realizasse contra a própria decisão unânime do CR (ou seja contra a própria oposição e contra a própria Apufsc). A chave para o fracasso estava no Art. 18 do Regimento que exige um quorum de instalação de 5% e cuja redação é omissa quanto à aplicabilidade deste artigo nas AG”s de dois dias e sujeita à mais de uma interpretação. Valeu para nós, naquele momento, a interpretação do Rizzo e o Art. 18 foi usado para aquela AG de dois dias.
Além disso, às vésperas da AG, em maio, pintou a “interpretação” de que deliberações seriam possíveis já no primeiro dia, caso tivessemos quorum para isto (o que é o fim da picada e desvirtua a idéia de um AG de dois dias).
Esta “interpretação” ardilosamente colocada pelo Rizzo em nossos canais de comunicação contribuiu para desmobilizar os professores que estão fartos de decisões com os “braços levantados”, sujeitos ao fedor do suor que emana dos “suvacos” tão ao gosto das “assembléias dos trabalhadores”, aos discursos repetitivos, ao cansaço, ao “circo” e ao clima excessivamente emocional que ali predomina.
Finalmente: i) a oposição ficou do lado de fora sem assinar o livro de presenças e ii) o livro foi arrancado das mãos dos professores que ainda chegavam (e por um membro da oposição que, inescrupulosamente, deixou de assinar o livro), exatamente às 14h30.
Vários professores chegaram entre 14h30 e 15h e acredito que teríamos tido um “quorum de instalação” às 15h, caso tivéssemos usado o bom senso, mesmo que o tal “quorum de instalação” não faça muito ou nenhum sentido em uma assembléia de dois dias.
Foi a primeira derrota da Apufsc em 2009. Mas não fomos derrotados pelo voto e/ou pela vontade dos professores e sim pelo ardil e pelo oportunismo.
E daí eu qualificar esta derrota, não como nossa, da Diretoria ou da Nova Apufsc, mas da Apufsc.
Deste modo, não tenho porque parabenizar o Rizzo e colegas da Andes-AD por esta suposta “vitória”. Farei isto quando formos derrotados pelo voto da maioria de nossos associados.
A segunda derrota da Apufsc, este ano, aconteceu no dia 24 de junho, desta vez no próprio âmbito do CR e o recursos foram, novamente, o ardil e oportunismo. O alvo foi, novamente, o repasse das parcelas, mas agora o das vencidas e retidas em nossa gestão, durante o período em que a Andes ficou sem o registro, uma vez que a Diretoria já tinha decidido retomar o repasse das vincendas a partir de junho, após a concessão da carta sindical à Andes por despacho do Lupi, Ministro do Trabalho, Presidente do PDT, autor da idéia do imposto sindical para os sindicatos da rede pública e vinculado à Força Sindical, em aparente disputa com o MEC e MPOG, com vínculos na CUT. A oportunidade deu-se em uma reunião onde a oposição sentindo-se maioria aproveitou a ocasião para pautar um tema controverso em uma reunião convocada para discutir: i) as prioridades da Apufsc e ii) o plano de trabalho da Diretoria, sem que os representantes tivessem para ali levado a opinião de seus representados sobre se eram ou não favoráveis ao repasse de uma contribuição financeira à uma entidade, durante um período em que esta se encontrava sem o amparo da lei.
E a oposição foi oportunista quando se vendo maioria na reunião: a) trouxe para a pauta um assunto importante, que não estava pautadod+ ii) votou no CR uma questão que ainda está sujeita à dúvida jurídicad+ iii) votou no CR as suas próprias posições e não as dos seus representados.
Deixo claro que condeno este oportunismo e temo que a grande consequência disto seja o de aumentar a distância entre o sindicato e os professores.
Por outro lado, nossos apoiadores da Nova Apufsc estão nos exigindo posições mais firmes e uma melhor definição de um processo de mudança e, infelizmente, as armas já foram escolhidas por nossos oponentes, ainda que não tenhamos qualquer habilidade para usarmos o ardil e, por nossa natureza como professores-pesquisadores, não sabemos ser oportunistas.
Mas sabemos que podemos contar com o apoio de uma amplíssima maioria na Apufsc desejosa de uma nova forma de se fazer o sindicalismo universitário.
De fato, em nossa consulta recente, o tema “Modelo Sindical” foi considerado como prioritário para a Apufsc, só perdendo em prioridades, como não poderia deixar de ser, para os temas que dizem respeito aos salários, à carreira e às condições de trabalho (v. Boletim 683: www2.apufsc.ufsc.br/publicacao/boletim/109).
Daí ser importante que os nossos professores sejam consultados sobre: i) a questão de nossa filiação à Andes (com carta ou sem carta) e ii) sobre a proposta de formação de um sindicato local independente. Pessoalmente, continuo a defender a nossa desfiliação da Andes e a formação de um sindicato local independente, pois não vejo quaisquer perspectivas de mudanças na Andes da Andes-AD e da Conlutas.
Não deixo de compreender, como cidadão, porque um movimento como a Conlutas é importante para a esquerda, ou para uma parte dela, ao menos para a parte que, neste início do século XXI continua contaminada pela doença senil do totalitarismo e do fundamentalismo ideológico.
Deste modo, lendo os informes da Conlutas que nos chegam à Apufsc semanalmente, continuo sem saber o que um Sindicato de Professores de Universidade faz por lá, ainda que compreenda o que a Andes está fazendo por lá.
De fato, a Conlutas é a cara da Andes e a Andes é a cara da Conlutas. Só não vê quem não quer. Basta dar uma olhada nos relatórios dos congressos e nas páginas e informes da Conlutas. São ambos movimentos sociais de esquerda em suas origens e o segundo continua um movimento social de esquerda, ainda que, agora, com uma carta sindical, fruto de um despacho essencialmente político do Ministro Lupi.
Um “movimento” precisa de recursos financeiros e estes são conseguidos, via de regra, com contribuições espontâneas de seus integrantes, com o auxílio de empresas e sindicatos, e no Brasil de hoje, com o apoio direto do Estado via ONG”s.
Para a Andes, o acesso a esses recursos, que estava (e continua) ameaçado ficou, agora, mais fácil com a Carta Sindical na mão, possibilitando-lhe como “sindicato com carta”, dar continuidade ao seu “aparelhamento” das associações docentes, drenando os seus recursos financeiros para alimentar a sua multidão de objetivos sociais.
De fato, a Apufsc em sua condição de SSind vem sendo “aparelhada” há vários anos por este movimento social (a Andes), ideologicamente de esquerda, ainda que isto não represente a esquerda no Brasil, mas uma parte dela.
E a Andes sempre foi assim, desde sua origem. A Andes não mudou. Continua a mesma dos anos 80. O que mudou foi o país que de um regime de intensa repressão a esquerda (quando a Andes se justificava) passou a ser uma democracia, agora, com um governo de esquerda (ou o mais à esquerda possível num país como o nosso)… e mudaram, também, os professores …e o resto, incluindo a própria esquerda (…e não só no Brasil).
E, neste sentido, fica cada dia mais difícil à Andes manter-se no controle do “aparelho”, quando os professores decidem usar uma parte do seu tempo para discutir o seu sindicato e cair de pau em cima de uma “cobra nada cega” que se alimenta do esforço de organização dos docentes sobre as suas grandes causas (salários, carreira, infraestrutura física) e os converte em beneficio das grandes causas dos movimentos sociais (não só os nossos, no Brasil).
O que precisamos decidir agora é se continuamos alimentando este “movimento”, como até então, que não podemos deixar de compreender, mas que só nos atende marginalmente, ou se procuramos formar um sindicato que, feito sindicato, limite-se ao seu papel e atenda os nossos interesses como professores de universidade.