Sobre a desfiliação ao Andes-SN
Alô, alô, psicólogos, psiquiatras, pessoal da área da saúde: entre o desejo e a realidade há espaço para o delírio?
Alô economistas, matemáticos, pessoal das exatas: entre os números e a realidade, há espaço para a prestidigitação?
Alô sociólogos, cientistas, políticos, pessoal das humanas e das letras: além da ficção, cabe aí a mistificação?
Alô pessoal de todas as áreas do conhecimento: a pressa e o açodamento levam mais rápido à perfeição ou à exaustão e arrependimento?
Essas perguntas (haveria outras, mas o espaço é pequeno e o tempo presente ruge) surgem a partir da leitura do abaixoassinado “para mudar a Apufsc”. O delírio, a prestidigitação, a ficção se apresentam em várias partes do texto, mas me deterei em duas: a) devemos sair do Andes porque “os sucessivos fracassos nas negociações salariais geraram, apenas para os professores da UFSC, uma perda de mais de um bilhão de reais nos últimos 14 anos” (grifos meus). Por trás desse raciocínio, leia-se: sete diretorias do Sindicato Nacional, em negociações com os governos FHC e Lula, de 1995 para cá, recusaram-se a aceitar as generosas ofertas de reajuste de salários dos professores (inclusive dos salários desses diretores…). Imaginemos os governos querendo significativas melhoras salariais e o Sindicato Nacional, por birra, burrice, viés ideológico e oposicionista, não aceitou! Dá pra acreditar? E o cálculo apresentado foi feito a partir de um percentual que beneficiou apenas uma classe, como se todos os professores tivesse tido o mesmo reajuste – o que não aconteceu, levando a isonomia e a paridade com os aposentados cada vez mais para as calendas.
b) transformar a Apufsc em Sindicato dos Professores das Universidades Federais do Estado de Santa Catarina (penso em Garrincha, ouvindo as instruções do técnico: já avisaram o outro time? E eles concordaram?). É preciso lembrar que a universidade federal que está sendo criada envolve os estados do RS, SC e PR, logo apenas alguns professores poderiam sindicalizar-se em Santa Catarinad+ teremos que esperar a criação da universidade para pedir o registro sindical? É democrático fazer a opção sindical pelos professores dessa outra universidade? O nome Apufsc deverá dissolvê-la sem que se dissolva a entidade? Enquanto não tivermos registro sindical quem nos representa juridicamente e nas negociações nacionais? Por que a pressa na criação desse sindicato estadual e dessa federação de sindicatos das Ifes, sem debater a questão como um todo, prevista como sétimo ponto de debate em recente consulta do Conselho de Representantes aos professores da UFSC? Será que há algo de estranho nessa corrida para “a era das redes e da inteligência coletiva”?
Acredito que a inteligência individual é o fator primeiro da criação humana e que essa inteligência se enraíza e torna-se coletiva na reflexão, no debate, na convivência e na condensação do tempo único que habita, segundo Santo Agostinho, no mais íntimo do espírito humano: o presente do passado, que é memóriad+ o presente do presente, que é visão atentad+ o presente do futuro, que é expectativa, esperança. Sem discussão querem apagar nossa memória/nossa históriad+ querem embaçar nossa visão atenta ao presented+ querem atropelar nossa expectativas e esperanças de mudar o Sindicato Nacional por dentro, através do enfrentamento das questões que nos desagradam.
Mas sou teimosa. E como representante dos aposentados no C.R. (até outubro – as eleições para o C.R. deveriam ser feitas em setembro, de acordo com o regimento, que a diretoria da Apufsc parece não ter lido), filiada à Apufsc desde 1974, sindicalizada no Andes/SN desde 1991, trabalhando sempre por uma universidade pública, gratuita, democrática, de qualidade socialmente referenciada, convido os colegas professores aposentados e da ativa a votarem não nas urnas do dia 17/09.
E concluo citando: “A esperança tem duas filhas lindas – a indignação e a coragem” – a indignação para não aceitar o atropelo, o açodamento, a falsa retórica, o delírio e a mistificaçãod+ e a coragem para continuar lutando por aquilo que se acredita: ética, transparência, respeito, solidariedade e pelas questões da carreira: isonomia, paridade, carreira única, DE, votarei não no dia 17!
Em tempo: Encaminhei à diretoria da Apufsc-SSind, com mais dois professores, Recurso contra o desconto de 4,5% para o INSS da Unimed, por não termos autorizado o desconto nem ter sido aprovada em AG a criação do fundo, configurando-se apropriação indébita. Ainda não recebemos resposta.