“Nos primeiros meses de 1964, esboçou-se uma situação pré-revolucionária e o golpe direitista se definiu, por isso mesmo, pelo caráter contra-revolucionário preventivo. A classe dominante e o imperialismo tinham sobradas razões para agir antes que o caldo entornasse” [1]. Com essas palavras, Jacob Gorender deixa claro que a contra-revolução de 1964, identificada por ele como golpe preventivo, foi uma reação a um golpe de esquerda que, se bem sucedido, tornaria o Brasil uma ditadura comunista,
e daí entende-se o significado de “agir antes que o caldo entornasse”. Gorender analisa o período 1960-1964 como o “ponto mais alto das lutas dos trabalhadores brasileiros” no século passado, e finaliza afirmando que foi “o auge da luta de classes, em que se pôs em xeque a estabilidade institucional da ordem burguesa sob os aspectos do direito da propriedade e da força coercetiva do Estado”. Para entender Gorender, é preciso reconhecer que ele escreve na condição de marxista convicto, e que todo marxista tem sua ação política centrada nos seguintes dogmas: (i) a classe trabalhadora é oprimida, (ii) a emancipação desta classe se dará pela derrubada do sistema vigente, (iii) neste processo, a classe trabalhadora será guiada por “iluminados” (os revolucionários comunistas) capazes de interpretar a história e guiar as massas. Por fim, como toda ação violenta precisa de uma justificativa, criam outro dogma: (iv) todo este processo é reflexo de leis que regem as forças de produção, produzindo cisões e atritos entre classes cujo resultado final é o advento da sociedade comunista. Para um marxista, a violência torna-se então um recurso legítimo e inevitável pois é consequência de leis inexoráveis da matéria. Assim posto, os dogmas marxistas negam aos trabalhadores a possibilidade de transformar o regime capitalista, aperfeiçoando-o para a obtenção de melhores condições, sem contudo dar nenhuma prova dessa negativa (nem poderia, afinal são dogmas!).
Se 1964 representou o auge da fracassada manipulação (organização, para os marxistas) da classe trabalhadora para a causa revolucionária, o que ocorreu então com este projeto nas décadas seguintes? Passados 40 anos da contra-revolução, a ascensão ao poder do partido dos trabalhadores sob a batuta do ex-sindicalista deixou de realizar este projeto revolucionário pela opção escrachada à um populismo de esquerda, aliado a total incapacidade do então presidente de entender e responder positivamente a questões de natureza ideológica. Agora, 2011 se apresenta como algo novo. Com efeito, Dilma Roussef participou dos grupos POLOP, COLINA e VAR-PALMARES, responsáveis por crimes como assassinatos, sequestros, assaltos e atentados a bomba e que tinham por objetivo transformar a nação numa ditadura comunista. Basta ver os documentos destes grupos para se certificar pelo que eles lutavam [2]. Assim, os principais protagonistas do próximo governo tem outras credenciais e acredito que devem ter uma estatura intelectual maior que os do governo anterior – o que não é algo muito difícil – de modo que somos levados a perguntar: “Que condições objetivas teria o governo petista de Dilma Roussef para unificar as massas em torno de um projeto revolucionário semelhante ao que os comunistas tentaram durante o governo Jango”? E, se for esta a intenção, isto se daria de que forma?
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[1] “Combate nas Trevas”, Jacob Gorender, pgs. 66-67
[2] “Imagens da Revolução”, Daniel Aarão Reis