A banalidade do mal na UFSC

Para Arendt, filósofa alemã, depois de observar o processo de Adolf Eichmann, um carrasco do holocausto dos judeus, escreveu “o mal é extremo e superficial”. Da mesma forma que a mentira sistemática, onde a realidade é esvaziada, o mal se torna insignificante e deixa de ter limites de gravidade porque parece ser normal e não estar ligado a nada. Por isto, observa Arendt, a pouca resistência ao Nazismo. Os fatos deste concurso são de domínio público e o demonstrarão:

1) A banca foi integrada por dois professores atualmente pertencentes ao quadro docente da UFSC e um professor de uma Universidade privada (comunitária). Este Último, com menor currículo científico que a maioria dos concorrentes à vaga! O lógico e racional para um concurso de uma Universidade Federal seria convidar para a banca um professor externo com reconhecimento científico nacional, que pudesse dar garantias de experiência e imparcialidade.

2) O segundo classificado no referido concurso, apesar de ser supervisionado oficialmente por outra professora, desenvolve atualmente suas atividades de pesquisa no mesmo laboratório coordenado pelo professor que foi presidente da banca deste concurso. Quanto de banal tem o mal?!

Não sendo suficientes estes fatos, vamos ao mais triste:

3) Mesmo tendo sido aprovada em todas as demais etapas do concurso, uma candidata foi desclassificada, pois seus títulos acadêmicos de Mestrado e Doutorado em Química Orgânica não foram pontuados por, segundo a banca, não pertencerem à área/subárea de conhecimento do concurso. Durante toda sua trajetória acadêmica, esta candidata desenvolveu atividades de pesquisa inteiramente voltadas à síntese e caracterização de compostos orgânicos, avaliação da atividade biológica e estudos da relação estrutura-atividade dos mesmos, principalmente frente a doenças negligenciadas, hiperglicemia e leucemia, com publicações científicas completamente inseridas na Química Medicinal que é fundamentalmente Bioquímica. Além disso, o edital definia claramente os títulos a serem considerados: “Serão considerados exclusivamente, os títulos pertencentes à área e subárea de conhecimento e áreas afins definidas para o respectivo concurso.”

Como é possível uma banca de um concurso público da área de Bioquímica de uma Universidade Federal, em pleno século XXI, sustentar que a Química Orgânica, base da Bioquímica, não seja área afim da mesma?! Este pensamento é praticamente o regresso ao vitalismo do século XIX, quando se acreditava que apenas os seres vivos produziam matéria orgânica (Friedich WEoumld+ehler sintetizou a ureia a partir do cianato de amônio, um sal inorgânico, em 1928, terminando com o vitalismo).

4) Para piorar a situação de imparcialidade do concurso para a vaga de Ciências Biológicas II/Bioquímica na UFSC-Florianópolis, atentamos ao fato da presidente da banca do concurso para a vaga de Bioquímica na UFSC-Curitibanos, aberta no mesmo Edital, ser Dra. em Química Orgânica, tendo a mesma formação da candidata desclassificada para a vaga em Florianópolis.
Este concurso em Florianópolis tornou-se destrutivo para os fundamentos de uma Universidade moderna. As Universidades modernas estão orientadas e sustentadas na criação de Centros de Ciências da Vida, onde se encontram reunidas a biologia, a química, a bioquímica, a biofísica, entre outras áreas. Para citar um exemplo, na USP, a Bioquímica e a Química integram o Instituto de Química.

A realidade fundamental da vida universitária, que é a procura pela verdade, está sendo esvaziada! Nosso país tem necessidade de Universidades que sejam exemplo de honestidade na submissão a verdade! A submissão de alguns ou à omissão, a mentiras e à injustiça, dá lugar a um mal profundo de corrupção, contra a qual o povo brasileiro está se manifestando. Este mal, que parece banal ou foi banalizado é, no entanto, como um tumor que se espalha sub-repticiamente, se não for oportunamente corrigido.

O principal recurso e estandarte de uma Universidade é seu corpo docente, e por isso a designação e promoção dos professores são decisões significativas, que fatos como o ocorrido neste concurso destroem. Por isso, do meu ponto de vista, as autoridades da Universidade Federal de Santa Catarina deveriam manifestar-se formalmente, exigindo a revisão dos acontecimentos, e a anulação deste concurso, para que erros como os que aconteceram deixem de prejudicar excelentes pesquisadores que tem se apresentado para as diversas vagas abertas em nossa Universidade. O mais apropriado neste caso, seria realizar um novo concurso para esta vaga, com uma banca integrada por 3 professores escolhidos por sorteio entre todos os que lecionam e pesquisam continuamente na área de Bioquímica nas melhores Universidades públicas do Brasil.

é necessário aplicar a lei a professores que, por ignorância ou por banalidade, não reconhecem a verdade: A BIOQUEIacuted+MICA é QUE é, DE FATO, UMA SUBEAacuted+REA DA QUEIacuted+MICA ORGEAcircd+NICA!

Prof. Rosendo A. Yunes
Pesquisador Sênior CNPq e Professor Voluntário do Depto Química