Não faz muito tempo, os professores foram consultados sobre a questão das festas na UFSC. Na ocasião, no departamento de matemática, foi apresentada uma lista nominal dos professores, que então assinalaram se eram a favor ou contra a utilização do espaço físico do campus para sediar festas. A maioria dos professores se mostrou contrário, e daí, inferi que esta seria a opinião predominante entre os professores da UFSC e que a questão estaria assim resolvida (obviamente, só poderemos confirmar isso se a “comissão de festas” divulgar o resultado dessa consulta feita aos departamentos).
Contudo, somos informados agora que a “comissão de festas da UFSC” decidiu pela realização de um plebiscito para que seja tomada uma decisão, com o agravante da adoção do voto universal entre estudantes, STA’s e docentes.
Ora, se a intenção da comissão era essa (a de decidir por meio de um plebiscito), porque então fazer a consulta aos professores se isso, aparentemente, se revelou sem nenhum peso na tomada de decisão (e, mais uma vez, admitindo que a consulta aos professores se revelou majoritariamente contrária a utilização do campus para a realização de festas)? Pior que isso, e a menos que eu esteja muito enganado, o voto universal somente serve para referendar a posição dos estudantes, já que estes constituem numericamente o maior grupo na universidade.
Enfim, o ambiente da UFSC caminha para estar totalmente descaracterizado do que se entende por instituição acadêmica. Contudo, temos que ser honestos em reconhecer que há muitos outros fatores contribuindo para essa deterioração, a começar por um sindicato de STA’s que, sem nenhuma moderação, tem por costume realizar greves anuais longas, causando prejuízo aos estudantes que ficam meses sem a biblioteca e o restaurante universitário, além de por em risco a segurança de todos ao adotar práticas autoritárias como o fechamento das entradas do campus que, numa situação de emergência, dificulta a pronta entrada de equipes de emergência (bombeiros, ambulância, polícia).
Contribuindo com esse processo de deterioração, temos também uma administração central que parece mais interessada em “administrar” por consenso do que em tomar decisões que possam, eventualmente, desagradar estudantes e STA’s. E digo isso porque não consigo compreender como um professor (e não esqueçamos também nossa condição de educador) pode concordar que se utilize o espaço da universidade para um fim que nada tem de acadêmico ou que traga algum benefício à formação moral e humana dos nossos alunos. Mas, isso é uma questão de percepção e reflete tão somente a forma particular como diferentes pessoas concebem a universidade.
Certo, que venham as festas, então! Mas, que não se estranhe depois quando os estudantes se lembrarem da universidade mais pelas festas do que do esforço que tiveram em se formar. Não se estranhe, também, quando a figura do professor “Boiada”, personagem folclórico da UFSC, se tornar regra geral, afinal, que motivação teria um professor para rivalizar com o prof. “Boiada” se estiver num ambiente anti-acadêmico, permeado de anúncios de festinhas, e com estudantes mais ávidos por festas do que compromissados com seus estudos?
Em essência, toda instituição tem uma mística que se desdobra desde a excelência daquilo que academicamente produz até as exigências e rigores a que seus alunos estão submetidos no seu processo de formação. Harvard, por exemplo, é referência nesses dois quesitos, e compõe a mística o fato (ou mito?) de que algumas bibliotecas funcionam até altas horas abrigando estudantes que costumam passar a madrugada estudando. E qual será a mística da UFSC? Estudantes transitando até altas horas no campus em “festinhas” que tem o potencial de ser um convite a bebedeiras, ao uso de drogas e a promiscuidade sexual? Ora, sabemos qual é a mística de Harvard (o mesmo se aplica a Princeton, MIT etc.), e que é essa mística que dá deferência ao título que ali se obtêm. Em relação à mística da UFSC, o que poderá ser dito?
Marcelo Carvalho
Professor do Departamento de Matemática