Acredito que todos os professores receberam um comunicado assinado pelo Chefe de Gabinete do Reitor e distribuído em nossos endereços de e-mail pelo Divulga (Ed. 250) em 02 de outubro do corrente.
Em seu primeiro parágrafo a nota comunica que: “…de acordo com o inciso X do art. 20 do Regimento da Reitoria, aprovado pelo Conselho Universitário em novembro de 2012, a coordenação e a elaboração de projetos institucionais Endashd+ aqueles que necessitam da assinatura do representante legal máximo para liberação de recursos e cujos repasses são feitos diretamente para a conta da UFSC, a qual é a responsável pela sua execução e prestação de contas Endashd+ é agora uma atribuição da Pró-Reitoria de Pesquisa (PROPESQ), por meio do Departamento de Projetos de Pesquisa”.
O atual Regimento da Reitoria foi aprovado na reunião do Cun de novembro de 2012 (Resolução Normativa 028/2012) e em seu Art. 20 Inciso X, consta que compete à Pro-Reitoria de Pesquisa “Coordenar ações para a busca de recursos em projetos institucionais de pesquisa…”
E de fato é o que se espera da Administração Central: que ela não só coordene e harmonize estas ações, mas que as estimule, nos estimule, forneça o apoio logístico e a intermediação que nos são importantes.
Quanto à elaboração destes projetos a história é outra. Elaborar um projeto de pesquisa não significa preencher um formulário, uma planilha de custos ou sentar numa prancheta. Elaborar exige conhecimento da área afeita ao projeto. Portanto, é atribuição Eacuted+nataEacuted+ de quem reÚne competência para isto.
Esta mesma competência é requerida para a defesa e negociação do projeto, em muitos casos, ainda durante a fase de elaboração.
Todavia, em seu primeiro parágrafo, o comunicado, assinado pelo colega Carlos Antônio Vieira, porta voz da Reitoria, dá a entender que, daqui para a frente e contradizendo a própria resolução na qual se apoia, todos os projetos institucionais de pesquisa (e não só ações) serão não apenas Eacuted+coordenadosEacuted+ mas também Eacuted+elaboradosEacuted+ pelo colega Elias Machado Gonçalves e sua equipe na Propesq.
Ou seja, pelo que se lê na nota, ninguém mais precisa se preocupar em elaborar projetos de pesquisa institucionais, pois quem fará isto é a Propesq (por meio do Diretor do Departamento de Projetos de Pesquisa).
O colega Elias Gonçalves e o seu departamento irão cuidar de tudo isto para todos nós!…
Ou será o próprio Gabinete?…Ora, na mesma nota , lê-se, em seu terceiro parágrafo, que: “A Administração Central alerta a todos os pesquisadores que a elaboração dos projetos institucionais e a sua respectiva negociação em nível externo à UFSC (ministérios, em particular) é uma atribuição do Gabinete da Reitoria, e nenhum pesquisador está autorizado a, individualmente, falar em nome da UFSC”.
Deu para entender?…
Afinal de quem é esta suposta atribuição que não está escrita: do Gabinete?…da Propesq?… Irão elaborar estes projetos?…Convencer as entidades de financiamento?…Expor-lhes as razões?…Defender a importância de suas metas para a universidade e para o país?…
Coordenação, harmonização, apoio, estímulo e mesmo a intermediação junto aos órgãos de fomento são ações importantes que todos os professores esperam da Administração Central de uma Universidade.
Eacuted+ElaboraçãoEacuted+ está em uma dimensão que exige o aporte do pesquisador individualmente e é o seu mérito que a torna uma sua atribuição.
Mas o que mais choca na nota é o epílogo: “Nenhum pesquisador está autorizado a, individualmente, falar em nome da UFSC”.
Imagine-se um colega reconhecido por seus méritos em Termodinâmica ou Linguística, na defesa de uma ideia junto a um ministério, órgão de fomento ou mesmo empresa com quem tenhamos um convênio institucional de colaboração técnico-científica. Se este colega não puder falar em nome da UFSC o que é de sua especialidade, quem irá falar em seu nome?…
Este epílogo pela voz do porta-voz da Administração Central revela, além de uma afronta, um enorme desconhecimento, não só sobre como esta universidade foi construída, mas sobre a forma como se administra uma universidade.
Neste sentido, o comunicado do Chefe de Gabinete do Reitor estampa ainda (em seu segundo parágrafo) uma espécie de preocupação que aprofunda o meu sentimento de que a Administração Central está “metendo os pés pelas mãos” na questões administrativas: “A medida tem por objetivo cumprir o estabelecido no Regimento da Reitoria e garantir que no orçamento dos projetos exista uma contrapartida pelo uso dos recursos humanos e da infraestrutura de pesquisa da UFSC. Apenas em 2012, a UFSC captou R$ 380 milhões com projetos institucionais”.
Ou seja, traduzindo em bom português: “Dos 380 milhões que foram captados pela UFSC em 2012, qual a fatia que foi para a UFSC?…”
A resposta é uma só: Eacuted+Todos os 380 milhõesEacuted+, na forma de equipamentos, prédios, bolsas para alunos, professores e STAE, deslocamentos para congressos, visitas a instituições, reuniões…etc.
Mas, infelizmente, não é assim que a nossa Reitora e seu núcleo de apoio aparentam entender.
Admitamos que esta preocupação esteja relacionada com as taxas.
Não sou contra taxar projetos de pesquisa quando esta pesquisa é de interesse e financiada por uma empresa e aqui entendo a preocupação embutida no comunicado “garantir que no orçamento dos projetos exista uma contrapartida pelo uso dos recursos humanos e da infraestrutura de pesquisa da UFSC”. Se a pesquisa é de interesse de uma empresa, é a empresa quem deve pagar por isto. Também sou a favor de que taxas, como estas, sobre recursos captados em uma área consolidada sejam redirecionados para uma outra ainda emergente e em acordo com uma política acadêmica institucional balizada pelo mérito.
Mas ministérios e órgãos de fomento não são empresas e seus editais visam alavancar áreas do conhecimento julgadas importantes para o país e estimular o desenvolvimento de competências naquelas áreas.
Se você como professor (nesta ou naquela universidade) atua na área do Edital e é competente, candidate-se ao Edital com o apoio logístico de sua universidade e, caso sua proposta seja aceita, receba os recursos que você precisa para alavancar a sua ideia.
E, por este feito, receba os devidos cumprimentos, estímulos e apoio do seu Reitor.
Se há necessidade de taxas que sejam apenas as para cobrir os serviços necessários ao andamento do projeto.
A UFSC é uma universidade pública e todos os projetos de pesquisa são taxados (institucionais e não institucionais) e a razão para isto também é simples: não sobra dinheiro por aqui e nossos departamentos, centros…etc precisam de mobília, computadores, internet e coisas assim. Além disto, precisamos prover alguma infraestrutura física e apoio logístico para professores novos e/ou não diretamente ligados ao desenvolvimento de projetos.
Uma coisa empurra a outra.
Mas todas estas taxas estão regulamentadas na UFSC.
Daí, qual a razão deste segundo parágrafo no comunicado?…E do próprio comunicado?…
O “garantir” sugere desconfiança É o que faz o caixa de uma padaria ser o próprio proprietário….ou alguém da família.
Mas a UFSC não é uma padaria…e é bem mais que um supermercado.
Não há como conceber um Angeloni funcionando com uma administração centralizada e este comunicado do Gabinete escancara o espírito de gestão centralizador e autoritário que a Administração Central está querendo impingir à nossa universidade.
Seria desconhecimento administrativo?…
Ou seria ainda a simples mediocridade para quem o mundo perfeito é aquele sem desequilíbrios e onde todos devem resignar-se ao mesmo nível?…
Em alguns exércitos, os heróis eram fuzilados para que não contribuíssem para baixar a moral do restante da guarnição.
Paulo C. Philippi
Professor do Departamento de Engenharia Mecânica