Estelionato eleitoral na UFSC: Dois anos de ingestão

O senso comum denomina de Manezinho, aquele cidadão nascido nesta bela cidade de Florianópolis associando-o ao descendente de açoriano. No entanto, convivendo há 37 anos nas várias comunidades da Ilha, concluí que é preciso estabelecer a relação afetuosa, de amizade e companheirismo, para passar a entender melhor e até optar, como foi meu caso, por aqui radicar e constituir família.

Mas, o que leva a me auto-intitular “Manezito” é o fato de que é caracterizado, muitas vezes, o manezinho como um sujeito ingênuo. E é neste tipo de personalidade que gostaria de discorrer o meu sentimento diante da frustração e sensação de traição, bem com a negação de princípios. Refiro-me especificamente ao verdadeiro ESTELIONATO ELEITORAL ocorrido há dois anos, por parte de todas as pretensões e promessas, escritas, por parte das atuais ocupantes do maior cargo na UFSC. Fui um ingênuo que, diante de inúmeros colegas e amigos que me alertavam do que estava para ser visto, não seria nada agradável. E assim está sendo!

Por ocasião de dois anos de mandato, hoje – 10 de maio – e resgatando a CARTA DE PRINCÍPIOS onde no seu histórico registram a importância do Fórum de Diretores de Centros de Ensino, enquanto “definidores de políticas institucionais de gestão, na forma de um permanente diálogo entre os diretores e a administração central, contribuindo para o desenvolvimento de propostas e ações de forma sistemática, holística”. Quantas reuniões ocorreram nestes dois anos de Ingestão?

E o que dizer dos FÓRUNS que não FORAM? Espaços onde se discutiriam de forma transparente as grandes questões da Universidade Pública e da nossa UFSC na sua especificidade, e aqui sim, seria o inovador desta gestão. O que se recebeu esta semana foi o Boletim nº 1 do Ano 1 denominado NOTAS DA GESTÃO, onde convidam para uma audiência pública para discutir as questões de iluminação no Campus. Prestem bem atenção! Passaram-se 730 dias de gestão e só agora se abre a discussão desse tema! Mas, como diz o ditado: “antes tarde do que nunca”!

O que temos na Universidade que queremos? Só para lembrar, quando do 2º turno da eleição as concorrentes postaram (e entregaram documento, que conservo em minhas mãos e ando com ele diuturnamente): “A candidatura reafirma seus princípios de: Foco institucionald+ Plural, propositiva, transparented+ Compromisso e coerência com os princípiosd+ Independented+ Autônoma e responsáveld+ Democrática e dialógicad+ Acadêmica e de qualidaded+ Ética e transparented+ Uma única UFSC”.

Neste documento, cada leitor pode fazer a sua análise! A minha, como “Manezito” é:

–           As detentoras do atual mandato precisam recuperar os compromissos assumidos e ler, reler e compreender que é necessária muita coerência! Para isso, começaria pela entrevista dada ao Jornal Zero, em novembro de 2011, na página 14, onde assim se manifestou a Profª. Roselane: “O que temos são decisões de cima para baixo.” E aí pergunto: mudou a postura nesses 730 dias de ingestão? Mudou, sim! Para pior!!!!! A concentração e o autoritarismo são latentes!

–           “Uma única UFSC”, diziam as concorrentes no 2º turno. O que temos hoje: a UFSC  fracionada em quinze unidades (que são os onze Centros de Ensino e mais quatro Campi), onde o diálogo se constitui num monólogo de cima para baixo. É só assistir as gravações das reuniões do Conselho Universitário!

–           Desrespeito para com os Conselhos Superiores. Aqui registro parte da Carta Aberta do Conselho de Curadores que, em 19 de setembro de 2013, aprovou por unanimidade o encaminhamento de documento com questões altamente relevantes para a instituição e com um final que merece registro: “[…] Estamos vivenciando uma crise administrativa, que gerou a necessidade de emissão deste documento, com o objetivo claro e transparente de dar conhecimento à comunidade universitária dos fatos aqui mencionados[1], preservar a independência dos Órgãos Colegiados Superiores, fazer com que suas deliberações sejam acatadas pela Administração Superior da UFSC, lembrar da necessidade de observância do princípio constitucional da eficiência, invocar a necessidade do resgate da prática democrática e salvaguardar a responsabilidade que cabe a este Conselho.”

–           Um regime administrativo de terror! Palpável pelos mais de duzentos (isso mesmo: mais de 200!) processos contra servidores. Um verdadeiro assédio moral! Será que era necessário abrir tantos processos contra servidores que trabalham nesta casa há mais de vinte anos? Pessoas que sempre vestiram a camisa da instituição! Processos que demonstram a verdadeira face autoritária com que ficará marcada esta ingestão!

Tem muitos mais pontos a levantar lendo todo o vasto material recebido na campanha do 2º turno, mas com esses já posso afirmar que os “Manezitos” sofreram um verdadeiro ESTELIONATO ELEITORAL! Votamos em promessas que estamos acostumados a criticar nos políticos tradicionais, que condenamos e nos manifestamos sempre que a democracia está em xeque. Para encerrar a passagem desses 730 dias de ingestão, cabe registrar a frase profética do Ex-Reitor Lúcio Botelho, que no artigo do Jornal Zero, em novembro de 2011 disse sobre a condição de Reitor, citando Mário Quintana “Todos passarão e eu passarinho” finalizando que “A universidade resiste à má gestão”.


[1] São listados dezesseis pontos na carta. Quem quiser ler a carta completa pode solicitar uma cópia na Secretaria da Sala dos Conselhos ou me envie E-mail para receber a cópia que possuo em meu arquivo – [email protected]

 

José Fletes

*Professor do Departamento de Informática e Estatística da UFSC.