Terceirização do RU, legitimidade e o “Dogão do RU”

Recentemente, a administração central emitiu uma nota sobre a greve dos funcionários no seu “Blog da Gestão” que merece uma reflexão

http://blogdagestao.ufsc.br/2014/05/30/reitoras-emitem-comunicado-aos-estudantes-sobre-acoes-durante-a-greve-dos-taes/

Em relação ao fechamento do RU (restaurante universitário), a administração central afirma que:

“Não há condições para o funcionamento do restaurante do campus da Trindade, pois os servidores que atuam em áreas técnicas estratégicas e especializadas do setor estão em greve, o que inviabiliza sua abertura.”

Contudo, como sabemos, o RU das agrárias não está paralisado. Logo, concluímos que no RU das agrárias inexiste o mesmo vínculo que impede o RU do campus da Trindade de operar. Ora, mas se não existe tal vínculo, o problema é então facilmente solucionado bastando reproduzir no RU da Trindade o mesmo modelo de gestão do RU das agrárias, solução que essencialmente consiste em relocar os funcionários da universidade que estão no RU da Trindade para outros setores de modo a ter todo o RU terceirizado. A boa vontade da administração central em realizar isso só será resultado de uma pressão massiva dos estudantes que deveriam colocar isso como ponto de reivindicação do DCE nas próximas eleições.

Na mesma nota do Blog da Gestão lemos outro ponto interessante que mostra como a atual administração central pensa a questão da legitimidade. Vejamos este trecho:

No que tange ao funcionamento do Restaurante Universitário e da Biblioteca Central, cabe-nos frisar, ainda, que os próprios estudantes, reunidos no Conselho de Entidades de Base (CEB) em 21 de março de 2014, aprovaram uma nota de apoio incondicional à greve dos técnicos. Ressalte-se que havia duas propostas em pauta, das quais a primeira foi aprovada por maioria:

a. “Uma nota incondicional de apoio à greve”d+
b. “Uma nota de apoio condicionada à abertura parcial imediata do Restaurante Universitário e da Biblioteca Central”.

Ora, por que a ênfase da nota da administração central em afirmar que os próprios estudantes reunidos no CEB aprovaram uma nota de apoio incondicional a greve dos servidores? Por acaso, as deliberações de CEB’s, CA’s, DCE’s etc. seriam mais representativas do que um abaixo assinado com ampla participação do corpo estudantil que decidisse por outra coisa? Ou será que já esquecemos que o DCE na gestão que compreendeu o biênio 2010-2012 havia proposto em assembléia geral (alguém sabe o quórum?) a suspensão do primeiro semestre das aulas em apoio à greve dos funcionários, só para ver esta decisão ser solenemente ignorada pelos estudantes, que continuaram assistindo suas aulas normalmente. E o que é mais significativo, é bom lembrar que, na ocasião, os mesmos estudantes, um mês depois, reuniram em menos de dois dias quase duas mil assinaturas solicitando que o CUn fixasse o retorno das aulas do segundo semestre de 2012, algo que passou longe do horizonte do DCE, CEB, etc.. Vemos então que a insistência da administração central em reconhecer a decisão do CEB em apoiar incondicionalmente a greve dos servidores serve aqui de justificativa para deixar as coisas evoluírem a seu jeito, que é como a administração central tem tratado a questão. Resta saber se a maioria dos estudantes está disposta a permitir ter sua voz sufocada pelo assembleísmo de uma minoria reunida em órgãos que deveriam primar pela legitimidade.

A lição é clara e evidente, e a experiência em universidades pelo Brasil afora mostra que um DCE, CEB, CA etc. dominado por estudantes militantes só serve aos interesses de organizações partidárias que aparelham o movimento estudantil, ou aqueles que detem o poder e tentam cooptar tais entidades. Voltando a UFSC, a próxima eleição para o DCE pode ser o início de uma tomada de posição consciente dessa maioria estudantil que não quer mais se calar.

PS: Soube de um “dogão” organizado pelos estudantes a preços módicos. Irei lá. Será que alguém da administração central se disporia a ir lá também para conversar com esses estudantes e ver o que eles têm a dizer? Ou será que o diálogo sempre tem que ser feito de forma amorfa e impessoal via representações estudantis que quase sempre se mostram disformes e engessadas?

Marcelo Carvalho

*Professor do Departamento de Matemática da UFSC