A universidade brasileira, liderada pelas estaduais paulistas e pelas federais, já evoluiu bastante ao longo de poucas décadas de existência. Atualmente entendo que a vanguarda dessas universidades públicas, que inclui a UFSC, apresenta quatro sérios problemas.
O primeiro deles é externo. Os demais sistemas produtivos nacionais ainda não dispõem de quadros de pessoal com capacidade para buscar, dominar e utilizar conhecimentos disponíveis nas revistas e congressos científicos de nível internacional. Diferentemente do que ocorre em países desenvolvidos, o percentual de pessoal qualificado em nível de mestrado e doutorado disponível nesses sistemas produtivos externos é ainda muito pequeno. A disponibilidade de conhecimentos em idiomas estrangeiros, especialmente em inglês, dificulta o acesso e o entendimento dos textos.
A maior parte dos profissionais formados na pós-graduação continua a ser absorvida pelas universidades em tempo integral. Estima-se que mais de 70% dos egressos capacitados para gerar novas tecnologias e inovações estejam nas universidades brasileiras. Nos países mais desenvolvidos este percentual está empregado nos sistemas produtivos de bens e serviços.
Os outros três problemas são internos às referidas universidades de vanguarda. Essas instituições públicas precisam aumentar sua eficácia através da utilização de mecanismos apropriados. Um deles é a obtenção de temas socialmente relevantes para os trabalhos de pesquisa envolvendo os alunos. A interação com empresas e órgãos governamentais é essencial para o sucesso dessa incumbência.
A segunda dificuldade decorre do tempo integral dos docentes. Fazendo o mestrado e depois o doutorado para logo em seguida ingressar no magistério superior, os professores acabam se especializando em demasia, perdendo a noção de conjunto e a contextualização mais abrangente dos temas acadêmicos em que estão envolvidos. Nestas condições fica muito difícil aproveitar bem as potencialidades interdisciplinares disponíveis numa universidade. A realidade externa é essencialmente transdisciplinar.
O terceiro problema interno que constato está associado à avaliação docente e à pós-graduação. A CAPES preocupa-se com a qualidade desses cursos e acaba impondo a publicação de artigos em revistas de nível internacional. Muitas áreas de conhecimento, diferentes das áreas básicas, acabam desligando-se da realidade regional e nacional para atuar em temas que permitam a aceitação de seus trabalhos em revistas e congressos do exterior.
A autonomia universitária, inserida na Constituição, pode ser acionada para criar liberdades acadêmicas que permitam uma atuação docente mais eficaz, ensejando melhores contribuições para a solução dos problemas efetivos da sociedade catarinense e brasileira, devidamente identificados através da extensão universitária.
*Raul Valentim da Silva
Professor aposentado da UFSC