Ao analisar as últimas notícias sobre a concessão de registro sindical para as entidades que pleiteiam representar os professores das universidades federais neste país, tenho a nítida sensação de estar vivenciando o mesmo sentimento que o Capitão Nascimento deixou claro no filme Tropa de Elite 2 na sua última cena. Esta comparação se deve aos fatos presenciados por mim e por dezenas de outros professores da UFSC ao longo dos últimos 2 anos, nos quais tive orgulho e a honra de fazer parte de uma diretoria de um sindicato que alterou profundamente as bases políticas do sindicalismo universitário brasileiro.
No início da minha vida acadêmica, nos anos 80, participei ativamente da constituição de um sindicato nacional dos professores universitários (Andes) que atualmente serve apenas para um pequeno grupo de professores radicais tenham um “fórum privilegiado” aonde compartilham suas convicções políticas absurdas, tais como implantar pela “luta das massas” um regime político ditatorial, exatamente igual ao implantado em Cuba, China, Coréia do Norte e outros assemelhados. Longe de ser democrático, o foco primário daqueles que defendem as atuais orientações políticas da Andes visa prioritariamente sua ascensão ao poder, servindo de suporte financeiro para alguns partidos políticos minoritários deste país, de nítida tendência maoísta. O mais ridículo é ver nos “balanços financeiros” no site da Andes, o último é de 2005. Só faz 5 anos que os “vinculados à Andes” não sabem que foi feito com o dinheiro deles, ou seja, não sabem é o que é feito com sua contribuição sindical oficial enviada para a Andes todos os meses das suas seções sindicais, descontada diretamente de sua folha de pagamento oficial. Para mim, isto não é sindicato. É sim um “te cato” para financiar meus projetos políticos. Isto é exatamente o que os “generais do crime organizado” no Rio de Janeiro fazem com a população civil presente nos morros, como no filme supracitado.
Durante minha carreira acadêmica, tomei ciência e convivi com outras facções políticas dentro da UFSC, com tendências não menos perniciosas que a anteriormente citada, muitas vezes diametralmente opostas, mas consegui com muito esforço pessoal me manter “vacinado” contra os radicalismos políticos que sempre existiram dentro do meio universitário, tanto de direita como de esquerda, centro ou qualquer adjetivo político que queiram dar.
Atualmente, no final de minha carreira acadêmica, estou vivenciando uma realidade tão absurda como no filme supracitado. Tal realidade ocorreu depois de ter participado diretamente da constituição de um sindicato com base territorial estadual, conforme está estipulado nas leis que regem este país, seguindo todos os procedimentos democráticos legalmente institucionalizados. Este meu espanto se refere especificamente ao Proifes-Sindicato, que nasceu de um grupo de professores descontentes com a Andes que resolveram mudar o rumo político que alguns colegas radicais impingiram ao tomar o poder na Amdes. O Proifes, sem dúvida alguma, prestou um enorme serviço aos professores universitários do país, ao se antepor aos projetos políticos arcaicos que a Andes preconizava e foi um importante colaborador na constituição da Apufsc-Sindical, criada durante minha participação na Diretoria.
O fato inquestionável é que, com base legal, seguindo rigorosamente o que o antigo regimento que a própria Andes preconizava, dentro das normas estabelecidas, a Apufsc se desfilou da Andes, com base em seu regimento, aprovado em votação de assembléias conforme indicavam os estatutos da mesma Andes e com a participação direta de todos os membros vinculados à Andes. A Apufsc conseguiu, com uma votação de mais de 2.000 professores na UFSC, sua independência financeira, sua autonomia política, afinal a sua LIBERDADE. Tal fato inquestionável teve uma enorme “repercussão política” em outras associações de professores pelo país, mesmo naquelas ainda filiadas à Andes, levantando uma série de questionamentos que anteriormente não haviam.
Foram exatamente estes fatos inquestionáveis que provocaram uma reação dentro do Proifes, que durante muito tempo foi parceiro e nos auxiliou na formação de uma nova direção política nos rumos do sindicalismo universitário deste país. Infelizmente, o Proifes se filou à CUT ao longo de sua constituição, passando assim a repetir a história de tutela política que a Andes tinha anteriormente, cometendo o mesmo erro e almejando o mesmo poder. No site do Proifes-Forum, ao verificar o setor financeiro, notamos que as últimas contas aprovadas são de 2006, ou seja, continua tudo como dantes no quartel de Abrantes. No site da Apufsc-Sindical as últimas contas aprovadas são de 2010. Como se observa no filme, sempre É uma questão financeira.
A Apufsc-Sindical fez história, provocou novos paradigmas, levantou questionamentos que nunca haviam sido cogitados anteriormente sobre o sindicalismo universitário deste país. Não queríamos mais a tutela de um sindicado nacional, não queríamos mais a vinculação a qualquer facção política, não queríamos mais qualquer vinculação com o governo, sonhamos o “sonho impossível” de ser independentes e honestos na representação de uma categoria profissional. Nossos colegas da Diretoria da Apufsc que promoveram estas modificações no sindicato sonharam em construir algo novo, diferente, que apenas pudesse representar a vontade de uma maioria de professores universitários, sem a tutela de qualquer instituição, sem a imposição de uma minoria atuante nas lides do sindicato que se consideram os donos do poder. Isto é e sempre foi muito perigoso neste país dominado pelo “crime organizado”, como o filme mostrou muito bem. Mostra claramente que o poder político está diretamente vinculado a um aporte financeiro que serve para sustentar alguns poucos em detrimento dos muitos que contribuem.
O motivo de estar escrevendo este artigo se refere ao que foi publicado pelo Ministério do Trabalho e Emprego, na última semana. O MTE é o órgão responsável no governo federal para emitir os registros sindicais das categorias profissionais deste país. Ocorre que, depois de registrar no Diário Oficial a Apufsc como única representante legal dos professores universitários do estado de Santa Catarina, impedindo a Andes de atuar neste estado, o próprio Ministério do Trabalho, resolveu desfazer o que tinha feito legalmente. Rasgou a Constituição, tomou as “dores” de poucas dezenas de professores na UFSC, que não aceitaram a desvinculação da Apufsc da Andes e criaram um “sindicato paralelo” ainda vinculado à Andes, sem base legal, sem representatividade nenhuma, apenas por não aceitarem sua derrota anterior com base nas assembléias realizadas pela Apufsc. Estes professores simplesmente não acataram a decisão de mais de 1.000 professores em se desvincular da Andes e se dizem representantes democráticos.
O mais inusitado desta situação foi que, por pressão política do próprio Proifes junto aos componentes do staff do ministro Carlos Lupi do MTE, fez questão de cancelar uma ordem judicial que impedia a Andes de atuar em Santa Catarina. Depois de o próprio ministro se comprometer em entregar pessoalmente a carta sindical para a Apufsc. Por influência de vários colegas vinculados ao Proifes, foram realizadas várias visitas ao Ministério do Trabalho, para segurar a liberação da carta sindical da Apufsc. Depois de longas negociações, em reunião realizada no dia 10 de novembro de 2010, a qual compareceram algumas associações vinculadas ao Proifes, houve a promessa formal do ministro de conceder o registro do Proifes-Sindicato, independentemente das repercussões que este ato teria em Santa Cataria ou para a Apufsc-Sindical. Ficou claro para todos que acompanharam o desfecho dos atos ministeriais e das atitudes tanto da Andes como do Proifes, que houve muita negociação paralela antes de se tomar qualquer atitude sobre os registros sindicais pendentes no MTE. Isto ocorreu em novembro de 2010, após a Apufsc-Sindical ter obtido seu registro antes de qualquer outra instituição.
Tal fato, divulgado para os professores no site do Proifes, demonstrou que era muito perigoso não ter controle político sobre as “facções”, como o filme Tropa de Elite 2 mostrou. Os mandatários em Brasília não podiam deixar nascer um novo tipo de sindicalismo no país, sem nenhuma vinculação política, independente, sem controle de partidos políticos ou influência dos atuais ocupantes do poder central deste país. Portanto, o ministro em um ato político muito semelhante ao que presenciamos nos noticiários desta semana, criou um UPP (unidade pacificadora de professores) e permitiu que qualquer grupo possa se beneficiar do árduo trabalho dos professores universitários deste país, permitindo que a Andes mantenha uma “filial” aqui em Santa Catarina, mesmo contra a vontade da maioria dos professores.
Tais atitudes, obtidas em “reuniões” na “ capital federal”, indicam muito claramente como um pequeno grupo de pessoas podem provocar um enorme estrago quando os interesses políticos de alguns são afetados. Ficou muito claro que a Andes havia conseguido realizar uma “negociação” com os representantes do MTE e impôs à maioria dos professores da UFSC a vontade de uma minoria que não aceitou sua derrota nas urnas. Ficou claro também que o Proifes, para conseguir manter-se na ativa, aceitou partilhar o poder com a Andes para continuar a se manter vivo no cenário sindical das universidades brasileiras, mesmo abrindo mão de princípios que eram considerados sólidos para muitos de seus componentes.
Assim como no filme, estamos precisando desesperadamente de um Bope dentro das universidades, além de muitos “capitães nascimento” para dar cabo do “crime organizado” que se apoderou dos professores universitários deste país. O maior problema que vamos enfrentar vai ser o “treinamento da tropa de elite” porque existem poucos profissionais dentro das universidades federais brasileiras, que sabem exatamente como fazer isto. Enquanto o treinamento não acontece, vamos montando nossas UPPs em “pontos estratégicos” das universidades federais, esperando ver como as coisas vão se desenrolar.