A Pesquisa Científica e Tecnológica feita no Brasil, assim como ocorre em outros países, depende fortemente do trabalho desenvolvido nas universidades públicas de nosso país. Uma vez que, reconhecidamente, essa pesquisa ainda é considerada incipiente e de pouca expressão a nível mundial, conclui-se que muito ainda há que se fazer nesse sentido, dentro das universidades brasileiras. Acreditamos que a UFSC se enquadre bem dentro de uma média do que ocorre na maior parte delas, quando pensamos na pesquisa que aqui é realizada comparada às demais de nosso país.
Isto posto, conclui-se que é fundamental que incentivemos as atividades de pesquisa dentro do nosso meio, principalmente porque isso vai nos tornar mais aptos a formar novos (e quem sabe, em maior número) cientistas e técnicos capacitados. O desenvolvimento da pesquisa (acadêmica ou não) em nosso país ainda não tem a tradição nem o nível desejado e não vamos atingi-los como em um passe de mágica, mas, sim, através do fruto de muito trabalho de nossa parte e investimentos adequados. O nosso papel, em particular aqui na UFSC, é contribuir para que as futuras gerações atinjam tal patamar de excelência. Com raras exceções, a pesquisa que aqui fazemos hoje, tem (gostem ou não!) essa finalidade principal.
A proposta de “Nova Tabela de Progressão Funcional”, que de nova não tem nada, pois em essência é cópia da que foi apresentada à comunidade da UFSC no ano passado, parece-nos que vai na contramão desses fatos e tenta privilegiar situações que quase não existem em nosso meio (ou que pensam que existem!). Podemos observar isso em vários itens contemplados nessa tabela, mas um tópico em particular nos chama a atenção e é um exemplo claro do que acabamos de dizer. Trata-se da escala de pontuação proposta para autoria de livros. Nela, textualmente, temos para a pontuação máxima da tabela:
“Autoria de livro com ISBN, aprovado por corpo editorial, com conteúdo inédito, constituindo uma obra de relevância científica na área de atividades do(s) autor(es) e significando o resultado de uma intensa atividade de pesquisas na área, comprovada pela referência a contribuições deste(s) autor(es) sobre os diversos temas tratados na obra, na forma de publicações em revistas indexadas com fatores de impacto ou a outros livros publicados pelos mesmos autores”.
Com metade da pontuação máxima, temos, por outro lado:
“Autoria de livro didático com ISBN, aprovado por corpo editorial, com a finalidade de servir como texto ou referência em uma disciplina de graduação ou pós-graduação”.
E no fim da tabela, com apenas 10% do valor máximo:
“Editoração e organização de livros, jornais ou revistas, autoria de capítulo de livro com ISBN, aprovado por corpo editorial, na área de atividades do docente, autoria de livro para Ensino à Distância”.
Uma inspeção rápida deste exemplo nos faz concluir que um texto, escrito por alguém que cita de forma enfática artigos e/ou livros que ele mesmo publicou sobre assuntos extremamente especializados e cujo “público-alvo” na maioria das vezes são as traças que habitam as prateleiras de bibliotecas ou então ficam disponíveis em sites de pouquíssima ou nenhuma circulação, deve ser bem mais valorizado do que um texto didático voltado ao que de fato deveria ser nosso público-alvo, ou seja, os nossos alunos. Que as obras tenham passado por um corpo editorial sério, comprometido apenas em avaliar o conteúdo das mesmas, é o óbvio em qualquer caso.
Parece-nos claro no exemplo acima que a intenção da tal tabela é a de relegar a segundo plano qualquer iniciativa de um docente da UFSC de tentar cumprir sua missão mais importante, que é o de utilizar seu conhecimento, adquirido através de suas atividades (tanto em pesquisa, como extensão ou ensino), para contribuir com uma boa formação aos jovens que por aqui passam com a finalidade de adquirir tal formação, seja para atuar fora da universidade como dentro dela, no futuro.
A UFSC é um lugar onde se deve produzir conhecimento, mas, antes de mais nada, deve produzir profissionais capacitados e cada vez mais bem preparados para as necessidades do País. Por incrível que pareça a alguns, é ainda uma ESCOLA. Centros de pesquisa existem no país, embora poucos. Certamente deveríamos ter mais. Para aqueles que acham que a “ obra de relevância científica” é tão mais importante que o livro didático, certamente haverá lá um lugar.
Gostaríamos ainda de mostrar, baseados na tabela proposta, o resultado de um exercício que fizemos simulando a situação de dois professores hipotéticos A e B conforme a tabela que está disponível para a visualização no site www.apufsc.org.br.
Como podemos observar claramente, o professor A progrediu apenas após o oitavo semestre, tendo sete avaliações positivas, ou seja, atingindo pontuação mínima de 50 pontos/semestre. Já o professor B progrediu um semestre antes, tendo apenas quatro avaliações consideradas minimamente satisfatórias.
Então como deve ser nossa avaliação funcional? Em nossa opinião, é muito simples. Deveríamos manter a tabela atual e seus procedimentos e apenas retirar o grande defeito que veio com ela, que quer nos obrigar a sermos super-professores universitários (ou conseguir um bom cargo administrativo, com mais de 30h semanais!). Basta retirar a famigerada saturação da pontuação, que nada mais é que uma mudança de escala dos pontos obtidos. Dever-se-ia também acabar com o tal de IQ ou “até X pontos” para uma dada atividade. Ou essa atividade se enquadra no item avaliado, ou não. Se for para fazermos avaliações subjetivas, então não precisamos de tabelas com pontuações tão detalhadas. Enfim, acho que já temos uma boa tabela de Progressão Funcional, só temos que adaptá-la e corrigi-la baseados em experiências passadas. Ou, quem sabe, deixamos de lado essas tabelas todas e delegamos a cada respectivo Colegiado de Departamento, dadas as especificidades de cada um, decidir sobre os seus critérios de Progressão Funcional.