A reunião realizada no dia 19 de abril de 2012 pelos membros da comissão formada para propor critérios de progressão funcional dos professores traz, como novidade em relação à “nova proposta” e à proposta apresentada no final do ano passado, a pontuação que poderá ser obtida pelo professor se este for avaliado pelos estudantes. A ideia de ouvir os estudantes é boa pois através das críticas e elogios é que poderemos nos aperfeiçoar nas atividades específicas de ensino. Entretanto, como será atribuída pontuação e esta implica incremento salarial, teremos em pouco tempo os chamados “professores bonzinhos”. Ouvir estudantes influencia no nosso crescimento profissional – não há dúvida – e achamos que deve ser incentivado, porém sem atribuições de pontuação. Assim, salvo a participação estudantil, a “supernova” proposta de progressão continua sem ter nada de novo em relação às apresentadas anteriormente. Além de não ser nova, só é super-nova cronologicamente. E estranhamente, mesmo após termos publicado no boletim da Apufsc (nº 767, de 9 de abril de 2012) uma simulação – não opinião – mostrando o absurdo que pode ocorrer quando dois professores são avaliados e comparados após oito semestres (ver tabela no site da Apufsc), a comissão manteve a proposta inicial. Na simulação vemos claramente que um professor “A”, com sete avaliações positivas (semestres) progride um semestre depois do professor “B”, que tem apenas quatro avaliações positivas (semestres). É provável que não tenham lido ou, se leram, não entenderam o que comentamos naquele artigo. Não temos como saber, pois não recebemos qualquer crítica – muito pelo contrário – só elogios ou comentários concordando conosco, exceção apenas ao colega Raymundo Baptista. Isto apenas confirma o que dissemos acima e, felizmente, o colega, até o momento, foi o único que demonstrou não ter lido ou entendido o que escrevemos, senão como poderia ter escrito o que escreveu em boletim posterior (nº 768, de 23 de abril de 2012) mencionando nosso artigo? Como fomos citados no seu texto, vamos, além de respondê-lo, aproveitar a oportunidade que o professor nos deu para comentar sobre outro ponto da proposta de progressão: a pesquisa, assunto praticamente único e valorizado pelo colega Raymundo no seu texto, e que dá ideia da visão que tem sobre universidade. Antes de discutir sobre pesquisa, gostaríamos de esclarecer os colegas sobre alguns pontos: I) poderíamos ter respondido ao colega Raymundo no mesmo boletim, porque tínhamos conhecimento do texto com antecedência, mas não o fizemos por não acharmos correto, ainda mais tendo informação privilegiada, pois um dos autores deste artigo é membro da diretoria da Apufsc-Sindical. II) o prof. Raymundo Baptista já havia publicado o artigo anteriormente no ambiente do Departamento de Física, porém, como os colegas deste departamento já o conhecem, ninguém se deu o trabalho de respondê-lo e talvez por isso tenha se sentido encorajado para fazê-lo no boletim, acreditando que tinha muitos apoiadores. III) diz em seu texto que o que escrevemos não vai ao cerne da questão. Mas é exatamente o que escrevemos que é o cerne da questão: a simulação entre os dois professores conforme mencionamos, e a publicação de livros (citamos apenas estes dois exemplos, sem entrar no mérito). Agora adicionaremos alguns comentários sobre as pontuações no item Pesquisa, da tabela de progressão proposta pela comissão. Esperamos que colegas reflitam e se manifestem sobre elas, concordando, adicionando, criticando, rejeitando, etc., mas que se manifestem, até para termos ideia do que a comunidade acadêmica pensa. A tabela de pesquisa proposta pela comissão e defendida pelo colega Raymundo, atribui pontuação a artigos publicados independentemente do número e de autores. Um verdadeiro absurdo! Um artigo publicado por um único autor é garantia 100% de que o trabalho é dele. Um artigo publicado com coautoria é garantia 100% de que o trabalho é compartilhado. Como é possível um único autor receber a mesma pontuação de vários autores? Um artigo com dois, três, quatro autores (a imensa maioria dos artigos produzidos nas academias) vale tanto quanto um artigo de um colega que publicou sozinho? O que dizer de artigos com seis, 10, 20, 3206 autores? Não é piada e a conta não está errada não: 3206 autores, e nós contamos. Vejam a referência “Physics Letters B, v 1.36 (2010)”. Vejam também o parâmetro de impacto da revista antes da publicação e comparem dois anos depois. E isso que não estamos discutindo o mérito do que é publicado (são propostos modelos? São formuladas hipóteses? São testadas? São resolvidos problemas ou só apresentados resultados? Há conclusões? Etc.). E o que dizer sobre valores agregados de artigos publicados (custos de produção)? O financiamento é público através de projetos? A pesquisa é paga com bolsas de pesquisa ou de outra forma? O que é publicado compensa o que é investido? E como as pesquisas são realizadas nas universidades? Um professor bolsista que recebe para pesquisar faz a mesma pesquisa no qual já tem horas de pesquisas alocadas no plano de atividades do departamento (PAD) e que está incluído no salário? Ou isso não acontece, ou seja, as pesquisas de um bolsista não são as mesmas das aprovadas pelo departamento? Neste caso, como fica a hora de pesquisa atribuída ao professor? Há superposição nas horas? É correto? Está em conformidade com a lei? Há muito para ser discutido, mas, infelizmente, na ânsia de desejarem a aprovação da proposta, tentam impô-las “goela abaixo”.
Como muito bem escreveram os colegas Nestor Roqueiro (boletim nº 767) e Adir Garcia (boletim nº 768), uma proposta de progressão deste tipo afeta a vida profissional de todos e, pela importância que tem, deve ser discutida, rediscutida e rediscutida quantas vezes for necessário, até que haja consenso entre a maioria dos professores envolvidos… E vamos respeitar a nova administração que está sendo empossada dia 10 de Maio.
Quanto aos comentários de dinheiro público, salários pagos pelo contribuinte, justificar salário que recebe, etc, só alguém “no mundo da lua” para achar que um professor recebe bons salários, ou melhor, “no mundo das estrelas” e, fazendo trocadilho com o título deste artigo, diríamos: “no mundo da super-nova”.
Gostaríamos de terminar dizendo aos colegas que não existe nenhuma proposta de avaliação acadêmica, que produza sofrimento, infelicidade a alguém avaliado, que seja moralmente e eticamente válida e, por isso, a proposta deve ser amplamente discutida com a comunidade acadêmica.
Gerson R. Ouriques e José R. Marinelli
Professores do Departamento de Física