Sou professor da UFSC e como tal, aprendi a analisar números e dados concretos, para poder tirar conclusões lógicas sobre aquilo que ensino e/ou publico em trabalhos científicos. Exatamente por isto estou sem entender alguns números e dados atualmente vinculados pelos representantes dos professores das IFES em seus “sites”, nesta greve que já dura mais de dois meses e prejudica mais de um milhão de estudantes universitários deste país.
A primeira dúvida é quanto ao NÚMERO de professores presentes nas assembléias conduzidas pelas secções- sindicais vinculadas a ANDES que deflagram esta que é considerada a MAIOR GREVE já realizada por esta categoria na historia deste país. O fato concreto é que em momento nenhum, foi divulgado o número de professores presentes nas Assembléias destas secções-sindicais por nenhum meio de comunicação desde o início desta greve. È sem dúvida, o principal segredo que a ANDES mantém guardado desde o início do movimento e não tem como saber isto, por mais que se tente descobrir. Apenas algumas Secções Sindicais divulgam o número de presentes, mas nunca são totalizados pelo Comando de Greve em Brasília, e nunca são amplamente divulgados.
O PROIFES, sempre divulga o número de professores que participam das suas consultas eletrônicas sobre as decisões tomadas pelos seus representantes em Brasília, como fizeram na ultima semana indicando que pelo menos 5.000 professores votaram sobre a nova proposta do governo e decidiram aceitar a mesma por ampla maioria. Os números divulgados foram (3854 a favor da proposta e 1322 contra). A APUFSC – Sindical da UFSC, sempre divulgou o número de professores que votaram em todas as suas assembléias. Então, porque este segredo do Comando de Greve na Andes?
Analisando apenas alguns números, retirados de todos os comunicados enviados a nós professores pelo “Blog da Greve” produzido pela ANDES, existem pelo menos 50 universidades federais filiadas com mais de 50.000 professores, o que dá, em media 1.000 professores por universidade. Se por hipótese, apenas 100 professores estiveram votando nas suas assembléias, o total de professores que votaram pela continuidade da greve após a proposta do governo foi de 5.000 professores votantes. Tal NÚMERO de professores presentes nunca foi registrado em nenhum momento desta greve. Ocorre que o número de professores presentes nas assembléias da ANDES dificilmente chega a 100 pessoas presentes, em cada uma das assembléias realizadas até a presente data. Isto é um fato incontestável e absolutamente otimista, em favor da ANDES. Ou seja, no máximo 5.000 professores votaram pela continuidade da greve. Conclusão, esta greve está sendo mantida por menos de 10% de professores das IFES deste país. Falta a manifestação pessoal de mais de 90% destes professores. Além disto, dá EMPATE TECNICO com o número de professores consultados pelo PROIFES, que a Andes não reconhece e que optaram por encerrar esta greve. Sem entrar no mérito da legitimidade ou legalidade do assunto, tais números demonstraram claramente que as “ bases” não estão sendo representadas no Comando Geral de Greve em Brasília pela Andes.
Acredito que o Governo Federal , assim como eu, sabe perfeitamente disto e se utiliza deste dado para realizar suas declarações á imprensa. Mas a ANDES, vai para a mídia, anunciar que a greve é forte e a maior do país, sem ter o respaldo de suas bases. Ela apenas diz que é unanimidade das suas bases e nunca o número de professores presentes nas bases. Ou seja, está nitidamente manipulando a opinião de seus representados e da grande maioria silenciosa dos professores universitários deste país.
Minha segunda dúvida é quanto ao Dinheiro que está financiando a manutenção da ANDES, como legítimo representante dos professores universitários deste país. Ocorre que toda Secção Sindical, arrecada 1% do salário mensal dos professores por força de LEI FEDERAL e repassa para o CAIXA da ANDES um percentual em torno de 20 a 30 % do total de sua arrecadação mensal. Deste total arrecadado, uma grande parte é para manutenção de um Fundo de Greve, que fica nas Secções Sindicais, para poder financiar as viagens dos delegados á Brasília durante as greves, e para outras despesas resultantes de greve.
Ocorre que o montante que deve ser arrecadado mensalmente pela ANDES obrigatoriamente fica em torno de R$ 500.000,00 mensais, isto se considerarmos que cada um dos 50.000 professores vinculados a ANDES desconte apenas R$ 50,00 por mês de seu salário para sua secção sindical, já que a media salarial dos últimos anos de professores com o título de doutor, presente nas IFES gira em torno de R$ 5.000,00, que é a grande maioria dos professores ativos, como a própria ANDES afirma. O total de recursos financeiros arrecadado pela ANDES deve ser em torno de R$ 6.000.000,00 por ano. Este dinheiro é dos professores e gerenciado pela Tesouraria da ANDES ao longo dos últimos anos.
Minha dúvida é que a última prestação de contas que a ANDES publicou no seu site oficial fornecida pela própria Tesouraria da ANDES, foi em 2005, ou seja, a mais de 7 anos atrás e depois disto, não é possível saber como está o CAIXA da ANDES ao longo destes últimos anos, apenas o conselho fiscal da ANDES sabe os valores presentes no seu caixa nos últimos 7 anos. Portanto, eu gostaria muito de saber o que foi feito com os R$ 42 MILHÔES que a ANDES arrecadou nos últimos 7 anos e para que foi utilizada esta “pequena quantia” de dinheiro que todo santo mês a ANDES arrecada. Sem denegrir os colegas professores que devem ser os responsáveis pela organização e manutenção da Tesouraria da ANDES, acredito que este tipo de transparência é fundamental para que as “BASES” deste sindicato nacional possam ter a segurança de que não está ocorrendo nenhum” desvio financeiro” do dinheiro que estes trabalhadores da educação superior do país lutam tanto para conseguir.
Os colegas da ANDES, que sempre estiveram na luta por transparência governamental, transparência das contas públicas, probidade administrativa nas IFES, tem todo o meu respeito e consideração em suas colocações políticas, mas para ter credibilidade junto aos seus representados eles devem no mínimo fazer o DEVER DE CASA e apresentarem aos seus colegas as Contas ANUAIS pelo menos. Infelizmente tais atitudes ainda não se fizeram presentes até hoje. Portanto, sendo bastante condescendente com os NUMEROS apresentados pela ANDES, creio que é hora de sermos honestos com todos os nossos colegas e colocarmos ás claras as “Contas da ANDES”, antes de cobramos do governo federal ou de quem quer que seja a TRANSPARENCIA tão desejada por todos. Basta olhar para os nossos próprios “Contra-Cheques” que todo santo mês recebemos nas IFES e verificarmos quanto é descontado todo mês para o sindicato do qual somos filiados. Sei que descontam do meu salário R$ 69,00 por mês, sou Associado II, portanto, estou sendo bem generoso com os cálculos feitos acima sobre o TOTAL de dinheiro arrecadado mensalmente, por um sindicato nacional, creio que seja muito mais que os milhões mencionados. Se não fizermos nada a respeito disto, vamos em breve ter outro “escândalo financeiro”, de proporções inimagináveis em nosso quintal e aí vai ser muito difícil manter um “discurso político” nas assembléias da bases como alguns colegas brilhantemente o fazem atualmente.
Espero sinceramente que o maldito dinheiro não seja o principal motivo da manutenção desta greve por alguns colegas, acredito que suas intenções sejam as mais altruístas possíveis, mas sem apresentar os NUMEROS e os DADOS existentes sobre o “vil metal” que mantém uma representação nacional, como está acontecendo, vai ser muito difícil para este professor acreditar nestes colegas. Vou continuar a realizar meu trabalho profissional como sempre o fiz, mas nunca vou desistir de PENSAR sobre a universidade de forma honesta e exigir dos meus pares o mesmo.
Ricardo Tramonte
Professor do CCB- MOR e ex-2ª. tesoureiro da APUFSC-SINDICAL.