Entenda a Lei Cancellier, projeto de proteção ao servidor público, parado na Câmara dos Deputados

Proposto pela catarinense Carla Ayres, PL foi apresentado em outubro de 2024, mas não avançou

Em outubro do ano passado, atuando sob o mandato de deputada federal, a atual vereadora de Florianópolis, Carla Ayres (PT), apresentou na Câmara dos Deputados o Projeto de Lei (PL) n°3957/2024. O texto estabelece, através de regras contra situações de abuso administrativo, perseguições e arbitrariedades, a criação do Estatuto de Proteção ao Servidor Público. Desde que foi protocolada, a PL segue estagnada na Câmara.

O projeto, que segundo a autora visa “a garantia contra abuso de poder e assédio, com procedimentos destinados à garantia do devido processo legal, à racionalidade administrativa e à dignidade do servidor”, teve origem na história do ex-reitor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Luiz Carlos Cancellier de Olivo. Em 2017, durante uma ação da Operação Ouvidos Moucos, o então reitor foi preso sob acusações não comprovadas de desvio de recursos públicos, de forma amplamente divulgada pela mídia, e, posteriormente, cometeu suicídio. O PL, inclusive, foi apresentado sob o nome “Lei Cancellier”. O texto diz que a história “expõe e simboliza a vulnerabilidade dos servidores públicos diante de práticas abusivas e a urgência de um marco legal que garanta proteção e dignidade em procedimentos disciplinares.”

Em 2023, Cancellier foi inocentado pelo Tribunal de Contas da União (TCU) e, no início deste ano, o Ministério Público Federal reconheceu a falta de provas e solicitou a absolvição de outros dois docentes acusados no caso. Nenhum dos agentes envolvidos na prisão do ex-reitor foi responsabilizado pelos fatos.

O PL propõe medidas de prevenção e punição a casos semelhantes. Dividido em oito eixos, algumas das principais disposições do projeto são:

  • Limitação de no máximo dois processos administrativos disciplinares (PADs) simultâneos contra o servidor;
  • Criação da Comissão de Avaliação de Processos Administrativos, com representantes da corregedoria, controladoria interna e servidores, para revisar e aprovar a abertura de novos processos através de votação e publicação do parecer no Diário Oficial;
  • Organização dos processos por ordem de gravidade;
  • Supervisão externa dos processos, com a produção de relatórios, que devem ser entregues à Comissão de Avaliação de Processos Administrativos e publicados, acerca da legalidade e condução dos procedimentos, com a possibilidade de recomendação do arquivamento de casos;
  • Punição para acusações infundadas ou assédio moral por parte da autoridade contra os servidores;
  • Garantia do direito dos servidores de solicitar a revisão dos procedimentos para a Comissão de Avaliação de Processos Administrativos;
  • Obrigatoriedade de que a absolvição ou arquivamento dos processos sejam divulgadas com a mesma visibilidade e nos mesmos canais que sua instauração, dentro de um prazo de, no máximo, 30 dias da decisão;
  • Garantia do direito à indenização financeira para os servidores que forem vítimas de processos instaurados de forma abusiva, a ser determinada em processo próprio, mediante comprovação e com base nos gastos comprovados pelo servidor com tratamentos e honorários advocatícios.

Em suas redes sociais, Ayres definiu o PL como “fundamental para garantir um ambiente de trabalho mais justo e respeitoso para os servidores públicos, refletindo o compromisso do Estado com a dignidade e os direitos desses profissionais.” Com a paralisação na Câmara, cabe às Frentes Parlamentares, sindicatos, associações e à sociedade civil realizarem a movimentação pela ampliação do debate, e pressionar os parlamentares pela tramitação do projeto.

Confira o texto na íntegra:

Imprensa Apufsc