Segundo Santos (Santos, Boaventura de Souza, A Universidade do século XXI, SP 2004) existe uma “crise institucional” da universidade porque há uma contradição entre a autonomia institucional da universidade e sua produtividade social. A universidade é posta em xeque e se propõem outros modelos tidos como mais eficientes baseados em critérios de eficácia empresarial ou de responsabilidade social.
Na realidade como escreve Ésther em sua tese de mestrado em economia aplicada ( UFJF 011/2007) a universidade brasileira vive uma “eterna” crise de identidade. O campo da identidade é complexo e tem sido objeto de estudo por muitas ciências. Simplificando podemos dizer que a identidade esta relacionada fundamentalmente com as características e traços próprios de um individuo o comunidade.
Como o ser humano a comunidade é histórica, muda com o tempo. A identidade igualmente vai mudando, mas o lógico e mudar sobre uma base dentro de um sentido, de uma direção de um alvo próprio.
No entanto, a crise mais importante é a ”crise de hegemonia” que significou a crise de uma universidade que foi o lugar privilegiado da produção de verdadeira cultura e conhecimento científico avançado para uma cultura de massas impulsionada pela tecnologia da informação. . Esta crise da hegemonia inicia a fines do século XIX e será mais visível na segunda metade do século XX.
No século XIX os empresários descobriram o potencial comercial do jornalismo como negocio, lucrativo e surgiram as publicações similares aos diários atuais. Aparecem as rotativas que imprimem milhares de jornais por hora e em 1880 aparece nos jornais a fotografia. A cultura de massas estava em seu inicio.
Ortega e Gasset, o reconhecido filosofo espanhol, que havia observado em forma pioneira o fenômeno das massas escreve que a rebelião das massas indicava, por uma parte o positivo crescimento que a vida humana experimentava, em todas as camadas sociais, em aqueles tempos mas igualmente o negativo da desmoralização radical da humanidade por motivos que não podemos analisar neste comentário.
Em seu livro “ A Missão da Universidade” em 1930 indica que na vida pública de aquela época não existia mais poder espiritual (cultural) que o Jornal. A Igreja tinha perdido seu poder por não observar o presente e o Estado porque, numa democracia, depende da opinião pública e esta estava entregue ao Jornal. (que pensar atualmente com a TV e internet).
O mercado audiovisual privatizado, como é atualmente, tem uma estrutura comercial: deve submeter-se a publicidade privada o dos governos. A publicidade explora claramente o que podemos denominar o “eu reptilico” (filogeneticamente derivado do réptil) do ser humano: sexo impessoal, poder, egoísmo total, figuração,violência etc. As necessidades dos governos, por outra parte, censuram e desfiguram a verdade, assim mentem.
As mentiras dos meios de comunicação aparecem nas meias verdades e na seleção de temas e como se comunicam. Podem ser observadas, claramente, nas diferenças astronômicas entre as cifras declaradas pelos organizadores de uma greve ou manifestação e as declaradas pelos governos. Hoje observamos, por exemplo, como alguma imprensa escreve que Espanha, Grécia e Portugal estão fazendo os deveres e sacrifícios necessários e que tudo vai ser solucionado. No entanto sabemos claramente que as pessoas que tinham pouca culpa pagam com o sacrifício de suas casas, de seu trabalho, de sua comida e ficam impunes todos os grandes banqueiros, políticos etc. que levaram a crise.
Por isso Ortega escrevia já em 1930: “Europa caminha desde muito tempo com a cabeça para baixo e os pés fazendo piruetas no alto deve-se ao império indiviso da imprensa, único “poder espiritual””. Que podemos dizer do Brasil dominado por enlatados de Hollywood.
Por estes motivos, como primeiro objetivo, para recuperar o real sentido da universidade, mais profundamente sua identidade real, a universidade, inicialmente, deve procurar intervir na atualidade, como tal universidade, tratando os grandes temas do dia desde o ponto de vista cultural,científico e profissional. Deve impor seu “poder espiritual” superior frente à imprensa.
Isto significa estimular o “eu espiritual” da universidade que é o eu da solidariedade, do arte, da ciência, da filosofia , do amor verdadeiro, para superar o eu réptilico que nos domina.
Para satisfazer este objetivo a APUFSC procura criar um grupo de professores realmente interessados para estudar algo fundamental para o país e nossa sociedade: Transformar a Universidade em consciência critica da nação.
Todos estes temas, considerados brevemente, devem ser objeto de dialogo, e objeto de outras notas no futuro
Rosendo A. Yunes
Prof. Voluntario do Depto de Química e Pesquisador Senior do CNPq.