Como um dos apoiadores da chapa Irineu E Mônica a reitoria da UFSC venho a público manifestar a nossa discordância em relação à posição tomada no último dia 22/10 pelo voto nulo no segundo turno nas eleições, pois não participamos da decisão ao nos retirarmos da reunião. Por entender que ela não expressa a opinião da grande maioria dos eleitores da chapa Somos Tod@s UFSC no primeiro turno, cujas deliberações no grupo sempre foram pautadas por uma ampla discussão e consenso a partir de uma coordenação de campanha tripartite e horizontal, representando os três segmentos da comunidade universitária, professores, Técnico-Administrativos (TAEs) e estudantes.
Como todos sabem, o movimento Somos Tod@s UFSC surgiu depois de um forte debate, envolvendo mais de uma centena de pessoas desde 2014, com a realização de encontros abertos à comunidade e palestras sobre a gestão universitária, culminando em 2015 com a constituição do movimento e a elaboração da Carta de Princípios, a escolha da vice-reitora, integrando os campi, professora Mônica, e posterior lançamento da candidatura oficial da chapa.
Sem estrutura alguma e recursos financeiros, o movimento Irineu E Mônica teve na sua militância o grande diferencial nesta campanha, conseguindo de maneira progressista e corajosa pautar os grandes temas da UFSC nesta eleição em particular, como o corte de verbas na educação, a defesa das 30 horas para os TAEs, o não a EBSERH, além de toda uma gama de questões vinculadas ao ensino, à pesquisa e a extensão. Sobretudo colocando na agenda pública os problemas enfrentados pelos campi da UFSC, que hoje não podem mais ser ignorados.
Neste sentido, gostaríamos de expressar a nossa oposição ao voto nulo, em razão das seguintes ponderações:
1. Diante de um Irineu apático, cansado, e sem a participação da professora Mônica na discussão (sempre participava das decisões via Skype de Curitibanos), um dia após as eleições, se chegou a essa decisão.
2. É incompreensível o porquê da pressa, como diz o ditado popular a pressa é inimiga da perfeição. A pressa é e era das chapas que foram para o segundo turno. Irineu E Mônica tinham todo o tempo do mundo para construir uma posição firme em relação ao segundo turno, sem atropelos e prejuízos ao capital político acumulado durante essa rica experiência eleitoral.
3. A proposta pelo voto nulo é de autoria de um único segmento participante do movimento Somos Tod@s UFSC, que de afogadilho procurou “enquadrar” todos os eleitores do Irineu, sem dar chances para discutir a ideia de maneira amadurecida e democrática. Erroneamente se imaginou que o “enquadramento” terá consequência prática. Em minha avaliação terá, sim, efeito contrário. Os indícios já começam a aparecer em toda a Universidade.
4. A indicação do voto nulo corrobora e fortalece a posição daqueles setores de “esquerda” que trabalharam em prol da campanha pelo voto nulo no primeiro turno. Foram, justamente, talvez, os votos que podem ter faltado ao Irineu para chegar ao segundo turno, já que faltaram muito poucos votos para a vitória.
5. Faltou ao Irineu circular pelo campus da UFSC e como era tradicional em seu comportamento, ouvir as pessoas que lhe deram apoio, como a comunidade africana e os alunos de graduação e pós, os TAEs em vários departamentos da universidade percorridos por nós, a exemplo do HU, além de auscultar a experiência dos docentes e os professores e técnico-administrativos especialmente do CTC que o apoiaram.
Portanto, não vai aqui nenhuma censura ideológica aos apoiadores do Irineu que encamparam a bandeira do voto nulo. Tanto na paz como na guerra a vida é feita de escolhas, e elas determinam o comportamento político das pessoas e o alcance de seus objetivos. O comandante do navio jamais deve abandonar o barco antes de sua tripulação e muito menos deixar o barco à deriva ou abandonar os seus liderados a própria sorte. Faltou comando.
No “debate” da quinta (22/10), se avaliou que ao contrário do Irineu, candidatura “progressista”, todas as demais foram avaliadas como candidaturas de “direita”. E, portanto, “conservadoras”. Neste sentido, não havia mais o que discutir, senão encaminhar pelo voto nulo. O argumento é que a Universidade é por natureza conservadora, e os professores são “despolitizados”. Mas não se consegue construir uma candidatura à esquerda ou mesmo politizar o processo. Jamais polarizamos nossa atuação na campanha eleitoral no mote “direita” versus “esquerda”, seja nos debates seja em nossa pauta de reivindicações e princípios. E, depois, não devemos esquecer que a pauta de nossa Carta esteve centrada na questão candente da gestão e da falta de integração dos campi.
No “debate”, não se cogitou nenhuma outra possibilidade, a exemplo da tradicional liberação dos eleitores do Irineu no segundo turno. Como não se cogitou a independência em relação às outras chapas que irão ao segundo turno, sem nenhum compromisso político, garantindo a liberdade de escolha aos eleitores da chapa Somos Tod@s UFSC para poder decidir com a sua consciência. Mas há, e havia outras possibilidades, e elas não foram levadas em conta. Parodiando Hannah Arendt, somente a política é capaz de fazer milagres!
É como se apenas uma “corrente” de pensamento tivesse se apropriado dos votos do Irineu e fosse responsável pelos votos do Irineu, e pudesse decidir por todos nós. Os votos da chapa Somos Tod@s UFSC pertence a todos os milhares de eleitores de IrineuEMônica, e não apenas a uma única tendência ideológica. Inclusive, naquela triste reunião, vários membros da tal tendência admitiriam que não houvesse participado “ativamente” da nossa campanha. Só discurso não ganha eleições. Mas estavam lá com seus tablets e smartphones para fazer “análise de conjuntura” e defender o voto nulo. Há uma coisa que faltou naquela reunião, justamente crítica e autocrítica da eleição, e uma análise desapaixonada do quadro político na UFSC. A nota divulgada pelo comitê irianista é fraca e sem qualquer análise mais aprofundada sobre todo o processo eleitoral.
A defesa do voto nulo nas atuais circunstâncias significou, ou pode significar na prática, na completa desorientação do eleitorado irnianista, já que o processo eleitoral não acabou. A proposta pegou mal junto a comunidade universitária. E duvido que o próprio Irineu vá às ruas ou as salas de aula defendê-la dia 11 de novembro. Muito menos seus eleitores.
A discussão irá continuar acontecendo somente nas redes sociais, marcando a nossa omissão em relação ao processo eleitoral na sua reta final. Segundo a norma prevista pela Comeleufsc (Resolução nº001, de 12 de agosto de 2015), consideram-se válidos os votos atribuídos a candidatos inscritos, excluídos os votos em branco e os nulos. E será considerada vencedora a chapa que, somado os índices obtidos em cada segmento na consulta paritária (na proporção de 1/3 para docentes, 1/3 para os técnico-administrativos e 1/3 para os estudantes), que alcançar índice geral superior a 50% dos votos.
Portanto, lamentamos a maneira como foi tomada tal decisão. E tememos pelo seu resultado prático e pelo futuro político do Irineu. Como herdeiros do capital político acumulado pelo Irineu E Mônica durante o processo eleitoral, continuaremos a lutar pela Carta de Princípios que defendemos durante a escolha para reitor.
*Itamar Aguiar
Professor do Departamento de Sociologia e Ciência Política da UFSCd+ membro da comissão responsável pela Carta de Princípios Somos Tod@s UFSC.