A deturpação do conceito de democracia na Universidade

Qual o interesse de se manter eleições paritárias ou até mesmo o voto universal na consulta para reitor da UFSC? Qual a consistência que há em se defender tal proposta?

Vemos aqui uma argumentação pífia de certos segmentos dos TAE’s que alegam, sem maiores elaborações, não ser democrático a defesa do peso de 70% dado a manifestação dos docentes na consulta a comunidade para escolha de reitor da UFSC.

A argumentação desse setor dos TAE’s é pífia e sem sentido, pois ignora a própria essência da universidade que é um lugar de formação acadêmica do corpo discente. Tudo que se faz na universidade deve centrar neste aspecto, que além do ensino inclui também a pesquisa e extensão.

Embora o trabalho dos TAE’s e docentes sejam igualmente importantes, vemos que na consecução do objetivo de formação acadêmica dos estudantes a responsabilidade maior incide naquele que está na linha de frente do processo de formação dos estudantes, neste caso, os docentes. Há, pois, uma nítida divisão de funções entre a atividade docente e a atividade dos TAE’s que não pode ser negligenciada.

Com efeito, se é sobre os docentes que incide a maior responsabilidade diante da sociedade pela formação dos estudantes é justo que seja dado aos docentes um peso maior na condução da instituição. A defesa do voto paritário ou universal homogeniza as responsabilidades diante da sociedade entre docentes e TAE’s pela formação dos estudantes, algo que, contudo, não se materializa, pois, da mesma forma que quando uma construção desaba a culpa maior é do engenheiro e não do pedreiro, pareceria meio irreal um TAE ser responsabilizado pela má formação de estudantes que na sua vida profissional demonstram uma má formação acadêmica, algo cuja atuação principal cabe ao docente. 

 

Dito isto, como pode se alegar direito democrático para defender algo distinto da consulta que dá 70% de peso a manifestação docente, se recairá sobre os docentes a maior carga de responsabilidade na formação dos estudantes?

É preciso que elucidemos de uma vez esse mito que certos segmentos dos TAE’s, de alguns docentes e estudantes defendem e que aponta para uma pretensa democracia na escolha do reitor.

Seria um argumento mais intelectualmente honesto desses segmentos se admitissem de uma vez quais as intenções veladas que emergem dessa defesa do voto paritário ou universal que agrega setores bem claros e ideologizados da nossa universidade, todos eles irmanados no projeto da nociva universidade popular. Para se certificar disso basta analisar onde estão os maiores defensores da proposta de voto paritário e universal e como eles pensam.

 


Marcelo Carvalho

Professor do Departamento de Matemática da UFSC