Em artigo postado no dia 19 de abril o Professor Marcelo Carvalho mostra sua crença na redenção do gênero humano, ao identificar na fala de muitos deputados federais favoráveis ao impedimento “uma forte convicção de que estavam votando por algo grandioso, que se colocava como um dever de honrar e de se comprometer diante da Nação, das suas famílias e de Deus.”
Levando em conta a vida pregressa de boa parcela dos integrantes do templo de vendilhões que é a Câmara Federal, desde o baixo clero até o sumo-sacerdote, é difícil acreditar na sinceridade das manifestações dos nobres deputados. O que mais se evidenciou foi a pobreza intelectual e moral dos legisladores brasileiros, preocupados sobremodo com o voto dos seus eleitores, (g)lobotomizados por uma cerrada campanha midiática de demonização do governo. Do fato de terem falado de Deus não se pode concluir que Deus tenha falado com eles ou, no caso de ter falado, que tenham escutado.
A destoar, ainda segundo o Professor Marcelo Carvalho, “apenas, o sistemático comportamento reprovável do incorrigível deputado Jean Wyllys que, desta vez, extrapolou sua especialidade bem característica, o “bate-boca”, para cometer a desonra e a baixaria de cuspir na cara de um desafeto político.” Ainda que sabendo que eles não rezam pelo mesmo breviário, é nossa opinião que Marcelo Carvalho poderia ter interpretado de forma mais caridosa o gesto de Jean Wyllis.
Segundo Jean Wyllis o deputado Jair Bolsonaro o teria insultado, usando as expressões “veado”, “boiola” e “queima-rosca” o que, a julgar por exemplos anteriores de destempero e incontinência verbal de parte de Bolsonaro, pode muito bem ter acontecido. Talvez o Professor Marcelo Carvalho acredite que, em nome do decoro parlamentar, Wyllis deveria ter ignorado, ou mesmo ter oferecido o outro ouvido para as ofensas. Mas, por vezes o sangue ferve e não dá para segurar.
O que não pode ser escamoteado nesse episódio é que, ao exaltar o torturador Carlos Brilhante Ustra, o deputado Jair Bolsonaro havia escarrado sobre a memória dos mortos e torturados nos porões do DOI-CODI e cuspido nos sentimentos dos seus parentes e amigos, além de afrontar todos que lutam por uma sociedade democrática, sem tortura e assédios de qualquer natureza.
Cuspe com cuspe se paga, dirão alguns, ou cuspe trocado não molha dirão outros. Só que não.
Temos certeza de que, caso exista justiça divina, o bom Deus julgará com níveis diferentes de rigor as cusparadas de Wyllis e de Bolsonaro. Já, quanto a justiça dos homens em nosso país…..
Arden Zylbersztajn
Aposentado, ex-professor do Departamento de Física da UFSC
Nilton da Silva Branco
Professor do Departamento de Física da UFSC