Em artigo publicado em 28 de Abril, os professores Nilton da Silva Branco e Arden Zylbersztajn parecem incomodados com o fato de eu ter escrito que via algo grandioso na fala dos deputados que justificaram seu voto pelo impeachment como uma questão de honra e dever para com a nação, suas família e Deus. Os ditos professores alegam que é difícil acreditar na sinceridade das manifestações dos ditos deputados dada a vida pregressa deles. Será? Bom, tivemos 367 deputados votando a favor do impeachment e, generalizações a parte, a menos que os professores Nilton e Arden tenham feito uma pesquisa criteriosa da vida pregressa de cada um deles, se realmente desejamos assumir a presunção de inocência, o que eles afirmam não é um fato em si, mas apenas a impressão deles. Acredito, também, que o Congresso que nós temos é um microcosmo que reproduz o que há de melhor e pior na sociedade e, se via algo grandioso eu simplesmente me fixei em algo que julguei ser virtuoso. Agora, diante da opinião pública, não saberia dizer se tais virtudes e vícios não estariam presentes em todas as esferas do domínio público, inclusive a universidade e nisso devemos lembrar que quem aponta um dedo sempre tem três apontando de volta. Será mesmo que somos muito superiores aos congressistas?
Mas, em relação a Jean Wyllys, não dá para ser caridoso com ele, até porque não sabemos quem verbalmente iniciou a provocação, a menos que os professores Nilton Branco e Arden tenham provas de que foi mesmo o Bolsonaro. De concreto, Jean Wyllys cuspiu em Bolsonaro, como o próprio Jean Wyllys admite. Isso é um fato consumado.
No entanto, o mais constrangedor e estranho no texto dos professores Nilton e Arden é o trecho onde escrevem
O que não pode ser escamoteado nesse episódio é que, ao exaltar o torturador Carlos Brilhante Ustra, o deputado Jair Bolsonaro havia escarrado sobre a memória dos mortos e torturados nos porões do DOI-CODI e cuspido nos sentimentos dos seus parentes e amigos, além de afrontar todos que lutam por uma sociedade democrática, sem tortura e assédios de qualquer natureza.
De fato, é constrangedor que os professores Nilton e Arden mencionem a luta por “uma sociedade democrática sem tortura e assédios de qualquer natureza” sem que não tenham tido o cuidado de criticar em seu texto a fala do deputado Glauber Braga do PSOL do Rio de Janeiro (tinha que ser o PSOL!!!!) que, ao declarar seu voto contra o impeachment, exaltou o terrorista Carlos Marighella (https://www.youtube.com/watch?v=mVrpfbTeYVA), afinal, Carlos Marighella, autor do livro “Mini-manual do guerrilheiro urbano”, escreveu
“O terrorismo é uma arma a que jamais o revolucionário pode renunciar”
“Ser assaltante ou terrorista é uma condição que enobrece qualquer homem honrado”,
Assim, do que Marighella escreve, concluímos que exaltar Marighella é exaltar o terrorismo e, neste caso, é incompreensível a crítica seletiva dos professores Nilton e Arden a Bolsonaro ao mencionar o coronel Ustra, mas não ao deputado Glauber, exceto se permitirmos ser justificado o uso do terrorismo e a matança de civis como forma de luta e resistência.
Também, é estranho o que os professores Nilton e Arden afirmam sobre o coronel Ustra, afinal, Coronel Ustra escreveu dois livros “Rompendo o Silêncio” (http://www.hlage.com.br/E-Books-Livros-PPS/RompendoSilencio.pdf) e “A Verdade Sufocada: A história que a esquerda não quer que o Brasil conheça” onde refuta as acusações de tortura. O fato de um tribunal de primeira instância ter declarado que o coronel Ustra é torturador se baseou em evidências orais suportadas por pessoas que militaram em grupos terroristas de esquerda, logo não serve de base condenatória, pois seria facilmente contestada se levada a tribunais superiores. Mas, vale lembrar aqui o conselho que o ator Mário Lago dava aos militantes de grupos terroristas, conforme nos conta uma jornalista de Brasília que militou em um grupo terrorista de esquerda
“… Torturada?! Eu?! Ma va! As palmadas que dei em meus filhos podem ser consideradas ‘tortura inumana’ se comparadas ao que (não) sofri nas mãos dos agentes do DOI-CODI.
Que teve gente que padeceu, é claro que teve. Mas, alguém acha que todos nós – a raia miúda – que saíamos da cadeia contando que tínhamos sido ‘barbaramente torturados’ falávamos a verdade?
Não, não é verdade. A maioria destas ‘barbaridades e torturas’ era pura mentira! Por Deus, nós sabemos disto! Ninguém apresentava a marca de um beliscão no corpo. Éramos ‘barbaramente torturados’ e ninguém tinha uma única mancha roxa para mostrar! Sei, técnica de torturadores. Não, técnica de ‘torturado’, ou seja, mentira. Mário Lago, comunista até a morte, ensinava: “quando sair da cadeia, diga que foi torturado. Sempre.”
http://blogdemirianmacedo.blogspot.com.br/2011_06_01_archive.html”
Polêmicas a parte, há muito o que se considerar e desconsiderar sobre o regime militar, inclusive a versão que é contada na academia, já que não prima pelo rigor dos fatos.
Mas, concordo com os professores Nilton e Arden quando escrevem
Temos certeza de que, caso exista justiça divina, o bom Deus julgará com níveis diferentes de rigor as cusparadas de Wyllis e de Bolsonaro. Já, quanto a justiça dos homens em nosso país…..
Sim, a quem muito é dado, muito é cobrado, isso é um fato que determina o rigor da justiça. Mas, também segue das Escrituras que
Guardai–vos de praticar a vossa justiça diante dos homens para serdes vistos por eles (Mt. 6.1),
isso inclui, guardar-nos de seguir um consenso só para parecer justo. Pode ser que, diante dos homens isso possa ter algum ganho, mas diante de Deus nada vale se não for verdade.
Marcelo Carvalho
Professor do Departamento de Matemática da UFSC