Prof. Fábio Lopes escreve em seu texto “que Impressiona a quantidade de professores que, tendo recentemente ingressado na UFSC, permanece alheia à vida sindical.”
Será mesmo que os professores estão alheios à vida sindical? Recentemente, na eleição para a nova diretoria da APUFSC, tivemos a participação de mais de mil docentes. Este número poderia ser mais significativo, contudo, está longe de indicar uma atitude de pessoas que estariam supostamente alheias à vida sindical. Por outro lado, as últimas assembleias de indicativo de greve convocadas pela APUFSC sequer se instalaram por falta de quórum (algo que requer pouco mais de 140 docentes). Como podemos pensar tremenda disparidade da participação dos docentes? Parece que estamos diante de dois fatos que se contradizem.
Não é preciso ir muito longe para encontramos a resposta. O perfil do professor que ingressa na universidade hoje é diferente do perfil do docente dos anos “dourados” do ANDES. Muitos desses docentes de agora (e tal fenômeno é bem visível na área das exatas) são profissionais que ingressaram na universidade já acumulando experiências de pós-doutorado e, assim, dão uma importância diferenciada à produção acadêmica relacionada à pesquisa. Isto se torna ainda mais acentuado em áreas competitivas e difíceis de publicar. Este fato não implica que o docente esteja alheio ao sindicato, apenas indica que ele não deseja que a sua participação no sindicato ocupe um espaço maior que ele permite que seja ocupado. Assim, este docente vê como incompatível a participação numa “vida sindical” pautada em inúmeras discussões de conjuntura, de análise política ou de como o sindicato pode e deve ser o agente de pressão junto ao governo. O que este docente deseja é apenas ser um docente dentro da característica do que é ser um docente hoje (ou do que eles pensam ser isso). Se parece ambíguo, pensemos então de forma inversa: o que esse docente não deseja é que um sindicato de professores que incorpora uma pluralidade de gostos e tendências individuais tome uma linha particular como representativa do todo, sendo está a razão principal da APUFSC ser o que é hoje, algo que na visão dos mais saudosistas se mostra inerte e sem vitalidade. Mas, o diagnóstico é equivocado, pois o que se percebe como inerte e sem vitalidade parte do pressuposto que a vitalidade de um sindicato é alimentada pela participação e pela militância de seus associados. Mas, é exatamente este ativismo que os docentes na sua maioria rejeitam, e isso ficou demonstrado na participação de mais de mil associados para a eleição da diretoria que ocorreu num processo online, prático, e sem grandes contratempos, em contraste com pouco menos de 140 docentes que compareceram nas assembleias de indicativo de greve ano passado, um evento demorado, e visto por muitos como de pouca valia.
O ativismo sindical pode até ter sido proeminente num passado mais ou menos distante, o ANDES demonstra isso, mas já não é mais. Os tempos mudaram e o docente que ainda incorpora as formas antiquadas de sindicalismo representado no modelo de sindicato do tipo ANDES já não é presença hegemônica no sindicato, se fosse, esses “docentes andesianos” teriam logrado êxito na tentativa de refundar a seção sindical do Andes aqui na UFSC, ou teriam tido força suficiente para manter a APUFSC como serviçal do ANDES.
Vendo o sindicato numa perspectiva mais ampla, constatamos que a universidade pública está longe de ser um pequeno microcosmo livre dos vícios e do corporativismo tal qual vemos em outros espaços e instituições públicas. Isto fica patente na forma sectária como o ANDES conduz o sindicato, militando dentro de uma ideologia estreita, retrógrada e incompatível com o pluralismo de ideias que se deve ter numa universidade. É exatamente isto que leva o ANDES a ser hoje uma peça obsoleta no sindicalismo docente. Muitos, no qual eu não me incluo, acham que devemos tolerar as esquisitices do discurso político-ideológico do ANDES desde que ele faça sua “birra” na hora de ganhar uns minguados “x %” de aumento do governo e, por conta disso, até conseguem ver alguma utilidade na existência deste efêmero sindicato. De minha parte, nem isso eu concedo, pois acredito que um sindicato como o ANDES é a própria negação do pensamento livre, independente, consistente e decente!! Com efeito, seria uma atitude utilitarista defender a prática do ANDES apenas para obter ganhos salariais ou vantagens associadas à carreira a custa de permitir que o ANDES represente toda uma categoria expressando ideias a favor do bolivarianismo, ou a simpatia com a ditadura cubana etc., como se toda a categoria concordasse com isso. Assim, a suposta inércia dos associados da APUFSC em participar da “vida sindical”, alegada por alguns colegas, não se constitui inércia alguma, é apenas a negação de ter que engrossar as fileiras de uma militância sindical que é incompatível com a forma como muitos concebem a condição de ser docente hoje. Como não poderia ser diferente, há concepções para todos os gostos, assim, aqueles que acreditam ser possível conciliar sua condição de docente com a de um ativista sindical talvez encontrem no ANDES um sindicato a altura de seus anseios. Como se diz no Inglês: “Good luck, …. you are at your own!!!!!
Marcelo Carvalho
Professor do Departamento de Matemática