Greves nas universidades produzem quase sempre um paradoxo que indica a falência da missão da própria universidade como sendo um espaço de livres ideias e opiniões. Infelizmente, a universidade no Brasil, contaminada há muito tempo pelo germe marxista da luta de classes, é refém de setores que dominando o sindicato deflagram greves sem observação de um quórum mínimo qualificado, algo que essencialmente torna impossível dar legitimidade a greve diante da opinião pública. Ora, isso explica então o eterno recurso a chavões e palavras de ordem como forma de tentar inculcar no inconsciente das pessoas que a greve é justa. Mas, sem quórum qualificado, fica evidente que nestas condições a greve só consegue ser reconhecida como um “direito” pelo fato de estar seguindo certas regras. E aqui surge mais um dado que indica a falência da universidade, pois aponta para um mero aspecto burocrático de que seguir a regra (que permite deflagrar uma greve com um número qualquer de associados) acaba sendo tomado como o que legitima a greve. Está claro então que aceitando tal argumento perdemos não só a capacidade de pensar, mas também o bom senso.
Como já vimos em greves anteriores, a dinâmica da greve adotada pelo Sintufsc quase sempre descamba num processo de radicalização onde, talvez ressentidos por se sentirem ignorados pela comunidade acadêmica que continua suas atividades, alguns defendem ações intimidatórias para paralisar a universidade, quer seja, o fechamento das entradas do campus com correntes (atitude irresponsável que impede o pronto atendimento de socorristas e bombeiros, em caso de emergência), o uso de instrumentos de percussão próximo as salas de aula que acaba por inviabilizar a própria aula numa atitude autoritária que viola o direito dos estudantes, o estouro de morteiros no campus que projetando artefatos explosivos põe em risco a segurança das pessoas, etc.. Todos esses fatos lamentáveis já ocorreram em greves anteriores e podem voltar a ocorrer. Há, contudo, uma forma efetiva de confrontar essas ações sem que adotemos a lei da “ação e reação”, aqui implicitamente expressa na tentação de responder a uma ação violenta com outra ação violenta, o que acaba reduzindo um ao outro. Essa forma efetiva de agir é o uso da lei. Com o advento das tecnologias, todos tem um desses “portable devices” dotados de câmera e gravador de voz. Basta então que cada um filme e denuncie à autoridade policial competente, ou ao ministério público qualquer ação de grevistas que viole o direito dos outros. Pode ser que naquele dia não se consiga dar a aula por conta da intimidação do ato cometido, mas as consequências do ato ilegal e autoritário praticado configura crime de constranger funcionário público (o professor) no exercício de sua função, e é fácil substanciar o delito, pois os alunos são testemunhas. A ideia aqui é simples e parte do princípio que é a denúncia sistemática de atos criminosos que serve como forma de acabar com a impunidade. Da mesma forma, os alunos devem registrar tudo o que julgarem ser uma violação de seus direitos, e com essas provas materiais devem levar o caso a justiça. Ser cidadão é exatamente isso, ter consciência de seus direitos e exigir tais direitos. Agora, ser membro de um lugar que pelo menos na letra se diz um espaço acadêmico é ir além da condição de ser um mero cidadão, é na verdade nunca se deixar submeter a violência daqueles que já não mais pensam e acreditam que tem o direito (ou seria a obrigação “revolucionária” de agir de forma violenta?) de impor sua vontade sobre os demais, sufocando o pensamento livre. Assim, o desgastado cliché, “não passarão”, repetido como mantra por esses que agem de forma autoritária, já não tem mais valia algum, pois o pensamento e a ideia íntegra sempre passam adiante e, de forma irresistível, trazem consigo a semente de outras ideias ainda mais irresistíveis.
Marcelo Carvalho
Professor do Departamento de Matemática