Li com surpresa o artigo de Upiara Boschi no Diário Catarinense de 12/10/2017 o artigo “A lógica da escolha lógica” no qual trata de justificar a eleição da Vice-Reitora para o cargo vacante de Reitor pelas incongruências entre o Estatuto de UFSC e a legislação federal que criaria um debate “desnecessário”.
Isto me obriga a entrar em temas de grande importância para a universidade neste momento histórico do Brasil, mostrando a ilógica da lógica seguida:
1)- Não se pode contrapor um Estatuto de uma Universidade a uma lei federal, a lógica é que o Estatuto deve respeitar e obedecer a lei Federal, ou seja no existe aqui nenhum problema.
2) O jornalista escreve que pedir novas eleições é golpe, ou seja agora respeitar a lei, respeitar o estado de direito é golpe, não será o inverso o golpe?
3) O mesmo jornalista escreve que o atual grupo de condução ganhou a eleição de 2015 pela vantagem somente em servidores, desrespeitando o decreto 1916/96 porque derrotados por 66% a 36% em professores, que deviam ter um peso de 70%, e derrotados em estudantes perdiam..
4) O jornalista deseja colocar medo ao escrever: “é bom lembrar que o principal candidato da esquerda do campus, Irineu de Souza, por muito pouco não chegou ao segundo turno”. Duas questões: a) Que compreende por esquerda o jornalista para usar esse qualificativo com o Prof. Irineu? b) Sabemos que o “medo” é um instrumento de domínio dos opressores que não desejam a verdadeira liberdade e democracia.
5) Mais importante ainda. Gostaria que o Jornalista demonstrasse a liberdade de expressão publicando o manifesto “Economistas pelo Brasil” assinada ate o momento que conheço, por 5 professores de nossa universidade (Costa, Knihs, Fissmer, Poddixi, Cangussu) não importando sua ideologia, más a “verdade” que corajosamente defendem mostrando que pelo “medo”, usado também pelo senhor jornalista, a mídia procura fazer acreditar que existe somente a solução econômica que favorece aos ricos e poderosos contra o povo brasileiro.
Melhor, os favorece pelos Bancos com juros extorsivos. Como explicar porque o Ministro de Fazenda é um ex-presidente Internacional do BankBoston e não algum dos brilhantes economistas não dominados pelas receitas do FMI, que não são precisamente, para servir ao Brasil.
Outro dado de importância que a mídia não vai divulgar é a crise de sinceridade do presidente de França que falou para seus embaixadores: “a soberania popular acabou, tanto na França como em Europa, não existem mais democracias nacionais o supranacionais, já não ha mais interesse coletivo, ou República, mas sim um catálogo heterogêneo de cosas, ideias que constituem os bens comuns” (The real agenda News 08/09/17). Adicionando a cosas e ideias elites corruptas, define o Brasil de hoje, governado por um presidente com 3% de aprovação popular.
Escrevi que ainda que os orçamentos de ciência e tecnologia sejam drasticamente cortados, não existe uma reação de algum segmento da sociedade. Desejo agora esclarecer ao menos uma causa de esta situação. A ciência e tecnologia do Brasil são próprias do cientificismo neoliberal: desenvolver a “ciência pela ciência mesma”, que na realidade é trabalhar para o estrangeiro.
Esta claro que as indústrias e a sociedade não reagem, mas curiosamente uma das mais importantes revistas estrangeiras, NATURE sim. Evidente que não podemos atribuir ao protesto da revista um interesse secundário, mas resulta importante observar que nossos trabalhos são mais valorados no exterior que no país. Não devemos analisar por quê?
Vamos aos números concretos tomados do “Informe de la Unesco sobre la Ciencia” Unesco 2015. No item publicações ano 2014: Brasil tem 37.228, Canada 54.631, Israel 11.196, Coreia 50.258. Em patentesd+ Brasil 341, Canada 7.761, Israel 3.405, Coreia 14.839. Este dado demonstra claramente que trabalhamos para que nossos resultados sejam utilizados fora. Somente 341 patentes, o 1,09% enquanto países muito menores, como Canada, Israel e Coreia tem aproximadamente um 30% das publicações convertidas em patentes.
Em pesquisadores “tempo completo” por milhão de habitantes a situação de Brasil é lamentáveld+ enquanto Finlândia, Dinamarca, Coreia, Suécia, Japão, tem mais de 5000 pesquisadores, Argentina e Costa Rica 1200, Brasil tem aproximadamente 700. Portugal nos da um exemplo, tem 4600.
As tendências das publicações igualmente demonstram que Brasil cresceu na área de ciências agrícolas o qual é correto, mas descuidou da engenharia, da química que são as áreas onde crescem China, Índia e Coreia que são os países com maior desenvolvimento..
Em 2014 com o sexto PIB mundial, líder de Latino América, Brasil não tinha conseguido uma politica de ciência e tecnologia destinada a promover o desenvolvimento real do país para, no somente, conseguir o bem-estar de seu povo, mas igualmente uma relativa soberania neste mundo dominado pelo Deus dinheiro. Em 2017 estamos muito pior.
A Petrobras em 2013 liberava o esforço cientifica e tecnológico no Brasil, tinha na ilha do Fundão integrado com a UFRJ o maior centro de pesquisas e Desenvolvimento do Hemisfério Sul, com 1959 funcionários dos quais 1788 dedicados exclusivamente a pesquisa, desenvolvimento e engenharia básica. Tinha parceria com 100 universidades. Anos antes procurou realizar um centro de pesquisas na UFSC que não se concretou por motivos que devem explicar as ex-autoridades e professores do CTC
Mas, a Petrobras motor da economia brasileira, responsável por aproximadamente 12% do PIB, e dando participação a empresas responsáveis por 30,4 % das exportações e 25,3 das importações, foi sucateada pelos administradores desonestos que mereceriam ser punidas por traição a pátria.
Para completar esta grave situação as empresas químicas farmacêuticas, uma das mais importantes áreas do comercio mundial, são fracas, sem capacidade de desenvolver fármacos, nem defensores agrícolas e igualmente não são estimuladas pelo governo Federal com esse nobre objetivo.
Devemos lembrar que durante o governo do presidente Collor a abertura indiscriminada dos mercados provocou o fechamento de 1200 indústrias químicas, originada pelo trabalho durante 10 anos da CODETEC ligada a Universidade Estadual de Campinas, e muitas de auto–peças. Este mau exemplo não permitiu integrar o triangulo virtuoso de Empresa-Universidades—Governo A lógica é que isto não é publicado, nem analisado pela mídia.
A Índia conservou suas empresas e agora compramos a esse país a maioria dos genéricos com um custo de 10 bilhões de US$, que poderiam ser investidos aqui gerando empregos de qualidade e desenvolvimento cientifico-tecnológico.
Deve-se e pode-se realizar uma eleição sóbria, austera, sem gastos supérfluos em camisetas, propaganda etc. Como deve ser uma eleição universitária onde se discutem em profundidade ideias não slogans. Os candidatos devem apresentar suas propostas mais importantes sobre: respeito à lei, democracia universitária e manipulação da informação, reavaliação de métodos de ensino, objetivos de ciência e tecnologia,
Por todos estes motivos estou solicitando aos diretivos da APUFSC promover um manifesto “Científicos pelo Brasil” no qual se solicite: 1- Cumprir com a lei Federal para conservar o estado de direito pisoteado em nossa universidade, 2- Mudar completamente a politica de ensino e ciência e tecnologia para colocar as mesmas ao serviço do país e de seu povo.
Neste gravíssimo momento de nosso país e da universidade acredito que a APUFSC no pode ficar por cima do muro, olhando para o céu, se trata de ser um verdadeiro sindicato que luta pela verdade e justiça.
Pergunto a todos meus colegas: acaso seguiremos guiados pela escolha ilógica?
Rosendo A. Yunes
Professor aposentado