Comitê intersetorial apresenta mapeamento da saúde mental na UFSC

Grupo discutiu propostas de diretrizes para lidar com a questão

Em uma reunião híbrida realizada nesta terça-feira, dia 17, membros do Comitê Intersetorial Permanente de Saúde Mental, Atenção Psicossocial e Promoção de Saúde se reuniram com a Administração Central da UFSC para apresentar um mapeamento da situação de saúde mental na universidade e propor diretrizes para a efetiva implementação de uma política na instituição.

Representando a gestão da UFSC, estavam presentes o reitor Irineu Manoel de Souza, a vice-reitora Joana Célia dos Passos, o pró-reitor de Pós-Graduação, Werner Krauss, e as pró-reitoras de Permanência e Assuntos Estudantis (Prae), Simone Sobral Sampaio, e de Ações Afirmativas e Equidade (Proafe), Leslie Sedrez Chaves.

A vice-reitora alertou para o crescente número de casos de sofrimento psicossocial na comunidade universitária, ressaltando que “há uma rede de universidades articuladas para o enfrentamento dessas questões, e, para a gestão da UFSC, é muito importante poder consolidar, a partir do início de 2025, um plano estruturado de atuação em saúde mental.”

O encontro foi dividido em dois momentos: primeiro, a apresentação de dados e evidências sobre a situação atual, e, em seguida, um debate sobre proposições a partir de eixos como “Se estou em sofrimento na UFSC, com quem posso contar?” e “Promoção da saúde mental na UFSC”.

Lucas Emmanoel Cardoso de Oliveira, psicólogo da Proafe e presidente do Comitê Intersetorial, coordenou os trabalhos e destacou uma linha do tempo de iniciativas em saúde mental na UFSC desde 2001, bem como dados expressivos sobre o aumento de casos de ideação suicida, planejamento de suicídio e evasão entre estudantes.

A saúde mental é um tema cada vez mais relevante no contexto universitário, e a UFSC tem buscado compreender e abordar as complexidades deste assunto. Lucas, então, apresentou uma proposta com cinco pontos fundamentais para a construção de políticas efetivas na instituição, com vistas a encaminhamentos para o próximo ano.

O psicólogo iniciou sua explanação com uma reflexão sobre a natureza do sofrimento humano. Afirmou que o sofrimento é uma parte inerente da vida, algo que não pode ser evitado, mas que deve ser compreendido em suas múltiplas dimensões. “Dessa forma, é crucial entender que a saúde mental não pode ser dissociada das condições sociais, políticas e históricas que cercam a vida na universidade. Como espaço de formação, tem um papel direto na produção e na mitigação do sofrimento físico e mental de sua comunidade”, ressaltou.

Ele também delineou um histórico das tentativas de implementar um trabalho efetivo em saúde mental na UFSC, ressalvando marcos importantes desde 2001. Entre eles, destacou a criação de uma comissão em 2014, focada na política de atenção psicossocial e pedagógica, e o primeiro fórum de saúde mental em 2018, que reuniu diversos segmentos da comunidade acadêmica. Essas iniciativas foram fundamentais para estabelecer um diálogo sobre a promoção da saúde mental, culminando na criação de uma comissão permanente para monitorar a saúde psicológica durante a pandemia em 2020.

Lucas abordou dados alarmantes sobre a saúde mental na UFSC, mencionando que a incidência de pensamentos suicidas entre os estudantes praticamente dobrou nos últimos anos. Ele argumentou que, apesar da crescente conscientização sobre a saúde mental, a Universidade ainda enfrenta desafios significativos. O mapeamento revelou que 46,2% dos estudantes já contemplaram a ideia de suicídio, com uma prevalência maior entre os jovens de 17 a 26 anos. Além disso, 32% dos estudantes não conhecem os serviços disponíveis para apoio psicológico.

Com base nesses dados e na análise do contexto atual, Lucas propõe que a UFSC avance em suas políticas de saúde mental. Ele sugere a necessidade de um maior investimento em serviços de acolhimento psicológico e a promoção de uma cultura que valorize o bem-estar emocional. A criação de campanhas de conscientização e a expansão dos serviços de saúde mental são essenciais para garantir que todos os estudantes tenham acesso ao apoio necessário.

“A saúde mental deve ser uma prioridade, não apenas como um tema de debate, mas como uma prática cotidiana que permeie todas as esferas da vida universitária. O caminho é desafiador, mas essencial para o bem-estar de todos(as) que fazem parte dessa instituição”, reforçou o psicólogo.

Ao final, o reitor Irineu Manoel de Souza agradeceu a apresentação e sinalizou a importância deste momento para a efetiva implementação da política de saúde mental já aprovada pelo Conselho Universitário, ressaltando a necessidade de acolher as proposições da comunidade universitária para estruturar uma nova abordagem nesta área tão crucial.

A Política

Com o objetivo de atender estudantes – da Educação Infantil à pós-graduação –, servidores docentes e técnico-administrativos e trabalhadores terceirizados de seus cinco campi, a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) instituiu sua Política Intersetorial Permanente de Saúde Mental, Atenção Psicossocial e Promoção da Saúde, em 31 de março de 2022.

A nova política compreende nove eixos temáticos: universidade promotora de saúde; prevenção de riscos e danos (abuso de substâncias psicoativas, suicídio, sofrimento psíquico, luto); atenção a crises e urgências; acolhimento, cuidado psicossocial, redução de danos, recovery e ações em rede; combate à violência institucional (trote, bullying, assédio moral, assédio sexual, racismo, desigualdades de gênero, LGBTQIA+fobia, iniquidades socioeducativas); prevenção de riscos e promoção da saúde a partir da integração acadêmica e do enfrentamento ao fracasso escolar na educação superior; comunicação, apoio de mídia e divulgação de ações e serviços; avaliação de ações, projetos e programas de saúde mental, atenção psicossocial e promoção de saúde para a comunidade universitária; sensibilização da comunidade da UFSC para a formação continuada no campo da atenção psicossocial.

A política é conduzida pelo Comitê Intersetorial Permanente de Saúde Mental, Atenção Psicossocial e Promoção de Saúde. Vinculado ao Gabinete da Reitoria, ele é composto por representantes da Pró-Reitoria de Ações Afirmativas e Equidade (Proafe), das pró-reitorias de Assuntos Estudantis (Prae), de Graduação e Educação Básica (Prograd), de Pós-Graduação (PROPG) e de Desenvolvimento e Gestão de Pessoas (Prodegesp), do Colégio de Aplicação (CA), do Núcleo de Desenvolvimento Infantil (NDI), do Diretório Central dos Estudantes (DCE), da Associação dos Pós-Graduandos (APG), do Sindicato dos Professores das Universidades Federais de Santa Catarina (Apufsc) e do Sindicato dos Trabalhadores em Educação das Instituições Públicas de Ensino Superior do Estado de Santa Catarina (Sintufsc), além de professores e técnicos administrativos especialistas nas temáticas contempladas. Os membros foram nomeados pela Reitoria.

A Portaria nº 2454/2023/GR, instituiu o Comitê de Saúde Mental da UFSC, com o objetivo de implementar e conduzir as ações estabelecidas na Resolução normativa nº 163/2022/CUn, que dispõe sobre a Política Intersetorial Permanente de Saúde Mental, Atenção Psicossocial e Promoção de Saúde da instituição. Para tal, foram designados os seguintes integrantes:

– Anna Carolina Ramos – Sapsi/DPSI;
– Camila Camilozzi Alves Costa de Albuquerque Araújo – CED;
– Daniela Ribeiro Schneider – Apufsc-Sindical;
– Eliane Franca Pereira – DAS;
– Giana Carla Laikovski – Sintufsc;
– Janaina Santos de Macedo – Prograd;
– Karine Simoni – CCE;
– Karla Gripp Couto de Mello – Prodegesp;
– Lucas Emmanoel Cardoso de Oliveira – Proafe;
– Marjori de Souza Machado – DSS;
– Michaela Ponzoni Accorsi – Prae;
– Paulo Otolini Garrido – CSE;
– Regina Ingrid Bragagnolo – NDI;
– Rui Daniel Schroder Prediger – PROPG; e
– Simone Vieira de Souza – MEN.

Fonte: Notícias UFSC