Os relatórios das Comissões da Verdade de SC e da UFSC

1ª. SEÇÃO:

 

Sobre o Relatório Final da Comissão da Verdade da UFSC.

 

Concordo com as apreciações elogiosas e críticas feitas sobre o Relatório Final da Comissão da Verdade da UFSC.

Destaco que o esforço da Comissão e o resultado obtido são apreciáveis. Sem dúvida. As falhas ficam, sempre, na conta de quem trabalha, de quem faz os serviços de buscas e de relatos, com as dificuldades inerentes aos processos de trabalhos específicos. É assim mesmo. Não tem jeito!

E quem lê, quem assiste, quem “fez a história”, também tem a sua parte e pode fazer os seus destaques. Introduzir a sua ”visão”, também.

E, isto não implica em nenhum julgamento depreciativo ou equivalente.

E a crítica pode ser política, científica, histórica e, sobretudo, sempre tem ou pode ter o objetivo de agregar, aclarar, precisar, melhorar, completar, preencher lacunas, etc.

Eu já as fiz, comparando o Relatório Final da Comissão Estadual de SC com o da Comissão da UFSC que ficou, destacadamente, muito mais completo e muito melhor.

Com destaque, evidentemente, para as elevadas contribuições pessoais e coletivas de todos os membros da Comissão da UFSC. Não tenho nenhuma dúvida, quanto a isto.

 

Sobre algumas Verdades da Ditadura Civil e Militar em Fpolis e em SC…

 

O Relatório Final da Comissão da Verdade Estadual de SC, Comissão que foi constituída e comandada pelo Procurador, Dr. Nadir, Derlei de Luca, Anselmo Livramento e por outros participantes está eivado de erros, omissões e até, ouso dizer, algumas falsificações.

 

O Relatório Final apresenta erros de descrição, de arrumação e de organização final dos textos. Sobretudo, há falhas de avaliação, de busca dos fatos e dos personagens que fizeram a verdadeira história, como militantes, operários, populares, estudantes e Comunistas, em Fpolis e em SC.

 

O Relatório Final é apresentado e publicado com omissões de fatos, descuidos de buscas dos atores para prestarem os seus depoimentos, omissões na apresentação e não revelação de depoimentos que foram prestamos à Comissão nas reuniões de suas tomadas e gravações, como ocorreu com os depoimentos de Geronimo W. MACHADO, Valdir Izidoro da Silveira, Vladimir Salomao do Amarante e de muitos outros que não constam do referido Relatório Final.

 

Há muita gente que militou no Partido Comunista e em SC, desde 1926, dos quais nenhuma busca fizeram, nenhuma citação, nenhuma lembrança revelam.

 

O Relatório ignora, solenemente, apenas revela, friamente, numa lista final, alguns nomes. Mas, ignora, solenemente a história e a militância de Álvaro Ventura, Manoel Alves Ribeiro, Pepe Verzola, João Verzola, Mário Bastos, Francisco José Pereira, Amadeu da Luz, Roberto Cologni, Jorge Feliciano, Roberto João Motta, Marcos Cardoso Filho, Cirineu Martins Cardoso, Alecio Verzola, Inácio da Silva Mafra, Vladimir S. Amarante, Geronimo W. MACHADO, Emanoel Medeiros Vieira, ETC., Etc., Etc.

 

Lembramos de Álvaro Ventura que foi Deputado Federal Classista por SC, na Constituinte dos anos de 1930 de Getúlio Vargas, lembramos de “Seu Mimo” ou Manoel Alves Ribeiro, eletricista da construção da ponte Hercílio Luz, militante e comunista destacado, eleito Vereador de Fpolis, nos anos de 1959-1963, pelo PSP de Adhemar de Barros e autor de um espetacular livro, sobre a história do PCB e da Esquerda, em SC, CAMINHOS. Conhecemos muitos nomes que são vistos e citados no livro do Jornalista Celso Martins, OS COMUNAS e que são ignorados pelo Relatório.

Finalmente, falar das verdades e dos horrores da ditadura, em Fpolis e em SC, excluindo os militantes e as organizações sociais, estudantis e sindicais, aonde, sempre houve uma forte militância comunista é falsear a Verdade.

 

Ignorar, como faz o Relatório Final da Comissão da Verdade de SC, tudo o que houve, com tantos presos pela ditadura, com tanta repressão e torturas dos militantes Comunistas é falsear a Verdade.

Enfim, ignorar, cega e completamente o Partido Comunista, sem considerar as histórias de suas militâncias pela esquerda democrática e progressista, em Fpolis e em SC é falsear a Verdade.

 

Excluir tudo, de todos os Comunistas, toda a sua história, como sempre fez a Derlei de Luca e outros militantes da Ação Popular e do PT, em Fpolis e em SC é negar e falsear, completamente, a existência da ditadura em Fpolis e em SC. Fazer como fez a Comissão da Verdade de SC, em seu Relatório Final é, realmente, falsear completamente toda a VERDADE.

 

Desde o início da formação da Comissão, a ausência de representantes Comunistas nela me permitiu dizer que a Comissão nunca chegaria a nenhuma verdade. Aquela Comissão não surgiu para buscar a Verdade. Ela foi criada para não encontrar nenhuma Verdade. Ela foi feita só para falsear a Verdade. E foi o que ela fez no seu Relatório Final que está cheio de omissões e falsificações. Temos um Relatório com poucas verdades e com algumas mentiras. Por exemplo, lá constam os nomes de pessoas que é sabido que nada sofreram da ditadura, em Fpolis e em SC. Lá constam nomes de pessoas que ainda estão vivas e que lá são listadas como falecidas. Lá não constam as dignas histórias de muitos militantes Comunistas que têm as suas histórias contadas em livros, mas que não constam do Relatório Final da Comissão da Verdade de SC.

 

 

OS RELATÓRIOS DAS COMISSÕES DA VERDADE DE SC E DA UFSC.

 

2ª. SEÇÃO:

 

O Relatório Final da Comissão da Verdade da UFSC.

 

Jean-Marie, vi e revi todas as gravações dos depoimentos individuais e coletivos recolhidos pela Comissão da Verdade da UFSC e participei de diversos eventos públicos e coletivos da Comissão.

Como lhes declarei, no depoimento que dei à Comissão, acompanhei bem e conheço bem a história política e social de Fpolis e de SC, pois a vivenciei diretamente, pelo menos, desde 1958.

 

E, especialmente, conheço bem a história da Esquerda e dos movimentos dos partidos progressistas e de esquerda porque participei diretamente deles desde os anos de 1950.

 

Neste sentido, lembrei e sugeri à Comissão que ouvisse, formal e oficialmente, muitos dos membros, militantes e agentes históricos dos movimentos, sociais e dos partidos progressistas e de esquerda.

E de tudo o que li e assisti do Relatório Final da Comissão, encontrei alguns erros, importantes omissões e ouso avaliar, algumas distorções e equívocos que ainda precisam ser corrigidos.

 

Por exemplo, achei o depoimento do Prof. Armen Mamigonian parcial, incompleto e com alguns erros, omissões, distorções e confusões que mereceriam ser corrigidos.

 

Os depoimentos dos ex-Reitores da Ufsc foram muito parciais e incompletos. Eles omitiram muitas informações que, em razão de seus elevados ofícios, conheciam muito bem. Mas, se omitiram de lhes fornecer. Colocaram-lhes para debaixo dos tapetes. E a Comissão deixou de obter o depoimento do ex-Reitor Diomário Queiroz e de outros Reitores e pró-reitores, altos funcionários da Reitoria, ex-Diretores de Centros, Chefes de Departamentos e muitos outros antigos estudantes da Ufsc e outras pessoas e autoridades que sempre viveram muito próximos e envolvidos com a nossa Universidade.

 

Achei os depoimentos do Jaraguá (José Manoel Soar) e do Rogério Queiroz, ex-Preidentes da UFE e da FEUSC-UCE, grandes personagens de nossos Movimentos Estudantis secundaristas e da Ufsc, embora já com significativas perdas de memorias, muito prejudicados e incompletos. E a Comissão não obteve o depoimento de Ady Viera Fo, ex-Presidente da UCES e de outras lideranças estudantis dos anos de 1960.

 

Os depoimentos de Heitor Bittencourt, ex-Presidente da UCE-FEUSC-DCEUFSC, João Soccas, Ronaldo Andrade, Margarete Grando, Lícia, Cao Cancelier de Olivo (Reitor de 2016-17), Marcos, Marize Lippel, Lelê Koerich, dos Centros Acadêmicos, já pós-Reforma da Ufsc e do Plano MEC-USAID e Atkon aportaram boas informações sobre os anos de 1970 e 80. Destacaram as formas das lutas de seu Movimento Estudantil na Ufsc e seu combate contra a ditadura, pela Anistia e pela democracia no Brasil.

 

Os depoimentos de Célio Espíndola, Marli Auras, Tanira Piacentini, Ane Beck, Irmingard Has aportaram boas informações sobre a formação e a luta da ACEP e da APUFSC, após 1978. Lutas pela Anistia, pela Democracia na Ufsc e no Brasil, pela liberdade de imprensa, sindical e partidária, pela liberdade dos presos políticos e pelo Estado de Direito, etc.

 

Alguns depoimentos me pareceram, precários e desnecessários. Nada aportaram e nada acrescentaram para o Relatório Final. Poderiam ter sido dispensados, como os do Prof. Nazareno Schaefer, ex-Vice Reitor da Ufsc, de 1972-76 e fundador da APUFSC, em 1975, Luiz Carlos e Fernando Ponte que nada acrescentaram.

 

E, no entanto, faltaram muitos depoimentos, de muitos atores que lutaram muito contra a ditadura e pela Democracia, em Fpolis e em SC. Atores e militantes que foram muito prejudicados, torturados, desempregados e muito perseguidos, em Fpolis e em SC. Cujos nomes e depoimentos não foram considerados, suas histórias não foram sequer lembradas, nem referidas ou contempladas, no Relatório Final da Comissão da Verdade da Ufsc.

 

Mas, em parte, atribuo isto tudo, também, à formação e à composição da Comissão que deixou de incluir membros portadores da história do movimento comunista em Fpolis, na Ufsc e em SC. Mas não deixou de incluir, ou, só incluiu, membros portadores da história apedeuto-petista, talvez anticomunista e outros que tais….

 

 

OS RELATÓRIOS DAS COMISSÕES DA VERDADE DE SC E DA UFSC

 

3ª. SEÇÃO:

 

Outros Aspectos do Relatório e da Comissão da Verdade da Ufsc.

 

O Relatório da Comissão da Verdade da Ufsc, como o da Verdade da ALESC de SC, assim como o livro comemorativo dos 50 Anos da Ufsc passam um pouco ou bem ao largo da verdadeira e completa história da ditadura e de sua amaldiçoada repressão, tortura, perseguição e desemprego que atribuiu a muitos militantes que dedicaram a sua vida à luta pela Democracia e pelo Estado de Direito, na Ufsc, em Fpolis e em SC.

 

O Relatório Final, da Comissão da Verdade da Ufsc nos apresenta erros, omissões e talvez distorções e equívocos ou inadequações de percepções, ou de juízos de valor, dos fatos e sobre os depoimentos, com transcrições e descrições inadequadas e que revelam percepções, opções e, talvez, juízos de valor impróprios eou que subentendem menosprezo ou opções que privilegiam visões erradas ou escolhas que indicam maior valor para fatos ou opções de fatos incompreensíveis, aos olhos e juízos de outros. Ou visões incompreensíveis em desfavor de fatos eou de valores ou de depoimentos que parecem ter as suas percepções negligenciadas ou com maior preferência da relatoria da Comissão da Verdade.

 

É bom não ignorar que houve um período de grande e intensa participação do movimento estudantil da UCE, FEUSC, DCE, CAXIF e 3ª FORÇA, das Faculdades de Direito, Ciências Econômicas, Medicina e Serviço Social, no Centro da cidade, no período da primavera de Paris e de Praga, nos anos de 1967 a 1970, com a preparação e a realização do 30º Congresso Nacional da UNE, quando tudo isto foi muito importante aqui na Ufsc, sob a liderança de Roberto Joao Motta, Vladimir S. Amarante, Geronimo W. Machado, Heitor Bittencourt, Derlei de Luca, Valmir Martins, Munir Chamone, Marcos Cardoso, Joao Soccas, etc. Etc. Quando, fizemos extraordinárias Assembleias Gerais dos Estudantes na UCE, muitas passeatas pelo centro da cidade, queimas públicas de bandeiras dos EUA, récitos públicos de poemas de MAYAKOSKI, greves estudantis contra a reforma universitária e contra a transferência das Faculdades do Centro da cidade para a Cidade Universitária, para o vetusto e longínquo bairro da Trindade… Longa luta pela melhoria do RU, por mais e melhores residências para os estudantes universitários de outras regiões, contra os contratos escandalosos da Reitoria da Ufsc com a família Daux, pelos prédios que alugavam para alojar os estudantes, espalhados pelo Centro, em cinco Ruas da Cidade…

 

Além de que, isto tudo ocorreu antes, concomitante e, logo após as prisões de Ibiúna, em novembro de 1968. Quando, em seguida editaram o mortífero, infernal e repressivo AI-5. Em 1969, cassaram as nossas candidaturas: Gerônimo W. Machado (Direito), Marcos Cardoso Fo (Engenharia), Sergio L. Bonzon (Filosofia) e Celso Wiggers (Economia), na chapa que montamos e que assumiria, então, a FEUSCDCEUCE, em maio de 1969. Fomos cassados, com base no Dec. 228 para que eles conseguissem eleger a chapa da Reitoria, comandada pelo seu pupilo, Rodolfo Joaquim Pinto da Luz que matou, de vez, o Movimento Estudantil. E, Rodolfo, depois foi ser um alto burocrata do MEC, depois, Reitor da Ufsc por três gestões, entre 1980 e anos 2000. Rodolfo foi sucedido, em 1970, no DCE da Ufsc por Dalton dos Reis (1970-71), depois, foi a vez do Jacaré ou Álvaro Reinaldo de Souza (1971-72) que veio a ser Procurador da Ufsc, na Reitoria de Ernani Bayer, entre 1980-84. Eles completaram a tarefa de acabar com o ME na Ufsc. Mas, Jacaré já foi sucedido por outros estudantes que tentaram retomar o ME, o DCE e a UNE, no Centro Básico da Ufsc, agora, na Trindade, após a Reforma Universitária e já na continuidade dos velhos combates e lutas estudantis.

 

 

OS RELATÓRIOS DAS COMISSÕES DA VERDADE DE SC E DA UFSC.

 

4ª. SEÇÃO:

 

Outros Aspectos do Movimento Estudantil em Fpolis, na Ufsc e outros…

 

Entre 1960 e 1964 os Estudantes Universitários Catarinenses e das diversas Faculdades que em 1960 vieram a constituir a Ufsc tiveram fortes lideranças estudantis como Francisco Mastella e Rogério Queiroz, oriundos do CAXIF e da Faculdade de Direito. Eles foram grandes lideranças que contribuíram muito para edificar o belo prédio da Rua Álvaro de Carvalho que por longos anos sediou a UCE e a FEUSC, iniciou o RU da Ufsc, movimentou uma expressiva imprensa e desenvolveu expressivas manifestações culturais, com a UNE, como o CPC, a FOLHA CATARINENSE, o REFORMA, etc.

 

E no âmbito secundarista, o Jaraguá foi uma grande liderança que presidiu a UFE, a UCES e com ele participamos de vários Congressos Estaduais dos Estudantes Secundaristas Catarinenses e Nacionais, como o de Curitiba, de 1963, com a UBES que foi presidida pelo destacado estudante secundarista Catarinense Políbio Braga, até 1964. Quando todo o ME brasileiro foi praticamente extinto pelo golpe miliar e pela ditadura que prendeu todos as lideranças estudantis progressistas e de esquerda e colocou todas as entidades estudantis na ilegalidade e na clandestinidade.

 

E em 1969 ou 1970, o Jaraguá (José Manoel Soar) lembrou que teve o seu discurso de formatura em Direito, como orador de sua Turma de Formandos, censurado e recebeu recomendações de maneirar e de se acalmar com o seu discurso. Além de ter tido severas dificuldades, por vários anos, depois de formado em Direito, para arrumar emprego e ajudar a sua família.

 

Já, em 1970 eu fui sequestrado, à tarde, de meu trabalho, no BDEBESC, pelo Diretor do, então, Centro Sócio Econômico, Prof. Paulo Henrique Blasi e pelo Prof. Gustavo Zimmer, Chefe do Depto de Economia, antiga Faculdade de Economia. Tive que levar o meu discurso de Formatura, pois fui escolhido para ser o orador de minha Turma de Economia, em Dezembro de 1970. E eles me tomaram o meu discurso, rabiscaram-no, rasuraram palavras, ideias, conceitos e parágrafos e escreveram textos que colaram sobre as partes mais longas que censuraram.

Mutilaram e truncaram, completamente, o meu discurso que depois levaram ao Cartório Farias para fotocopiá-lo e ficaram com copias, para a Polícia Federal, DOPS e SNI, para, certamente, à noite, no TAC, na solenidade da Formatura, conferirem, para saber se eu me ateria aos limites de sua feroz censura.

 

Mas, os sequestradores e censores me liberaram, já quase à noite. Fui para casa e voltei para a solenidade de Formatura, no Teatro, aonde encontrei com a Turma e avisei que não iria fazer discurso nenhum porque o meu discurso original, que a Turma já conhecia, foi barbaramente censurado pela repressão e censura do Blasi, do Zimmer e da polícia da ditadura. Então eu não iria mais fazer discurso nenhum. Mas, os mais amigos e a Turma de conciliadores me exigiram que em nome da Turma eu dissesse o que achasse melhor.

 

Então desisti de rasgar o discurso no púlpito e só li o que consegui ler, truncando, literalmente, o conjunto encadeado de minhas ideias e conceitos que elegi. E não transformei o discurso, como imaginei, em papel picado, para jogar sobre a plateia de familiares e amigos, como disse, para protestar contra a censura e contra a ditadura.

E é claro que isto continuou a me causar incômodos e dissabores, por parte da polícia da ditadura e de suas censuras.

Perdi, por duas vezes, o meu emprego de Professor da Ufsc, em 1972 e 1979. Não fui chamado para assumir o meu emprego de Professor da Ufsc, em 1973, quando fiquei em 1º lugar no concurso que foi feito para ocupar duas vagas. A Banca Examinadora do concurso selecionou quatro candidatos. E a Ufsc chamou para assumir as vagas os concursados Tuneo Kato, Genésio Suene e Antônio Cecato. Mas, nunca me chamou porque o Edital do concurso rezava que “a nomeação do candidato aprovado no Concurso independeria da ordem de classificação do candidato”.

 

E, assim o tempo passou e o Reitor Mundel de Lacerda não me contratou.

 

Em 1974 fui para Paris.

 

Em 1975 a Operação Barriga Verde me “pegou” no BESC, me processou e exigiu a minha demissão. O que foi feito. Mesmo, ausente, seria processado pela 5ª CRM do Exército de Curitiba. Mas fui “excluído do processo, por falta de provas.

 

Na Novembrada, em 1979, tendo voltado de Paris, só funcionaria como Advogado de menores que foram presos pela repressão aos jovens estudantes que participaram das manifestações.

Depois, me exilei em Recife, em 1980.

 

Voltei em 1983 para ser aprovado em novo concurso de Professor da Ufsc. Assumi em 16.08.83 para hoje ser aposentado dessa minha insuperável paixão que é a Ufsc. Sem contar com a Ação indenizatória, contra a Ufsc, em 1980 que me tomou oito anos de precatórios e ainda hoje tenho algum saldo para receber.

 

Além de meu processo de EQUIVALENCIA, na Ufsc que foi outra novela repressiva, tortuosa, também e persecutória, de 1983-87.

 

E o processo de Anistia, só para me contar o tempo de serviço, a partir de 1972 e que se alongou de 1980 a 1996…

 

Acham pouco¿! Mas, nos detalhes, ainda há muito mais…

 

Em 1971, os repressores da Ufsc, comandados por Ferreira Lima, Roberto Mundel de Lacerda, Volnei Miles, Valmor Bonifácio de Sena, Nereu do Vale Pereira, Ma. Carolina Gallotti Koerig, Aragão, Veiga Lima, Jaldir Weber de Melo, Pe Bianchini, etc. ETC., oriundos de todas as antigas Faculdades e agora nos Centros de Ensino e Departamentos da Ufsc, com cursos semestrais e de créditos, por disciplinas cursadas e não mais por disciplinas de séries anuais e cursos anuais.

 

Pois, depois da nefanda reforma universitária, eles inventaram que para proceder à formatura de todos os formandos de 1971 – ultimas turmas das antigas Faculdades – todos os formandos teríam que passar por uma série de conferências e de cursos curtos e especiais, como os da ESG (Escola Superior de Guerra), tipo EPB ou Educação Moral e Cívica, com cujos certificados de presença obrigatória nós teríamos direito às nossas formaturas. E, só assim poderíamos receber os nossos Diplomas. Para isto chamaram um general, um militar da ESG, de Brasília, para nos dar esses cursos.

 

Soubemos que esse general chegou a Floripa e estava na Ufsc.

 

No dia programado, ao final de 1971, com muitos formandos, de toda a Ufsc, estávamos no RU, na Escola Técnica Federal, na Av Mauro Ramos. Ao meio dia e às 18 horas e lá fizemos uma monumental manifestação de protesto, recusando aquele abuso absurdo da Ufsc, com a presença daquele interventor nefasto e representante da ditadura, na Ufsc, com a conivência das autoridades da Universidade.

 

Os Formandos não se inscreveram no curso do general da ESG. Nenhum Formando foi ao tal curso. O general foi embora, a Ufsc cancelou a sua impostura e teve que proceder à todas as solenidades de formatura, conforme foi programado pelas Turmas de Formandos, como a minha, da Faculdade de Direito, em onze de dezembro de 1971.

 

Assim, todos nos formamos, naquele ano. E, a partir daquele ano e nos anos seguintes eles instituíram o EXAME DE ORDEM – uma especificidade da OAB – que passou a ser mais uma exigência para que os novos formados das Universidades pudessem adquirir os seus registros profissionais. Como continua sendo, até hoje.

 

Além do mais…

 

A minha história já está bem contada e já é bem conhecida de muita gente.

 

E quase tudo o que me ocorreu, no BDEBESC e na UFSC é largamente conhecido de nossa imprensa de nossa cidade e da Ufsc. Pelo menos, desde 1967.

 

No mais, praticamente, descrevi quase tudo e anexei documentos probantes às vinte páginas de meu requerimento de Anistia que protocolei na Comissão Nacional de Anistia, no Ministério da Justiça, em Brasília, em 2014. Ao que anexei mais 200 paginas e folhas de papel e impressos que foram juntados ao requerimento, como documentos probantes.

 

Tenho copias de tudo, inclusive daquele requerimento que ainda está em apreciação pela Comissão Nacional de Anistia de Brasília e que coloco à disposição de todos os membros da Comissão da Verdade da Ufsc e para o seu Acervo público.

 

E continuo à disposição de quem deseje saber da minha história, de minha experiencia, de meus pontos de vista e de minhas opiniões sobre todas estas histórias.

 

Florianópolis, 04 de Junho de 2018.

 


Gerônimo W. Machado

Professor Aposentado