Pesquisadores catarinenses em defesa da Democracia?

A petição pública “EDUCADORES CATARINENSES PELA DEMOCRACIA” https://peticaopopular.com.br/view.aspx?pi=ciencianaeleicao  numa primeira leitura parece agregar princípios bem razoáveis e desejáveis em favor da democracia. Contudo, avançando no texto da petição, vemos que ela associa um possível risco à ordem democrática a apenas um candidato, no caso, Jair Bolsonaro, ao afirmar veladamente  que

“Sabemos no entanto que a democracia não pode estar calcada na desinformação, na irracionalidade e na intolerância. Tampouco ela pode flertar com soluções autoritárias e inconstitucionais, muitas das quais expressas de forma pública e contundente pelo candidato que liderou o pleito neste primeiro turno, ao longo de sua longa trajetória política.

Ora, será mesmo que os autores da petição estão incondicionalmente interessados na defesa da democracia? Como explicar então a exclusão do PT de Fernando Haddad entre os que ameaçam a democracia? Com efeito, O PT em inúmeros documentos e análises de conjuntura toma posições duvidosas que corroem a democracia, por exemplo, no que diz respeito a operação Lava-Jato lemos

“A Operação Lava Jato desempenha papel crucial na escalada golpista. Alicerçada sobre justo sentimento anticorrupção do povo brasileiro, configurou-se paulatinamente em instrumento político para a guerra de desgaste contra dirigentes e governantes petistas, atuando de forma cada vez mais seletiva quanto a seus alvos, além de marcada por violações ao Estado Democrático de Direito. Tem funcionado como mecanismo de contrapropaganda para mobilização das camadas médias, em associação com os monopólios da comunicação. Revela, por fim, o alinhamento de diversos grupos do aparato repressivo estatal – delegados, 3 procuradores e juízes – com o campo reacionário, associados direta ou indiretamente às manobras do impeachment.”

http://www.pt.org.br/wp-content/uploads/2016/05/Resolu—-es-sobre-conjuntura-Maio-2016.pdf  (*)

Curiosamente, o ressentimento que o PT tem em relação a dinâmica da Lava-Jato com o uso de prisões preventivas e conseqüente delações premiadas como forma de aprofundar investigações parece ser bem seletivo quando, recentemente, o próprio candidato Fernando Haddad defendeu a prisão de empresários para que façam uma delação e revelem um suposto esquema de envio de mensagens anti-PT no aplicativo Whatsapp. Tudo isso sendo uma tentativa desesperada para inviabilizar as eleições e, pasmem, baseado apenas em uma reportagem de um jornal de grande circulação que até o momento sequer apontou qualquer evidência que comprove a acusação descrita na matéria.

No mesmo documento (*), lemos também a fracassada tentativa do PT em aparelhar as mais diversas instituições,

“Fomos igualmente descuidados com a necessidade de reformar o Estado, o que implicaria impedir a sabotagem conservadora nas estruturas de mando da Polícia Federal e do Ministério Público Federald+ modificar os currículos das academias militaresd+ promover oficiais com compromisso democrático e nacionalistad+ fortalecer a ala mais avançada do Itamaraty e redimensionar sensivelmente a distribuição de 5 verbas publicitárias para os monopólios da informação.”

Finalmente, apenas para citar mais um aspecto que configura a ameaça a democracia por parte do PT, vemos a sua inclinação à convocação de uma Assembléia Nacional Constituinte como forma de enfraquecer e suplantar  o Congresso Nacional, recurso antidemocrático e usado de forma eficaz por Hugo Chavez e Nicolas Maduro e que levou ao colapso da Venezuela. Ora, se a candidatura de Bolsonaro pode ser criticada como ameaça a democracia por uma declaração que o vice na chapa deu sobre a possibilidade de uma Constituinte, declaração prontamente desautorizada por Bolsonaro, por que não haveríamos de considerar o mesmo em relação ao PT?

Vemos então que o texto da petição trata a defesa de democracia de forma dissimulada assumindo um viés político favorável ao candidato Fernando Haddad e, por isso mesmo, se mostra inaceitável, já que basta uma análise dos vários documentos do PT para concluir que o PT é que se constitui uma ameaça a democracia.


Marcelo Carvalho

Professor do Departamento de Matemática