Fernando da Cunha Wagner
O nobre colega Valter Lúcio de Pádua elogiou profusamente as qualidades positivas e altamente honestas do povo brasileiro, em oposição às críticas do Ministro Ricardo Vélez Rodríguez. Lembrei-me então de um fato ocorrido em fevereiro de 1956. Eu tinha tenra idade e, no Cadillac Hidramatic 1954 de meu pai, íamos para Torres quando na altura de Santo Antônio da Patrulha (não existia free way na época!), um caminhão hiper carregado de bebidas da Antarctica tombou. Meu pai travou o carro e, imediatamente, foi tratar de acudir o motorista – que, felizmente, nada tinha sofrido senão o enorme susto.
Em menos de cinco minutos, embora eu achasse que estivéssemos num trecho desabitado da rodovia, “brotou” uma multidão de saqueadores que simplesmente “limpou” o caminhão de toda e qualquer bebida, aliviando também dois pneus estepes, conforme a Polícia Rodoviária do DAER – RS constatou quando de sua chegada, minutos depois. Ah, não tinha mais nenhum saqueador e o motorista, em agradecimento, deu-me uma garrafinha do guaraná caçula!
De lá para cá, assisti (n+k) saques de veículos tombados e de tudo quanto é coisa: eletrônicos, latas de azeite, porcos, bebidas alcóolicas, galinhas, bebidas não alcóolicas, móveis, pneus, etc. etc. Não, não estou falando de ladrões fichados. Estou me referindo às populações vizinhas aos eventos, que, como enxames mágicos e ensandecidos, surgem em tais eventos. Duvido que alguém não tenha vislumbrado algum, em um noticiário televisivo! Eu, pessoalmente, já vi vários. Por isso, argumentam as transportadoras, o seguro é tão alto, às vezes , até abusivo: por conta do furto e, da devolução das mercadorias pelo honesto povo brasileiro, quando os caminhões se acidentam.
Mas tem mais. Quando a Varig começou a operar os DC 10 (faz tempo né?), um dos comandantes era casado oficialmente com uma prima minha, pai de cinco filhos, em Porto Alegre, no RS – aliás era um super mau exemplo, mas de qualquer forma exemplo, diria eu um grande e emérito doutor ou PhD em Relações Extra Conjugais, para uns e outros, de um certo Departamento , de uma renomada Universidade do Sul do Brasil, pois também mantinha apartamentos completos com gueixas e tudo em Tóquio, Los Angeles, Rio de Janeiro, New York, etc. Enfim, um craque da poligamia, a quem meu pai detestava, mas eu como adolescente imaturo e, certamente com gônadas no córtex cerebral , o ouvia com curiosidade.
Contou-me então a seguinte história: cidadãos das mais altas classes sociais e viajantes de primeira classe em viagens internacionais e mesmo domésticas tinham o péssimo costume de levar como “souvenir” os talheres de prata que a companhia, embora avisasse que não era cortesia, faziam vistas grossas e solenemente as surrupiavam. Isso criou um enorme mal estar e, constrangimento na companhia criada com tanto amor por Rubem Berta e outros, visto que altas personalidades “colecionavam” tais itens e, teve sim um final desagradável.
Mas aposto que muitos dos senhores conhecem pessoas, ou conhecidos dos senhores mesmos, que têm talheres de prata da Varig, da Panair do Brasil ou da Cruzeiro do Sul? Ganharam? Muito bem. A prata é Hercules ou Abramo Eberle de Caxias do Sul. Ótima qualidade.
E, só para lembrar: este país já elegeu, democraticamente, um governador em São Paulo, na década de 50, cujo lema de campanha era simplesmente:
Vote em Adhemar, rouba mas faz. (A ex-presidenta Dona Dilma, atuando, na época, como a guerrilheira Wanda da VPR, “aliviou-lhe”, em uma ação espetacular, U$2.500.000,00 do cofre de sua amante durante a luta armada urbana).
Décadas depois, veio a Lava Jato. Junto, a compra da Ruivinha, por causa do alto grau de ferrugem (Pasadena). Etc.etc. E, então, sim, of course: o Brasil é um país de gente muito honesta, até a raiz dos cabelos, Renan Calheiros que o diga, só que em outro sistema solar e regida por outro sol, que desconheço.
* Professor aposentado