Contribuições ao Artigo sobre Internacionalização Seletiva

*Por Lincon P. Fernandes

A recente minuta da política de internacionalização da UFSC, atualmente em consulta pública, trouxe discussões significativas sobre o escopo e o impacto dessa política, especialmente em relação ao contexto multicultural de Santa Catarina e ao papel da universidade no cenário global. A análise crítica do Professor Hans Michael van Bellen destaca pontos que merecem reflexão: algumas abordagens propostas podem, inadvertidamente, limitar o potencial de colaboração acadêmica e científica da universidade. Este artigo amplia essa análise, com sugestões para tornar a política mais inclusiva, prática e alinhada com as necessidades acadêmicas e científicas contemporâneas.

Uma Análise Crítica da Proposta de Internacionalização

A política enfatiza temas como justiça epistêmica, descolonização do saber e parcerias preferenciais com o Sul Global. Embora essas diretrizes busquem promover inclusão e dar voz a saberes historicamente marginalizados, uma orientação que privilegie exclusivamente determinados eixos ideológicos pode reduzir o alcance e as oportunidades de colaboração, especialmente com o Norte Global, limitando a troca científica e a pluralidade de perspectivas. Em um ambiente universitário, onde o intercâmbio de ideias é vital, uma política que restringe parcerias internacionais corre o risco de comprometer essa troca. Uma abordagem mais equilibrada, que valorize colaborações diversificadas, garante à UFSC uma rede mais ampla de saberes e inovações.

O Contexto Cultural de Santa Catarina e a Relevância do Português Brasileiro na Internacionalização

A riqueza cultural de Santa Catarina, marcada pela diversidade e pelo legado de várias ondas migratórias, confere ao estado uma identidade multicultural singular. Essa particularidade deve refletir-se na política de internacionalização da UFSC, de forma que se valorize tanto o português brasileiro quanto as colaborações com o Sul e o Norte Global. O português brasileiro, enquanto língua oficial e cultural da instituição, é um veículo importante para a valorização da cultura local e para o fortalecimento da
presença da UFSC no cenário acadêmico mundial. Ao adotar uma política inclusiva e abrangente, a UFSC poderia fortalecer sua identidade local, promovendo uma cooperação acadêmica que respeite suas raízes culturais e, simultaneamente, incorpore perspectivas globais.

A Importância de uma Abordagem Pluralista

Uma política de internacionalização robusta deve integrar diversas visões e origens, criando um ambiente colaborativo onde as parcerias sejam avaliadas pelo mérito acadêmico e científico, sem restrições ideológicas. Esse enfoque pluralista assegura que decisões estratégicas estejam pautadas pela excelência e pela diversidade de saberes, promovendo um ambiente mais democrático e menos suscetível a tendências políticas. Uma abordagem plural reafirma o compromisso da UFSC com a abertura a
múltiplas perspectivas, que são essenciais para o avanço do conhecimento.

Fortalecimento da Diversidade Linguística e o Papel Prático do Inglês e do Português Brasileiro

A valorização de múltiplos idiomas e de conteúdos interculturais é fundamental para a inclusão, mas é igualmente importante reconhecer os papéis práticos do inglês e do português brasileiro. O inglês, enquanto língua de ampla circulação acadêmica, facilita a inserção da UFSC no cenário internacional. Já o português brasileiro, além de expressar a identidade e a cultura local, torna-se fundamental para que o conhecimento produzido na UFSC seja acessível à comunidade local e a parceiros lusófonos. O
fortalecimento do inglês deve ser visto não como uma substituição ao português e outras línguas, mas como uma estratégia complementar para expandir a rede de cooperação e inovação da UFSC, respeitando o contexto multicultural de Santa Catarina.

Recomendações para uma Política de Internacionalização Inclusiva e Abrangente

Para que a política de internacionalização da UFSC reflita plenamente seu contexto multicultural e responda aos desafios globais, sugerem-se as seguintes diretrizes:

  1. Equilíbrio entre Colaborações com o Sul e o Norte Global: Ao se abrir para parcerias com instituições de ambas as regiões, a UFSC amplia seu potencial de intercâmbio acadêmico e científico, respeitando a diversidade de saberes e evitando isolamentos ideológicos.
  2. Valorização do Português Brasileiro e Reconhecimento Prático do Inglês: O português brasileiro, enquanto língua oficial e cultural, fortalece a identidade local da UFSC e amplia a acessibilidade do conhecimento produzido. O inglês, como principal meio de comunicação acadêmica global, facilita a
    inserção da universidade no cenário internacional e potencializa o alcance de suas produções científicas.
  3. Valorização da Identidade Cultural de Santa Catarina: Incorporar a diversidade cultural do estado à política de internacionalização reforça a UFSC como um espaço de respeito e de trocas ricas entre o global e o local.
  4. Enfoque no Mérito Acadêmico e Científico: Uma política orientada pelo mérito assegura que decisões estratégicas sejam guiadas pela excelência e diversidade de saberes, promovendo um ambiente neutro e democrático.
  5. Integração dos Centros Tecnológicos de Pesquisa: A inclusão de centros de pesquisa tecnológicos fortalece as oportunidades de inovação e colaborações práticas com instituições globais.

A política de internacionalização da UFSC é uma oportunidade única para consolidar a relevância da universidade no cenário global. Incorporando uma visão equilibrada e promovendo a diversidade linguística com ênfase prática no inglês e no português brasileiro, além de respeitar o contexto multicultural, a UFSC fortalecerá sua rede de colaborações e seu papel como universidade de referência.

*Lincon P. Fernandes é coordenador do Programa de Pós-Graduação em Inglês: Estudos Linguísticos e Literários (PPGI)

Artigo recebido às 18h06 do dia 7 de novembro de 2024 e publicado às 08h29 do dia 8 de novembro de 2024