Sobre procedimento e substância: quando a desonestidade intelectual é substantiva

*Por Julian Borba

Em texto publicado neste espaço, o colega Samuel Pantoja de Lima me acusa de “simplificação grosseira” ou “desonestidade intelectual” por associar a nominata da chapa 2 ao Andes e vincular este grupo a práticas basistas, assembleistas, que, em sua essência, são autoritárias. O autor diz ainda que recorro a fatos de “tresontonte” para tratar de questões do presente.

O esforço do colega para tratar seu grupo como democrático é revelador dos compromissos assumidos com este conceito. Para o professor, democrático é discutir o “mérito do processo” (grifos meus). Deriva-se daí que meu argumento se concentra nos procedimentos. É aqui mesmo que reside a diferença entre nossos “modelos de democracia”: sim, eu defendo uma concepção de democracia centrada nos procedimentos, onde a “incerteza sobre os resultados” assume centralidade. O foco está nas garantias institucionais para que um processo de tomada de decisão aconteça de forma livre e esclarecida. O exato oposto de uma visão substantiva, que tem compromisso com o “mérito”.

Não é preciso ir muito longe para lembrar dos estragos que essa visão causou (e causa) para a humanidade. A tragédia da Venezuela com sua “democracia bolivariana” (tão idolatrada por essas bandas!) é apenas o exemplo mais recente.

É esse compromisso com uma visão de “mérito” que fez o professor e seu grupo descumprir a decisão de uma deliberação democrática, pois afinal, eles eram os “iluminados” e sabiam o que era o melhor para o conjunto dos docentes. Para que respeitar procedimentos quando a história está conosco, não é, professor Samuel?

Desonestidade intelectual, professor, é tomar parte do argumento como se fosse o todo. O senhor esquece que a segunda parte do texto trata justamente do grupo que descumpriu a decisão procedimental democrática de desfiliação da Apufsc ao Andes, e que este grupo só deixou de atuar por força de decisão judicial (com multa) ocorrida no ano de 2018! Isso é “tresontonte”, professor Samuel?

O colega também esquece de mencionar que a presidente deste sindicato ilegal era a atual candidata a presidente da Chapa 2. Me diga, professor, onde está a democracia nesse tipo de prática política

Novamente, democrático aqui é ter a “história ao meu lado”! Democrático, nessa visão, é a vanguarda andesiana que sabe o que é melhor para o conjunto dos docentes da UFSC! Para que respeitar os “formalismos”, que afinal de contas são nada mais nada menos que criações burguesas.

E ainda termina o texto falando em utopia e solidariedade! Tenha paciência…

*Julian Borba é professor do Departamento de Sociologia e Ciência Política da UFSC.