Na vida sindical da UFSC nada se cria, tudo se copia!

*Por Adriano Duarte

A atual gestão da Apufsc-Sindical foi acusada das maiores atrocidades: peleguismo foi, certamente, a mais doce e gentil das acusações. Fomos acusados ora de não cumprir os estatutos, ora de atuar com os estatutos embaixo do braço; acusados de evitar a política, quando contamos com o advogado nas mesas das assembleias; acusados de não respeitar a democracia sindical, quando cumpríamos a lei; acusados, pasmem, de fascistas ‒ nesse caso, o que provoca tristeza é perceber que os que nos acusam desconhecem o significado do conceito. Se não sabem o que é fascismo, certamente não sabem o que é liberalismo, nem o que é democracia… É triste, sobretudo vindo de gente que se define como “de esquerda”. Só faltou nos acusarem de comer cachorros, gatos e pets em geral. Será que faltou? Miséria dos nossos tempos!

Mas nada como um dia após o outro… E uma campanha eleitoral no final. Nessa semana, tive acesso ao programa da Chapa 2, “Mobiliza Apufsc: base, democracia e luta”. Trata-se de uma leitura desafiadora. Antes, uma observação preliminar. O grupo em torno dessa chapa foi o mesmo que, em 2009, criou um sindicato paralelo, cuja presidente, aliás, encabeça a atual Chapa 2. Já se autodenominaram Andes-UFSC, Docentes em Luta, mobilização docente, agora se chamam “Mobiliza Apufsc”.

Pois bem, em 2022, concorreram à direção do sindicato, perderam a eleição e, como costumam fazer, desapareceram. Não acompanharam nada, absolutamente nada, da Apufsc-Sindical ao longo de quase dois anos. Voltaram à luz no início da campanha salarial desse ano. Nesse momento, como parte da determinação nacionalmente orquestrada pela Andes-SN, deram início a uma série de ataques com meias-verdades, mentiras inteiras e fake news contra a Apufsc-Sindical e o Proifes-Federação, atuando com muita agressividade onde quer que o sindicato local fosse filiado ao Proifes.

Mas por que esse longo preâmbulo?

Porque ele é necessário para que se perceba a ironia: o programa da Chapa 2 é quase que totalmente inspirado na atuação da atual gestão da Apufsc-Sindical. Nos odeiam, mas se inspiram em nós? (chamem o Freud, por favor!). Assim, vejamos:

  1. Eles criticam os “Botecos da Apufsc” e propõem, no seu lugar, três alternativas: Sarau Apufsc, Cine-Apufsc e Apufsc nas Praças. Os andesianos da Chapa 2 desconhecem que a atual gestão da Apufsc-Sindical organizou, em parceria com a Secarte e a direção do teatro Carmem Fossari, em 2023, o Cineclube 757. Organizamos nesse ano dois ciclos de cinema: o Cinema e Fascismo, no primeiro semestre, e o Cinema e Direitos Humanos, no segundo. Todas as sessões foram seguidas de debate, com bom afluxo de público. Os ciclos encerram-se, infelizmente, quando foram iniciadas as obras de recuperação do teatro. Entre o primeiro e o segundo ciclo, trouxemos, de Curitiba, uma exposição de fotos e cartazes sobre a obra de Federico Fellini. Onde estavam os andesianos que não viram o Cineclube 757?
  2. Organizamos, também 2023, um longo ciclo de debates com escritores catarinenses, convidados a apresentar seus livros em rodas de conversa quinzenais, foram vários saraus, com a participação de professores, estudantes e comunidade. Onde estavam os andesianos que não viram os Saraus Literários?
  3. Antes, em novembro de 2022, um mês após a posse da atual Diretoria, e como resultado de uma avaliação política de que enfrentaríamos tempos difíceis para a reposição salarial ‒ depois de seis anos de práticas destrutivas contra a universidade pública ‒, elaboramos um plano intitulado: UFSC nas Praças. O objetivo era levar a produção da universidade para fora dos campi. Nosso pressuposto era (e ainda é) o de que a sociedade desconhece o que fazemos intramuros e que ganhar seu apoio seria fundamental para as futuras campanhas salariais. Rapidamente, percebemos que essa empreitada seria um plano muito ambicioso e que o sindicato, sozinho, não teria braços para tocá-lo. O Sintufsc não se interessou, então apresentamos o plano para a Reitoria e nos comprometemos em fornecer as tendas, o transporte de estudantes e professores e sua alimentação enquanto durasse o programa. Fizemos seis reuniões, com vários órgãos da Administração Central e com várias associações comunitárias. Não faltou empenho do sindicato. Mas o plano está, até hoje, lamentavelmente engavetado na Reitoria. Onde estavam os andesianos que não souberam do UFSC nas Praças?
  4. Além disso, eles se propõem a promover uma campanha de filiação; nós promovemos essa campanha! Indicam restaurar os espaços nos campi; nós fizemos isso! Prometem debates sobre as peculiaridades do sindicalismo docente; nós promovemos esses debates! Lembram que é preciso defender a carreira docente; ora! nós fazemos (e continuaremos fazendo) isso também! Garantem organizar debates sobre os impacto do clima; nós organizamos esses debates!
  5. Além disso, nós ainda realizamos debates sobre os impactos da Inteligência Artificial na vida docente ‒ que provavelmente eles não viram! Discutimos sobre o crescimento das células neonazistas em Santa Catarina e no Brasil, em mais de cinco mesas-redondas em Florianópolis e em outras cidades do estado, mas eles não participaram disso também! Problematizamos o voto conservador na cidade e no estado, e eles tampouco notaram a importância desse debate! Talvez por desconhecem todas essas ações, eles não as colocaram no seu programa…

Se você leu até aqui, percebeu que a Chapa 2, “Mobiliza Apufsc”, sem assumir, coloca como seus planos parte significativa das ações que a atual gestão da Apufsc-Sindical realizou e tem realizado. Ou seja, é um elogio velado à nossa gestão? O que eles perderam, talvez, possa ser atribuído a sua prática, semelhante a dos políticos tradicionais, que apenas se interessam pela vida pública e aparecem no cenário na época da eleição.

Mas é importante refletir, também, que a falta de originalidade que apresentam no seu programa talvez resida no fato de que o que a Chapa 2 pretende, na verdade, ou seja, seu único plano realmente inovador, não pode ser dito explicitamente em um programa: retornar para os braços da Andes, abrir mão da nossa Carta Sindical e voltar a ser uma simples seção sindical! O nome disso é retrocesso, e andar para trás não pode aparecer como programa de campanha.

Mas a César o que é de César, já diz a máxima.

Então faremos justiça: em um ponto específico, a proposta da Chapa 2 é, de fato, inovadora: quando se propõem a criar “cursos de formação política”. Nós, da atual gestão, organizamos seminários, ciclos de debates, mesas-redondas, mas nunca “cursos de formação política” ‒ pela simples razão de que os tais “cursos” são, nesse contexto, uma prática que inclui um direcionamento de ações que pretende levar a “consciência verdadeira” para uma massa que eles creem despolitizada, reiteradamente desinformada e obviamente despreparada do ponto de vista político. Infere-se, desse objetivo programático que, se posto em prática, professores e professoras terão acesso a uma compreensão finalmente “revelada” do que são seus próprios interesses, obscurecidos pelos muitos véus da ideologia. Compreenderão a sua cidade, o seu estado, o seu país, e, mais importante, a luta de classes, e serão todos libertados da caverna. Esse misto de arrogância, pretensão e vanguardismo nunca tivemos e nunca foi nosso objetivo, felizmente!

*Adriano Duarte é professor no Departamento de História e vice-presidente da Apufsc-Sindical