Relembrar para não repetir

*Por Julian Borba

A maioria das (os) docentes que ingressaram na UFSC nos últimos 10 anos talvez não tenham tido qualquer contato com o modelo de sindicalismo docente adotado pelo Andes, e que agora se apresenta como concorrente às eleições da Apufsc, através da nominata da Chapa 2. Vínculo esse, que aliás, é deliberadamente não mencionado nos materiais de campanha do referido grupo. Nesse sentido, considero importante fazer algumas considerações sobre o modus operandi dos andesianos e o quão nefastos o foram para o nosso sindicato. 

Você, jovem professora (o), que se encantou com os discursos engajados e emancipatórios de certas lideranças grevistas da UFSC no período recente, sabia que era prática comum nos tempos do Andes, a aprovação de paralizações e greves na universidade com votos de não mais do que uma dúzia de colegas? Veja-se, por exemplo, o relato feito pelo Professor Armando Lisboa sobre a Assembleia de 22/05/2007 em artigo publicado no Boletim da Apufsc e reproduzido no livro de Paulo Cesar Phillip (“Refundar o sindicalismo universitário”. In: A transformação da Apufsc em sindicato autônomo, 2024)1.

Sabe como os andesianos responderam a essa crítica? Defendendo o Assembleísmo, na forma de sua vanguarda docente! Em suas palavras: “A assembleia do dia 22/05 [2007] foi realizada para referendar e ressaltar as manifestações do dia 23/05 [2007], realizadas em todo o Brasil, em repúdio às reformas do governo federal, incluindo o PAC, que vai nos condenar a 10 anos sem reajustes, sem contratações, etc” (Carlos H. Soares, Bartira Grandi, Magaly Mendonça e Paulo Pinheiro Machado, “Mudanças sim, mas com respeito à nossa história”, Boletim da Apufsc, 18/06/2007)2. Ou seja, apesar de 10 participantes na Assembleia, eles eram a vanguarda esclarecida! Cabia a esses iluminados definir o destino dos mais de dois mil docentes da UFSC!

A essência do método andesiano é a ação política do tipo “vanguarda” no qual um grupo de auto identificados iluminados ou escolhidos define os caminhos e a direção que será adotada pelo movimento. Esse método apela para o basismo e para o assembleísmo, como forma de dar um verniz de radicalismo democrático ao grupo, escondendo seu caráter essencialmente autoritário. 

O fato é que havia um esgotamento desse método de ação e desde 2006 este grupo perdeu o controle da Apufsc. Vieram então as mudanças no estatuto e a desfiliação ao Andes. Todo esse processo, que foi feito a partir de deliberações com respeito à legalidade, ampla participação da comunidade docente e viabilizado pelo uso dos sistemas de votação eletrônica, enfrentou profunda resistência e o boicote dos andesianos. Nossa vanguarda não só não aceitou os resultados, o que já os coloca em outro campo que não o da democracia, mas manteve uma seção sindical ilegal do Andes UFSC, que somente foi encerrada após decisão judicial. Você, jovem professora da UFSC, sabe quem era a Presidenta da referida seção sindical? Ninguém menos que a hoje candidata a Presidente da Apufsc pela Chapa 2. Senhoras e senhores, o Andes não é para amadores!

O que está em jogo na eleição da Apufsc são dois modelos distintos sobre o sindicalismo docente. O primeiro, representado pela chapa 1, se estrutura através do formato dos sindicatos autônomos, articulados na forma da federação sindical. Nesse modelo, o estatuto adquire centralidade, com processos de tomada de decisão organizados pelo Conselho de Representantes, no qual a palavra final sobre as decisões estratégicas (adesão a uma greve, por exemplo), acontece através da participação ampliada da comunidade docente via sistema de votação eletrônica. Este é o desenho institucional que todas (os) conhecemos: com seus vícios e virtudes, é o vigente desde 2007. Já a segunda proposta é aquela de um sindicato único estruturado hierarquicamente. Nesse sistema, a Apufsc voltaria a assumir o caráter de uma seção sindical local, perdendo sua autonomia. Privilegia-se aí o assembleísmo presencial e não são permitidos os processos de votação eletrônica. É este modelo que permitia, num passado não muito distante, que não mais do que 10 docentes decidissem por uma greve. É este modelo defendido pela chapa 2. 

Está nas mãos das (os) docentes filiados à Apufsc decidir por qual modelo de sindicato querem se organizar!

  1. Disponível em https://www.apufsc.org.br/2007/06/11/refundar-o-sindicalismo-universitario/ ↩︎
  2. Disponível em https://www.apufsc.org.br/2007/06/18/mudancas-sim-mas-com-respeito-a-nossa-historia/ ↩︎

*Julian Borba é professor do Departamento de Sociologia e Ciência Política da UFSC