Sobre método e preferências

*Por Marcos Ferreira

Colegas, somos profissionais do método, desde que escolhemos ingressar na carreira acadêmica. Como profissionais do método, vivemos dias fantásticos. As últimas gerações jamais tiveram oportunidade de vivenciar e poder observar a confrontação de projetos e práticas políticas, como nós.

Nos últimos dez anos pudemos conhecer diferentes análises de conjuntura. Hoje, com tantas alterações seguidas nos rumos do país, podemos olhar para elas verificando acertos e equívocos de modo muito concreto.

Por exemplo, há míseros cinco anos, quem avaliava que o aprisionamento de Lula era o centro da conjuntura política? Quem apontava que Lula era condição sinequanon para derrotar eleitoralmente a extrema direita encastelada no Planalto?

Entre nós, por viés profissional, será preciso dar crédito e valor aos métodos que produziram essas análises que à época podiam ser consideradas corajosas ou exageradas. Mas o fato é que elas permitiram antever possibilidades realizáveis.

Três atores políticos nacionais produziram essas análises e sustentaram os encaminhamentos resultantes delas: a CUT, o MST e o PT. Vale a pena reconhecer que esses atores demonstraram capacidade de análise de caráter superior. Dito de outro modo: conseguiram demonstrar que utilizam um método de análise da conjuntura que merece respeito.   

Além disso, no último período, sempre tocou ao PT um trabalho pesado. Depois de persistir no apoio a Lula em três derrotas eleitorais, viabilizar alianças com o progressismo para realizar governos que mudaram a cara do Brasil, sustentar Dilma, acompanhar Lula na prisão, levá-lo de volta a ser candidato à presidência, construir um arco de alianças com quem até o dia anterior planejava a sua eliminação… Tudo para oferecer ao país uma saída isenta (ou quase isenta) de sangue, desse processo enraizado em fundamentalismos e truculência.

Além desse empenho, quase sempre toca ao PT carregar responsabilidades sobre problemas políticos que ele não criou. Inclusive neste momento. Mas isso poderá ser alvo de debate em outro momento.

Porque o problema é que ainda não nos livramos desse período em que vivemos tanto perigo. Importa oferecer ao projeto encarnado em Lula a sustentação para que o país consiga chegar até a outra margem do fosso em que as elites, os meios de comunicação e as forças armadas nos colocaram. E, como dizia o saudoso Ariano Suassuna, em volta do buraco, tudo é beira.

Em Santa Catarina, essa necessidade de nos empenharmos para chegar ao outro lado do fosso, ganha caráter de emergência.

Hoje, o PT encarna, mais que qualquer outra agremiação, a luta contra algo que se aproxima do fascismo. Tanto no momento em que ele está expresso nos projetos da extrema direita, quanto quando ele aparece travestido de antipetismo, como na lava jato.

Seria pouco responsável vivermos este momento como se fosse um tempo de normalidade na vida política. Um momento em que fosse aceitável manter as disputas da base alheia entre partidos no campo democrático. As eleições de 2024 precisam ser compreendidas como um capítulo no enfrentamento à extrema direita no país. 

Todos estamos tomando partido nesse enfrentamento com o quase fascismo. Na dúvida, vale a pena nos agarrarmos naquilo que mais sabemos fazer: examinar o método adotado pelos diferentes atores envolvidos e tomar decisões baseadas na análise baseada em método que demonstrou sua adequação e focado em informações enraizadas em eventos concretos. 

*Marcos Ferreira é professor aposentado do CFH da UFSC