Brasil não possui capacidade de testes suficiente para identificar doenças sexualmente transmissíveis

A falta de testagem correta, afirma pesquisadora, leva ao uso indevido de medicamentos, o que pode gerar resistência aos tratamentos

Com mais de uma década de parceria, a London School e o Departamento de Infectologia e Medicina Tropical da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (Fmusp) realizaram um evento para discutir os dados recentes de novas evidências sobre a carga de infecções sexualmente transmissíveis e a resistência aos remédios antimicrobianos. Sobre o assunto, a professora Silvia Figueiredo Costa, do Departamento de Infectologia e Medicina Tropical da Faculdade de Medicina da USP, acredita que um dos principais problemas do País é a falta de testes.

”Nós não temos, no País, uma capacidade de testagem. No momento, essa testagem fica apenas nas capitais. As cidades, por exemplo, fronteiriças ou portuárias no Brasil que precisam aumentar a testagem, exatamente porque recebem pessoas de diferentes países, deveriam testar para as infecções sexualmente transmissíveis. Os testes são importados e têm um custo elevado para o País, também no atendimento privado existe uma escassez de testes. Muitos convênios não cobrem os testes. Então não é só um problema no sistema público de saúde, mas também no privado”, explica a especialista.

De acordo com a professora, a falta de testagem correta leva ao uso indevido de medicamentos, o que pode gerar resistência aos tratamentos. “Quando o paciente tem o sintoma, ele procura o serviço de saúde e é prescrito então um antibiótico, mas um antibiótico baseado só na hipótese de qual seria aquela doença; então o paciente termina utilizando antibiótico demais ou o antibiótico incorreto, porque não tem o teste adequado. É o que nós chamamos de tratamento empírico, quando não temos o agente etiológico da doença”, afirma.

Silvia também demonstra preocupação com a testagem de mulheres grávidas, principalmente pela sífilis, pois ela pode ser transmitida da mãe para o bebê, que nascerá com a sífilis congênita. Para a pesquisadora, é necessária uma triagem maior para localizar as raízes do problema.

Educação sexual nas escolas

Outro ponto abordado é a carência de um ensino sexual de qualidade nas escolas. De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), são mais de 1 milhão de casos por dia de infecção sexualmente transmissível no mundo, mais de 400 milhões de casos por ano em uma população que vai de 15 anos até 50 anos. A professora também questiona a falta de políticas públicas e menciona a falta de campanhas anuais reforçando o sexo seguro.

A docente complementa: “A testagem é fundamental, mas a educação também, para que as pessoas procurem rapidamente o serviço de saúde; se está com algum sintoma, algum tipo de secreção no órgão genital, tem que procurar o serviço de saúde. E aí entra a questão dos adolescentes, que nós vemos um aumento até mesmo de HIV entre esse grupo aqui no Brasil, e eles precisam dessa educação nas escolas, tanto nas públicas como privadas, as campanhas que acontecem antes do Carnaval deveriam ser constantes, alertando que as pessoas devem se prevenir, usar a camisinha, quando tem algum sintoma devem procurar rapidamente o serviço de saúde e assim ter a testagem de forma mais acessível para a população”.

No evento também houve discussões de novas linhas de pesquisas, com o intuito de identificar testes que possam ser mais baratos no futuro, assim como ressaltar a importância das vacinas no combate a essas doenças. “Ainda tem muita gente suscetível que pode ter a doença no Brasil, então temos que tomar esse cuidado de pensar sempre na prevenção. A prevenção é por meio do sexo seguro, que seria usar o preservativo durante a relação sexual”, conclui.

Fonte: Jornal da USP